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Metade dos doentes internados estão desnutridos e custam ao Estado 255 milhões por ano

Um estudo recente realizado em 22 hospitais do país detectou que dois em cada quatro doentes estão em risco de malnutrição, valor acima da média europeia que é de um em cada três. Muitos destes doentes têm a sua condição agravada durante o internamento.

Dados da Associação Portuguesa de Nutrição Entérica e Parentérica (APNEP), que é distinguida nesta segunda-feira com um prémio de boas práticas na área da nutrição clínica pela Medical Nutrition Internacional Industry, na Polónia, estimam que anualmente mais de 115 mil doentes em risco nutricional ou malnutridos precisam de apoio nutricional com recurso a nutrição clínica (entérica e parentérica).

Muitos destes doentes agravam o seu estado nutricional durante o internamento e quando têm alta saem sem qualquer apoio do Estado para manter a nutrição clínica em casa.

O presidente da APNEP, Aníbal Marinho, alerta para a necessidade de acompanhar estes doentes desnutridos quando têm alta hospitalar para evitar que regressem em pior estado clínico e acabem por morrer no hospital.

“Se não fizermos alguma coisa, estes doentes vão acabar por voltar ao hospital em pior estado clínico do que estavam e vai ser um círculo vicioso até que acabam por falecer nos hospitais”, refere à agência Lusa o presidente da associação.

Aníbal Marinho lamenta que haja uma preocupação em “investir em medicamentos extremamente caros” e em “intervenções espectaculares” e depois se esqueça “a base, que é dar de comer aos doentes, forçá-los a comer, dar-lhes qualidade na alimentação”.

O tratamento destes doentes “é barato”, defende, elucidando que “são produtos que custam dois, três, quatro euros e às vezes estamos a tratá-los com medicamentos extremamente caros”.

Apesar de muitas vezes até melhorarem na sua doença de base, ficam com “uma qualidade de vida péssima” porque não têm um suporte nutricional que lhes permita ter força muscular para se deslocarem, o que “não faz sentido nenhum”.

O Ministério da Saúde implementou há um mês em todos os hospitais públicos uma ferramenta para avaliar o risco nutricional dos doentes internados.

Aníbal Marinho destaca a importância desta ferramenta para combater esta “catástrofe”, porque permitirá “uma acção muito mais célere”, além de revelar a real dimensão do problema.

Os dados que existem são de um estudo feito recentemente em enfermarias de Medicina Interna de 22 hospitais que aponta que dois em cada quatro doentes estão em risco de malnutrição, quando a média europeia é de um em cada três.

Aníbal Marinho que é médico intervencionista na Unidade de Cuidados Intensivos do Hospital de Santo António, no Porto, alerta ainda para a necessidade de um sistema de referenciação para garantir o acompanhamento destes doentes quando deixam o hospital.

Mas “a referenciação é complicada” porque não há “médicos suficientes que gostem desta área, nem nutricionistas suficientes” nos hospitais e nos centros de saúde que permitam enviar de “um momento para o outro” 100 mil doentes para acompanharem, avisa.

“É quase impossível, uma tarefa gigantesca“, sublinha, alertando para a falta de nutricionistas a trabalhar nos hospitais e nos centros de saúde e para a escassa informação sobre nutrição.

Para mudar esta realidade, Aníbal Marinho defende formação para os profissionais na área da nutrição clínica e “apoio político”, admitindo, contudo, que serão necessários anos para resolver o problema.

A APNEP estima que a malnutrição custe anualmente ao Estado cerca de 255 milhões de euros, defendendo que a sua erradicação resultaria numa poupança anual superior a 166 milhões de euros.

“Por cada um euro investido nesta terapêutica nutricional o SNS poupa 1,86 euros”, elucida Aníbal Marinho.

ZAP // Lusa

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