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Educação Física “não é caso único” na inflação de notas

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Marcos Santos / USP Imagens

Mais de metade dos alunos do 10.º ano do Externato Ribadouro teve 20 valores a Educação Física, no ano em que a disciplina voltou a contar para a média de acesso ao ensino superior. A Inspeção Geral de Educação e Ciência (IGEEC) abriu esta sexta-feira um inquérito.

Agora, Avelino Azevedo, presidente da associação, veio afirmar que a inflação de notas “não é novidade”, que acontece em várias escolas públicas e privadas e a Educação Física “não é caso único”.

De um total de 248 alunos do 10.º ano do Externato Ribadouro, no Porto, 128 tiveram 20 valores a Educação Física no final do segundo período e outros 108 conseguiram um 19. No total de nove turmas, 95% dos estudantes obtiveram nota máxima ou quase.

A situação foi descrita no blogue “Com Regras”, dedicado a temas de Educação e cuja autoria pertence a Alexandre Henriques, professor da disciplina. “Haverá obviamente alunos com mérito, mas o número tão elevado de notas máximas é bastante invulgar“, considera Avelino Azevedo.

Há outras disciplinas opcionais no Secundário que também não têm exame nacional e onde esta inflação de notas acontece. A Educação Física não é caso único. Espero é que sirva de exemplo para alertar as pessoas”, disse ao Expresso o presidente do Conselho Nacional das Associações dos Profissionais de Educação Física e Desporto (CNAPEF), Avelino Azevedo.

Outras disciplinas opcionais podem ser alvo desta mesma situação. Entre uma longa lista de disciplinas opcionais está, por exemplo, Direito, Grego, Psicologia B, Ciências Políticas ou Aplicações Informáticas.

A associação de professores enviou um comunicado onde congratula a “resposta rápida do Ministério da Educação”, que fez saber na sexta-feira que a Inspeção-Geral da Educação (IGEC) irá, através de um processo de inquérito, “investigar a situação, bem como identificar os responsáveis por eventuais ilícitos praticados”. A tutela disse ainda que, caso venham a verificar-se atos ilícitos, “agirá intransigentemente”.

Não é a primeira vez que a IGEC investiga casos de possível inflação de notas nas escolas, tendo já enviado recomendações a alguns estabelecimentos de ensino. Para Avelino Azevedo, não é suficiente.

“A IGEC tem de ir ao fundo da questão. Em nome de um sistema de ensino justo e equilibrado, tanto público como privado, há que investigar melhor e dotar a IGEC com meios para poder fazer um trabalho mais aprofundado do que simples visitas às escolas”,.

O Ministério da Educação tem analisado a tendência de inflação de notas pelas escolas. Através do indicador designado por “alinhamento”, é medida a diferença entre as notas internas e as notas de exame. Este indicador destaca os estabelecimentos de ensino que registaram os maiores desvios acima ou abaixo de uma diferença média considerada natural entre as notas internas e as de exame, e isso torna estes dados mais consistentes.

Com base neste indicador, percebe-se que o Externato Ribadouro se repete como uma das escolas que mais tem inflacionado as notas dos alunos. Entre 2012/13 e 2016/17, o colégio surge sempre entre os estabelecimentos de ensino mais benevolentes. A ele juntam-se outras 15 escolas, como o Colégio de Nossa Senhora do Rosário e o Colégio Luso-Francês, ambos no Porto.

ZAP //

16 Comments

  1. Deixemo-nos de hipocrisias e de mariquices: todas as notas estão inflacionadas. Todas, a todas disciplinas, em todos os anos, no público ou privado. Quem disser o contrário mente.

    A explicação é simples (e falo de dentro do sistema): Se na nota do professor são tidas, entre outras variáveis, as notas dos alunos e a taxa de aprovações, é normal que os professores, independentemente de estarem no quadro ou não, puxem ao máximo por aprovações, desde logo porque a progressão na carreira ou o contrato para o ano seguinte dependem dessa nota. Em suma: o vil metal a mandar.

    Naturalmente que, num tal contexto, em que os maus alunos são aprovados, os medianos passam a bonzinhos, os bonzinhos a bons, os bons a muito bons e os excelentes, mantêm-se excelentes, mas com menor esforço.

    Por outro lado, educação física não deveria contar para nota: deve um aluno ser penalizado por ser desastrado. Conheço inúmeros profissionais que são sumidades nas respectivas áreas mas que em matérias de questões práticas do quotidiano ou na destreza física, são profundamente limitados. Deve a educação física impedir um destes alunos de ingressar no ensino superior, quando,no ensino superior a actividade física não existe? Na minha opinião, não!

