Mario Draghi afirmou esta terça-feira que se o objetivo de ficar abaixo dos 2% de inflação estiver ameaçado, “estímulos adicionais serão necessários”. O presidente do BCE admitiu mesmo uma descida das taxas.
O presidente do BCE, Mario Draghi, afirmou esta terça-feira que a instituição avançará com estímulos adicionais, que podem ser decididos nas próximas semanas, nomeadamente mais compras de ativos e cortes adicionais nos juros, se a inflação não recuperar na zona euro.
“Se a crise mostrou alguma coisa, é que vamos usar toda a flexibilidade no âmbito do nosso mandato para o cumprir – e vamos fazê-lo novamente para responder a quaisquer desafios que se coloquem à estabilidade de preços no futuro”, garantiu Mario Draghi, ao discursar no Fórum do Banco Central Europeu (BCE), que decorre em Sintra.
O presidente do BCE frisou que, “na ausência de melhorias, de tal forma que o retorno sustentado da inflação rumo ao objetivo [do BCE de ficar abaixo mas próximo de 2%] esteja ameaçado, estímulos adicionais serão necessários”.
Draghi disse também que ainda existe “espaço considerável” para mais compras de ativos e acrescentou: “cortes adicionais nas taxas de juros e medidas de mitigação para conter quaisquer efeitos colaterais continuam a fazer parte das nossas ferramentas”.
No seu discurso de abertura dos trabalhos desta terça-feira do Fórum do BCE em Sintra, o presidente da instituição referiu ainda que o Conselho de Governadores do banco central decidirá “nas próximas semanas” se tomará novas medidas e adiantou que serão estudados todos os instrumentos disponíveis. “Não estamos resignados a ter uma baixa inflação”, assegurou, sublinhando que o BCE “continua comprometido” com os seus objetivos.
A sexta edição do Fórum do BCE e último com Mario Draghi na liderança começou segunda-feira, em Sintra, e decorre até quarta-feira, sob o mote dos 20 anos da zona euro. O evento reúne governadores dos bancos centrais, académicos, decisores políticos e especialistas do mercado financeiro para trocar perspetivas sobre as principais questões de política monetária.
O mandato de Draghi termina em 31 de outubro e os nomes mais referidos para lhe suceder incluem o governador do Banco de França, François Villeroy de Galhau, o membro da Comissão Executiva do BCE, Benoît Coeuré, o governador do Banco da Finlândia, Olli Rehn, e o seu antecessor Erkki Liikanen, e o presidente do Bundesbank (o banco central alemão), Jens Weidmann.
Seis meses extra de juros negativos na casa
Draghi afirmou esta teça-feira que “mais cortes nas taxas de juro e outras medidas” fazem parte do leque de instrumentos que o BCE está disposto a assumir e o mercado não hesitou em incorporar o sinal dado pelo presidente do banco central.
Segundo o Eco, os futuros das Euribor – taxas de referência para a grande maioria dos empréstimos para a casa em Portugal, que tendem a acompanhar o movimento dos juros do BCE – afundaram ainda mais, prolongando no tempo o alívio dos encargos das famílias portuguesas com a prestação do crédito.
Além disso, os futuros da Euribor a três meses – o indexante de referência para cerca de metade dos créditos à habitação existentes no nosso país – estenderam em seis meses o período em que apontam para que os juros se mantenham em terreno negativo.
Na segunda-feira, na véspera do discurso de Mario Draghi, os futuros para a Euribor a três meses assumiam que esse indexante ficasse positivo em junho de 2023. Um dia depois, e após as declarações do presidente do BCE, o mercado adiou esse cenário para o final de 2023.
Aliás, o mercado aponta que este indexante possa até tornar-se mais negativo, para assumir daqui a um ano o mínimo de -0,495%. Só a partir daí prevê uma inversão gradual do rumo dos juros para assumirem, pela primeira vez, valores positivos em dezembro de 2023, nos 0,05%.
ZAP // Lusa