Divergências sobre estudo do Holocausto leva Israel a cancelar tradicionais viagens de alunos à Polónia

Israel cancelou as tradicionais viagens de estudo de alunos do ensino secundário à Polónia, alegando que o governo polaco está a tentar controlar o currículo educativo sobre o Holocausto, afirmou recentemente o ministro dos Negócios Estrangeiros israelita, Yair Lapid.

O anúncio de Lapid reacendeu tensões antigas entre os dois países sobre o tratamento dado pela Polónia aos cidadãos judeus durante o Holocausto. De acordo com o ministro, a Polónia impediu os estudantes israelitas de aprenderem sobre o papel dos polacos na colaboração com o regime nazi durante esse período.

“Querem ditar o que era permitido e o que não era permitido ensinar às crianças israelitas que vão à Polónia”, situação “com a qual não podemos concordar”, afirmou Lapid na quarta-feira durante uma conferência de imprensa, citado pela ABC News.

Como lembrou a publicação, a Polónia foi o primeiro país invadido e ocupado pelo regime de Adolf Hitler. Membros da resistência polaca e do governo no exílio avisaram o mundo sobre o extermínio em massa de judeus, com milhares de polacos a arriscarem as vidas para os ajudar.

Contudo, investigadores do Holocausto recolheram provas de aldeões polacos que assassinaram judeus em fuga e de chantagistas que se aproveitavam para obter ganhos financeiros. Seis milhões de judeus – incluindo quase todos os 3 milhões de judeus polacos -, foram mortos durante o Holocausto, cujos principais campos de extermínio situavam-se na Polónia.

Estas narrativas têm sido uma fonte de tensão entre Israel e a Polónia. Lapid referiu uma lei polaca, de 2018, que penaliza quem culpe os polacos pelos crimes da Segunda Guerra Mundial cometidos pelo regime nazi na Polónia ocupada. Na altura, Israel e Estados Unidos disseram que essa lei impedia a liberdade de expressão.

Na quarta-feira, o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros polaco, Pawel Jablonski, disse no Twitter que “a atual fórmula de viagens [de estudo] dos jovens israelitas à Polónia requer mudanças devido a problemas sistemáticos que conduzem ao reforço de falsos estereótipos, com um impacto negativo nas relações polaco-israelitas”.

Jablonski escreveu ainda que a Polónia não deseja interromper essas viagens, mas sim dar-lhes uma fórmula diferente, que melhore os laços polaco-israelitas. O Ministério da Educação de Israel anunciou o cancelamento no início desta semana, sem explicar a sua decisão.

Tradicionalmente, os jovens israelitas que frequentam o 11.º e o 12.º anos viajam para a Polónia no verão, a fim de visitar antigos campos nazis e aprender sobre o Holocausto. A viagem é considerada um marco na educação israelita e, antes da pandemia, cerca de 40 mil estudantes participavam todos os anos. Segundo o Ministério da Educação, cerca de 7.000 inscreveram-se para este verão.

ZAP //

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