    Se este colégio o faz, é errado, claro que sim. Mas talvez fosse bom pensarmos acerca das razões que estão na origem de tal prática. Até porque, desde logo, é do conhecimento geral que a Educação Física sempre serviu para aumentar as notas dos alunos com maiores dificuldades, ao invés de prejudicar os “marrões”. Em suma, esta da educação física contar para a média do secundário, parece o efeito equalizador do socialismo. Vamos diminuir o hiato entre os alunos. Como? Ajudando os fracos e penalizando os excelentes. Um pouco como na vida. Vamos taxar quem? Não é os improdutivos. Vamos taxar os produtivos. Quanto mais produzires/ganhares, mais o Estado te leva!

    • Olhe que no meu tempo era o contrário. Os professores tinham orgulho em chumbar 95% da turma. Assim se aferia um grande professor: aquele que mais reprovava.

      • No meu tempo de aluno também era assim. Mas o ensino, como dizia o saudoso Medina Carreira, hoje é um embuste. E o professor que se atrever a dar notas reais arranja sarna para se coçar o resto da vida….

    • Caro Sykander,

      O que falou das notas inflacionadas tem toda a razão excepto no caso de alunos de Desporto como eu fui no secundário. Via os meus colegas de letras e afins com notas de 20, 19, 18, e nós para tirar um 15 era um problema (estou a falar da disciplina Educação física e não da disciplina Desporto). Conclusão os de letras como por exemplo a minha namorada na altura terminou com média de 19 o secundário (20 a edução fisica) e eu terminei com média de 14 (15 a educação física) e em termos de educação física ela não conseguia fazer 1/4 do que eu fazia.
      O meu professor de desporto na altura foi “proibido” (dito por ele) de dar aulas aos alunos de letras porque dava notas muito baixas e alguns até deu nota negativa porque não fazia distinção entre alunos de desporto e de outros agrupamentos e a direção da escola disse que não podia ser.

  2. Conhecem o ministro da Educação, mais conhecido por tiro-liro?
    Sucesso na educação com notas falsificadas, subida de médias e isto é história…
    Sabem quantos filhos de politicos frequentam o Ribadouro e outros mais? Deveria haver estatisticas.
    Reza a história que até nos exames as respostas estão nos quadros da sala.
    Portugal uma vergonha… Mas eu sou um grande ministro e as estatisticas provam-no.

  3. Independentemente da progressão de carreira do professor que faz inflacionar as notas. Já pensaram o que acontece se um privado der notas negativas aos filhinhos do papá. Este troca de instituição, num abrir e fechar de olhos. As centenas, os milhares, os milhões de euros que os privados arrecadam ñ podem ser desbaratados de ânimo leve.

  4. Mas não é para isso que servem os Externatos e os Colégios?!
    Se depois, por azar, vão parar mesmo ao mercado de trabalho (sem ser na empresa do paizinho), é que se vê a qualidade/notas!…

  5. Não há problema meu caro amigo! Senão for na empresa do paizinho é na empresa do amigo do paizinho! Tem é que acabar o curso nem que seja com nota final mínima.

  6. O problema de base é que uma disciplina que só deve ter relevância para cursos de desporto está a ser usada para inflacionar as notas nas instituições de ensino .
    Mais um erro nas políticas de educação que prejudica os alunos e torna o ensino num negócio que já sabemos ser .
    Se uns inflacionária outros não é daqui as injustiças. Deveria ser valorizado o saber e não o negócio .

  7. 95% com nota máxima ou próxima? E os outros 5%? Se calhar filhos de funcionários do colégio com mensalidade mais reduzida.

  8. E é só agora?
    Desde sempre que vejo os colégios da zona serem o “supermercado de notas” para os cabulões (normalmente “filhos de papá” que podem pagar) que de outra forma não poderiam exibir a licenciatura e fazer-se chamar doutores ou engenheiros nos salões da “high society” cuja porta o mesmo dinheiro lhes abre mas não lhes confere “prestigio”.

  9. Eu tinha uns míseros 14-15 a Ed fisica, enquanto meninas que nunca faziam a aula pq estavam naquela fase do mês (todas as semanas) tinham 17-18 para acompanhar as outras notas..

  10. Sou professor. Como em todas as profissões existem bons e maus profissionais. Ao contrário do que já vi escrito, em comentários anteriores, as notas mais inflacionados não melhoram a progressão do professor. Os professores (todos ) somente têm que cumprir os critérios de avaliação. Se não o fizerem são maus profissionais, sejam docentes do ensino público ou privado. Alguns vendem a sua “alma”, por uma renovação de contrato, ou para sustentar a sua família? Continuam a ser maus profissionais . A dignidade e honestidade não se vendem.

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