Angela Merkel tinha prometido ficar afastada das eleições legislativas deste domingo, na Alemanha, mas saiu da sombra para apoiar o seu “delfim”, o candidato da CDU, Armin Laschet, que deverá disputar a vitória com o social-democrata Olaf Scholz.
Nas vésperas das eleições de domingo, Merkel multiplicou as suas presenças na campanha eleitoral ao lado de Laschet (CDU/CSU), o governador do Estado alemão mais populado, a Renânia do Norte-Vestfália.
As sondagens não têm sido amigáveis com Laschet, mas o “delfim” de Merkel é um dos candidatos mais fortes a Chanceler.
A eleição de Laschet será uma continuidade da linha traçada por Merkel, com a aposta numa política de consensos e com foco na União Europeia.
Mas as últimas sondagens têm dado alguma vantagem ao social-democrata Olaf Scholz, o ministro das Finanças e vice-chanceler do Governo de coligação de Merkel.
O instituto de estudos de opinião Allensbach atribui a Scholz (SPD) 26% das intenções de voto, seguido de Laschet (CDU/CSU) com 25%, numa sondagem encomendada pelo diário Frankfurter Allgemeine Zeitung.
A mesma sondagem dá aos Verdes 16% das intenções de voto, aos liberais do FDP 10,5% e ao partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD) 10%.
A Esquerda obterá, de acordo com esta sondagem, 5%, que é o mínimo necessário para ter assento parlamentar no Bundestag (a Câmara Baixa do Parlamento Federal alemão).
Outra sondagem realizada por encomenda da estação privada RTL, coloca o SPD de Scholz na liderança da corrida eleitoral, com 25% das intenções de voto, à frente dos 22% do bloco CDU/CSU que tem Laschet à cabeça.
Os Verdes podem manter o terceiro lugar, com 17%, seguidos do Partido Liberal (FDP), com 12%, da formação de extrema-direita AfD, com 10%, e de A Esquerda, com 6%, segundo esta última sondagem.
O legado de Merkel
Portanto, vai ser uma eleição renhida, o que justifica o empenho especial que Merkel colocou na campanha, nos últimos dias, aparecendo em várias ações ao lado de Laschet.
O presidente da União Democrata-Cristã (CDU) encerrou mesmo a campanha ao lado da primeira Chanceler da Alemanha.
“É necessário assumir a importância de Angela Merkel para não deitar a perder o que se conseguiu em 16 anos”, apontou Laschet no seu discurso, expressando igualmente o desejo de que o presidente do partido irmão da CDU, a União Social-Cristã (CSU) da Baviera, Söder, faça parte do seu futuro Governo.
Söder também tem sido uma sombra para Laschet, depois de com ele ter disputado, sem êxito, o lugar de candidato conjunto dos dois partidos. Mas há quem continue a pensar que o bloco conservador teria tido mais força nestas eleições se Söder fosse o candidato.
Mas Merkel tem tratado de pôr de lado divergências, reforçando que “a CDU e a CSU têm sido sempre os partidos da moderação e do centro e aqueles que conseguem criar pontes quando surgem novos problemas”.
Merkel também vincou algumas das conquistas que estes dois partidos conseguiram na história recente da Alemanha, como a introdução do euro, a reunificação do país e aposta na política europeia.
A primeira mulher à frente de um partido na Alemanha, e também a primeira Chanceler do país, também teve vários desafios pela frente e foi obrigada a lidar com várias crises, culminando na actual crise pandémica. Mas a sua política de consensos beneficiou a Alemanha e a Europa.
Ao fim de 16 anos, Merkel deixa o cargo com uma Alemanha estável e próspera, mas também com vários dilemas por resolver, tanto internamente como ao nível da Europa. Caberá ao seu sucessor lidar com eles.
Para a história fica o feito de apenas Otto von Bismarck e Helmut Kohl terem estado mais tempo no poder do que Merkel. E os alemães (e até os europeus) já têm saudades da Chanceler.
ZAP // Lusa
Possivelmente mais uns degraus para baixo numa Europa já tão fragilizada com políticos de meia tigela!