Detetados microplásticos no ar expirado por golfinhos

Os golfinhos roazes da Baía de Sarasota, na Florida, e da Baía de Barataria, no Louisiana, estão a exalar fibras microplásticas.

De acordo com uma nova investigação publicada na revista PLOS One, estes pequenos pedaços de plástico espalharam-se por todo o planeta — em terra, no ar e até nas nuvens.

Estima-se que só nos oceanos existam cerca de 170 triliões de pedaços de microplástico.

Em todo o mundo, a investigação revelou que as pessoas e os animais selvagens estão expostos a microplásticos principalmente através da alimentação e da bebida, mas também através da respiração.

O estudo, realizado por Leslie Hart, Professora Associada de Saúde Pública e Miranda Dziobak, Professora de Saúde Pública, da Universidade de Charleston, na Carolina do Sul, revelou que as partículas de microplástico exaladas pelos golfinhos roazes (Tursiops truncatus) têm uma composição química semelhante à das partículas identificadas nos pulmões humanos.

Segundo o Science Alert, ainda não se sabe se os golfinhos estão mais expostos a estes poluentes do que as pessoas.

Para o estudo, foram recolhidas as amostras de ar de golfinhos roazes selvagens durante avaliações de saúde de captura e libertação, realizadas em parceria com o Brookfield Zoo Chicago, Sarasota Dolphin Research Program, National Marine Mammal Foundation e Fundación Oceanogràfic.

Durante estas breves avaliações de saúde permitidas, as cientistas colocaram uma placa de Petri ou um espirómetro personalizado — um dispositivo que mede a função pulmonar — acima do espiráculo do golfinho para recolher amostras da respiração exalada pelos animais.

“Utilizando um microscópio do laboratório do nosso colega, procurámos partículas minúsculas que se assemelhassem a plástico, tais como peças com superfícies lisas, cores brilhantes ou uma forma fibrosa”, explicam.

“Uma vez que o plástico derrete quando aquecido, utilizámos uma agulha de soldar para testar se estas peças suspeitas eram de plástico. Para confirmar que eram efetivamente de plástico, o nosso colega utilizou um método especializado chamado espetroscopia Raman, que utiliza um laser para criar uma impressão digital estrutural que pode ser associada a um produto químico específico”, acrescentam.

O estudo realça a extensão da poluição por plásticos e a forma como outros seres vivos, incluindo os golfinhos, estão expostos.

Este estudo torna-se importante para a saúde humana, visto que os microplásticos inalados podem causar inflamação pulmonar, o que pode levar a problemas como danos nos tecidos, excesso de muco, pneumonia, bronquite, cicatrizes e possivelmente cancro.

Uma vez que os golfinhos e os seres humanos inalam partículas de plástico semelhantes, os golfinhos podem estar em risco de sofrer dos mesmos problemas pulmonares.

A investigação mostra também que os plásticos contêm substâncias químicas que, nos seres humanos, podem afetar a reprodução, a saúde cardiovascular e a função neurológica. Dado que que os golfinhos são mamíferos, os microplásticos podem também representar estes riscos para a sua saúde.

Como predadores de topo com uma esperança de vida de décadas, os golfinhos roazes ajudam os cientistas a compreender os impactos dos poluentes nos ecossistemas marinhos — e os riscos para a saúde das pessoas que vivem perto das costas. De referir que mais de 41% da população humana mundial vive a menos de 62 milhas (100 km) de uma costa.

Os cientistas estimam que os oceanos contêm muitos biliões de partículas de plástico, que chegam aos oceanos através de escoamento superficial, águas residuais ou sedimentação no ar. As ondas do mar podem libertar estas partículas para o ar.

O rebentamento de bolhas provocado pela energia das ondas pode libertar 100 000 toneladas métricas de microplásticos na atmosfera todos os anos. Uma vez que os golfinhos e outros mamíferos marinhos respiram à superfície da água, podem ser especialmente vulneráveis à exposição.

Onde há mais pessoas, normalmente há mais plástico. Mas para as minúsculas partículas de plástico que flutuam no ar, esta ligação nem sempre é verdadeira. Os microplásticos transportados pelo ar não se limitam às áreas densamente povoadas; também poluem as regiões subdesenvolvidas.

A investigação encontrou microplásticos na respiração de golfinhos que vivem em estuários urbanos e rurais, mas as investigadoras ainda não sabem se existem grandes diferenças nas quantidades ou tipos de partículas de plástico entre os dois habitats.

Embora ainda não se conheçam os impactos da inalação de plástico nos pulmões dos golfinhos, as pessoas podem ajudar a resolver o problema da poluição por microplásticos reduzindo a utilização de plástico e trabalhando para evitar que mais plástico polua os oceanos.

Teresa Oliveira Campos, ZAP //

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