Dormir para recordar: sono profundo combate Alzheimer

Por vezes encaramos o ato de dormir como uma perda de tempo, mas abraçar a sua fase mais profunda pode, de acordo com recente estudo, salvaguardar-nos de uma doença que afeta 1 em cada 9 pessoas acima dos 65 anos – Alzheimer.

O sono de ondas lentas – terceira fase do sono não REM (rapid eye movements ou, em português, movimentos oculares rápidos) e habitualmente conhecida como sono profundo – pode ajudar a abrandar a perda de memória em pacientes de Alzheimer com idade avançada, sugere estudo publicado esta quarta-feira no BMC Medicine.

Esta fase do sono pode aumentar a resistência contra a beta-amiloide, proteína frequentemente ligada à demência e presente no cérebro de pacientes de Alzheimer, doença sem cura que destrói a memória e impossibilita a execução de tarefas diárias simples.

Apresentar níveis de patologia cerebral não é, no entanto, sina que dite sintomas cognitivos ou perdas de memória, segundo a investigadora pós-doutorada do Centro da Ciência do Sono Humano da Universidade de Califórnia, Berkeley, Zsófia Zavecz.

“As pessoas devem estar cientes de que, apesar de terem um certo grau patológico, há alguns fatores ligados ao estilo de vida que ajudam a moderar e até reduzir estes efeitos. Um desses fatores é o sono, mais especificamente o sono profundo”, sublinha Zavecz.

A pesquisa da Universidade da Califórnia, Berkeley, veio comprová-lo – o efeito benéfico do sono profundo foi verificado em pacientes com altos níveis patológicos de Alzheimer.

Parte do estudo – que contou com 32 adultos saudáveis e 20 com sinais precoces de Alzheimer – registou que, quando ligados a elétrodos para monitorizar as suas ondas cerebrais enquanto dormiam, os pacientes com inícios de Alzheimer têm menos atividade de sono profundo durante o sono não REM, indicando que o seu cérebro não se consegue ‘livrar’ das proteínas tóxicas da mesma forma eficiente que os adultos saudáveis.

Adicionalmente, os participantes com Alzheimer que registaram mais atividade de sono profundo obtiveram melhores resultados em testes de memória feitos no dia seguinte.

Em indivíduos com quantidades semelhantes de depósitos beta-amiloides, aqueles com mais sono profundo registam melhorias no funcionamento da memória, o que reforça a ideia de que o sono profundo tem uma prepotente influência no fortalecimento cognitivo.

Situação interessante aconteceu quando os investigadores estudaram a relação entre o sono profundo e a perda de memória em 62 adultos de idade mais avançada.

Nesse cenário, indivíduos com níveis mais altos de beta-amiloides e com mais tempo de sono profundo obtiveram melhores resultados nos testes de memória, indicando que os efeitos do sono profundo na memória, para além de melhorarem o funcionamento da memória, sobrepõem-se aos efeitos das concentrações das proteínas tóxicas.

Em 62 adultos de idade mais avançada com condições cognitivas normais, os investigadores concluíram, inclusivamente, que o sono profundo ajuda indivíduos com altos níveis de beta-amilóides a melhorar o funcionamento da memória.

O futuro antecipa – escreve o Tech Explorist – inovadoras terapias relacionadas com o uso do sono profundo como intervenção terapêutica para aliviar as consequências devastadoras da demência provocada pela doença Alzheimer.

A boa notícia é que o sono, diz o professor de neurociência e psicologia e autor sénior da pesquisa, Matthew Walker, é um “fator modificável“.

“Seria entusiasmante se as descobertas suportassem a hipótese, porque o sono é algo que conseguimos mudar”, confessa.

Tomás Guimarães, ZAP //

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