Um novo estudo genético, realizado na tribo “dos Fore”, na Papua Nova Guiné, fez novas revelações sobre a história do Kuru – uma doença fatal, semelhante à doenças das vacas loucas, transmitida nos “banquetes fúnebres” típicos em tribos daquele país.
Acontecia até há menos de um século: várias tribos da Papua Nova Guiné comiam os seus parentes falecidos, em rituais funerários, conhecidos como “banquetes fúnebres”.
Essa forma de canibalismo culminava na ingestão de proteínas mal dobradas que se replicam, convertendo proteínas normais em prejudiciais – chamadas priões.
A ingestão desses priões podem causar uma condição neurodegenerativa fatal: o Kuru, que está relacionada com a doença de Creutzfeldt-Jakob (CJD), mais conhecida como doença das vacas loucas.
O Kuru matou milhares de pessoas no século XX na província das Terras Altas Orientais da Papua Nova Guiné, num fenómeno que as tribos atribuíam à feitiçaria.
A epidemia só começou a diminuir na década de 1950, quando a tradição foi proibída. No entanto, como explica a New Scientist o impacto do Kuru foi profundo, com uma redução significativa especialmente no número de mulheres em algumas aldeias.
Um novo estudo, publicado recentemente na American Journal of Human Genetics, analisou a tribo “Fore”, onde várias pessoas que participaram naqueles banquetes fúnebres acabram por desenvolver resistências contra o Kuru.
O estudo encontrou uma evolução da resistência à doença entre a comunidade.
Importa agora descobrir que fatores conferem resistência a doenças priónicas como a doença das vacas loucas, que causou uma epidemia grave no Reino Unido nos anos 90.
“O nosso trabalho estabelece o cenário para detetar fatores genéticos que possam ter ajudado os Fore a resistir ao Kuru. Tais genes de resistência podem indicar alvos terapêuticos”, explicou o líder da invesigação, Simon Mead, citado pela New Scientist.