“Espero que daqui a dez anos o PAN tenha oportunidade de ser Governo”, disse Inês de Sousa Real

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João Relvas / Lusa

A futura líder do PAN, Inês de Sousa Real, sucessora de André Silva e a primeira mulher líder da bancada do partido, disse esperar “que daqui a dez anos” este “tenha oportunidade de ser Governo”.

Em entrevista ao Público, questionada sobre a proposta do partido sobre enriquecimento ilícito, Inês de Sousa Real indicou que esta “visa a obrigatoriedade da declaração deste património” por não fazer “sentido que casos como a Operação Marquês, por ausência de base legal, passem completamente impunes causando justa incompreensão social”.

“O combate à corrupção tem que se adaptar a estes novos tipos de criminalidade”, referiu, acrescentando: “Temos de ir mais longe: reestruturar o sistema de justiça, revisitar o regime processual penal, olhar para a ausência de meios técnicos para a atuação dos DCIAP, acautelar que, quando os tribunais voltarem à normalidade, existe um plano de ação preparado e uma visão estratégica para saber como vão funcionar com toda a avalanche de casos sob pena de voltarmos à situação da incompreensível prescrição”.

Relativamente às prioridades do PAN para o Orçamento de Estado de 2022 (OE22), indicou a aposta no sistema judicial, o reforço da transparência e o combate à corrupção e às alterações climáticas. O modelo económico, a sustentabilidade da segurança social, a revisão dos escalões do IRS e a igualdade de género são outros dos pontos que destacou.

A jurista de formação, que entrou no Parlamento em 2019, frisou que o Montijo continuará a ser um alvo de contestação do PAN, visto que não se pode “andar a proclamar que queremos diminuir as assimetrias regionais e continuar a colocar os aeroportos junto das grandes metrópoles”.

Questionada sobre a dedução em IRS de despesas de saúde com animais, sublinhou que neste OE houve um reforço “para 10 milhões de euros” no apoio aos canis municipais e que, no próximo, “será fundamental garantir o aumento deste valor” e criar hospitais públicos veterinários”, assim como uma campanha nacional de esterilização.

Quanto a intenção de largar a imagem de partido animalista, afirmou que o “PAN não é apenas um partido animalista. As pessoas olham para o PAN e vêem um partido que amadureceu, que também é capaz de dar resposta e de estar presente noutros desafios da sociedade e que não se esgota na causa animal. Mas infelizmente continuamos a ser o único partido que defende de forma intransigente os direitos dos animais nesta AR”.

André Kosters / Lusa

O porta-voz e cabeça de lista por Lisboa do partido Pessoas-Animais-Natureza (PAN), André Silva

“Espero que daqui a dez anos o PAN tenha oportunidade de ser Governo, até porque nós temos uma agenda muito própria, mais próxima daquilo que são as grandes preocupações e os desafios do século XXI e seria muito positivo termos oportunidade de, em matéria de executivo, podermos defender as nossas bandeiras”, apontou.

Focando nos objetivos para o seu mandato em termos eleitorais, disse que é importante reforçar e consolidar a presença a nível da representação autárquica. “Neste momento, nós já temos um primeiro deputado na Assembleia Legislativa Regional dos Açores, daqui a dois anos vamos ter eleições na Madeira, e é nosso objetivo conseguir eleger aí representação. Depois vamos ter novas eleições legislativas e aquilo que será sempre o nosso desejo e a nossa ambição é consolidarmos um grupo parlamentar”, disse.

“Ultrapassar o CDS é uma boa meta. Mas ainda teremos europeias e queremos resgatar aquilo que, no fundo, é nosso: que é um lugar no Parlamento Europeu. Acreditamos que os eleitores voltarão a dar-nos essa confiança”, esclareceu.

Inês de Sousa Real considerou que a decisão de acabar com os debates quinzenais foi uma “péssima medida” e que “Rui Rio tem tido uma postura incompreensível naquilo que é o reforço da democracia”​.

Indagada se assumiria o cargo num Governo do PSD que estivesse coligado com o Chega, frisou que “essa é uma linha vermelha” para o partido. “Forças políticas anti-democráticas e que põem em causa direitos humanos não têm um lugar naquilo que possa ser uma coligação, neste caso pós-eleitoral, com o PAN”, referiu.

E continuou: “Há aqui uma linha vermelha que nos parece inultrapassável no sistema democrático e por mais que possamos respeitar a diversidade política, se hoje é de saudar termos um Parlamento mais plural, não podemos deixar de alguma forma de olhar com frustração para aquilo que é uma agenda claramente xenófoba, misógina, que põe em causa os direitos humanos e não podemos ser tolerantes com a intolerância. É evidente que num executivo com o Chega o PAN nunca estará presente”.

Taísa Pagno //

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