Cidade tem menos de 20 habitantes. O porto de Antuérpia iria ser alargado, segundo os planos de 1965. Até 2022, nada avançou.
“A cidade Doel, por si só, é um fenómeno. Foi abandonada. Então agora é uma cidade fantasma. É uma paisagem típica de um filme pós-apocalíptico. É um daqueles sítios turísticos insólitos da Bélgica. É um pequeno fenómeno aqui da Bélgica pouco conhecido”.
Palavras de Hugo, um português que mora na Bélgica contactado pelo ZAP. E tem razão: o fenómeno também não era conhecido por cá, até que a guerra na Ucrânia passou a incluir Doel na lista de possíveis tópicos na nossa redacção.
A partir de Moscovo já se ouviram, várias vezes, declarações sobre armas nucleares. Embora Vladimir Putin e seus ajudantes continuem a recusar que estamos a caminhar para uma guerra nuclear, essa ameaça tem originado um grande aumento na procura por iodo – que poderá proteger as pessoas de um eventual envenenamento por radiação.
Na Bélgica, há pessoas “paranoicas” a correr até às farmácias para comprar iodo. E é na Bélgica que podemos visitar Doel, uma cidade que tem uma central nuclear.
Por partes. O “fenómeno” e o “abandono” estão relacionados com um anúncio do Governo flamengo: iria demolir praticamente todas as habitações em Doel por causa da expansão do porto de Antuérpia – cidade que fica do outro lado do rio Escalda.
Esses planos de expansão já foram anunciados em 1965. Três anos depois, em 1968, foi proibida a construção de casas ou outros edifícios naquela cidade.
Nessa altura, a previsão era clara: Doel vai desaparecer completamente. As pessoas venderam as suas casas, começaram a abandonar a cidade.
Os anos 80 foram mais tranquilos, a demolição deixou de ser assunto. Mas 30 anos depois, em 1995, nova mudança de ideias e a expansão do porto voltou a ser assunto, parecia que as obras iriam mesmo avançar. Casas demolidas e quase ninguém ficou a viver em Doel.
As obras nunca avançaram. Estamos em 2022 e nada foi feito.
Os Governos locais foram mudando, os planos também e os próprios moradores (alguns) foram resistindo.
Mas a evacuação aconteceu mesmo. Doel, outrora uma cidade importante e agitada na zona da Flandres Oriental, agora tem menos de 20 habitantes.
Ou seja, as pessoas foram “obrigadas” pelas autoridades locais a sair, mas as obras de expansão do porto nunca foram realizadas.
Edifícios históricos foram destruídos, as casas ficaram (algumas), numa cidade que ficou quase vazia. Daí a “cidade fantasma”, que parece uma “paisagem de um filme pós-apocalíptico”.
E era realmente um “fenómeno pouco conhecido” até que, já durante a pandemia, o protagonista de um programa televisivo dedicado a viagens “alternativas” foi forçado a fazer viagens dentro da Bélgica.
Um dos sítios que mereceram atenção nessas emissões especiais foi Doel, que assim passou a ser muito mais popular – os turistas gostam de passear por uma cidade com uma central nuclear, que quase não tem habitantes e que parece um museu ao ar livre, carregando um passado de vandalismo, pilhagem e algumas raves. A polícia tem estado mais atenta, na zona.
O anúncio político mais recente foi do ministro flamengo Matthias Diependaele: a expansão do porto de Antuérpia vai mesmo avançar – mas Doel fica.
Uma questão de troca territorial entre a Bálgica e os Paises Baixos que ainda não causou uma guerra nuclear. Em causa está a troca do polder Hedwig pelo polder Doel. Benelux, UE e amigos, mas negócios a parte . . .
https://sigmaplan.be/en/projects/hedwige-prosper-project/subprojects/doel-polder/