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Economistas Krugman e Stiglitz defendem que gregos votem “não” no referendo

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O prémio Nobel da Economia de 2008, Paul Krugman

O prémio Nobel da Economia de 2008, Paul Krugman

Os economistas Paul Krugman e Joseph Stiglitz, ambos distinguidos com o prémio Nobel, defenderam esta segunda-feira que os gregos devem votar “não” no referendo, considerando que, sem mais medidas de austeridade, podem ter esperança no futuro.

No artigo de opinião de ontem no The New York Times, Paul Krugman escreve que “a Grécia deve votar ‘não’ e o Governo grego deve estar preparado, se necessário, para sair do euro“, argumentando que é verdade que o executivo grego “estava a gastar acima das suas possibilidades no final dos anos 2000” mas que “desde então cortou repetidamente a despesa e aumentou impostos”.

“O emprego público caiu mais de 25% e as pensões (que eram de facto demasiado generosas) têm sido cortadas abruptamente. Se a isto se somarem todas as medidas de austeridade, fizeram mais do que o suficiente para eliminar o défice e passarem a ter um amplo excedente”, nota Krugman.

A explicação para que a correção não se tenha verificado na Grécia é que “a economia grega colapsou, muito devido às muitas medidas de austeridade, que afundaram as receitas” do Estado, defende o economista norte-americano, acrescentando que este colapso “esteve muito ligado ao euro, que amarrou a Grécia num colete de forças económico“.

Krugman aponta três razões para que os gregos votem “não” no referendo: “após cinco anos [de duras medidas de austeridade], a Grécia está pior do que nunca”, “o tão temido caos gerado por um Grexit [saída da Grécia da zona euro] já aconteceu”, ou seja, os bancos estão fechados e foram impostos controlos de capital e, finalmente, “ceder ao ultimato da troika iria representar o abandono final de qualquer pretensão de independência grega”.

O Nobel da Economia de 2008 deixa mesmo um apelo aos gregos: “Não se deixem levar pelos que dizem que os oficiais da troika são só tecnocratas a explicar aos gregos ignorantes o que tem de ser feito. Estes pretensos tecnocratas são, de facto, fantasistas, que desconsideraram tudo o que sabemos sobre macroeconomia e estiveram sempre errados. Isto não é sobre análise, é sobre poder – o poder dos credores para dispararem sobre a economia grega, que vai persistir enquanto a saída do euro for considerada impensável”.

Para Krugman, “é tempo de pôr fim” a esta visão de que sair do euro é impensável ou então “a Grécia vai confrontar-se com uma austeridade interminável e com uma depressão sem solução e sem fim”.

Também Joseph Stiglitz, que foi distinguido com o Prémio Nobel da Economia em 2001, assinou ontem um artigo de opinião no jornal britânico The Guardian, intitulado “Como eu votaria no referendo grego”.

Stiglitz reconhece que “nenhuma alternativa – aprovação ou rejeição dos termos da troika – vai ser fácil e ambas implicam riscos”, mas sublinha que, se ganhar o “sim”, isso vai significar “uma depressão quase sem fim”.

“Talvez um país empobrecido – que vendeu todos os seus ativos e cujos jovens brilhantes emigraram – possa finalmente conseguir um perdão da dívida. Talvez transformando-se numa economia de rendimentos médios, a Grécia possa finalmente aceder à assistência do Banco Mundial. Tudo isto pode acontecer na próxima década ou talvez na década a seguir a essa”, resume o economista ao retratar o futuro da Grécia, caso os gregos aceitem as condições que os credores internacionais estão a pedir.

Já num cenário em que os gregos votam “não” no referendo de 5 de julho, Stiglitz considera que isso “pelo menos ia abrir a possibilidade de a Grécia, com a sua forte tradição democrática, ter a oportunidade de decidir o seu destino por si”.
“Os gregos podem ganhar a oportunidade de desenhar um futuro que, ainda que não seja tão próspero como no passado, é de longe mais esperançoso do que a tortura sem consciência do presente”, reitera o economista.

A crise que opõe o Governo grego aos credores internacionais (Comissão Europeia, Fundo Monetário Internacional e Banco Central Europeu) assumiu um rumo inédito depois de o primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, ter anunciado na sexta-feira à noite a convocação de um referendo sobre o programa apresentado pelos credores para desbloquear ajuda financeira ao país.

No sábado, o Eurogrupo recusou-se a prolongar o programa de assistência financeira à Grécia que termina terça-feira, dia 30.

A Grécia, que enfrenta problemas de liquidez, arrisca-se a entrar em incumprimento, tendo de pagar até esta terça-feira à noite mais de 1,5 mil milhões de euros ao FMI – e já afirmou que não o vai fazer.

/Lusa

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