Detetadas irregularidades em nomeações de dirigentes do Governo dos Açores

José Luís Ávila Silveira/Pedro Noronha e Costa

Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores, Horta, ilha do Faial, Açores

O Tribunal de Contas (TdC) detetou violações do Estatuto do Pessoal Dirigente da Administração Central, Regional e Local do Estado (EDP) na nomeação de dirigentes intermédios em três secretarias do Governo Regional dos Açores da coligação PSD/CDS-PP/PPM.

Os relatórios dos TdC, publicados esta quinta-feira, resultam de auditorias à nomeação de dirigentes em três secretarias do executivo açoriano: Saúde e Desporto, Agricultura e Desenvolvimento Rural e Ambiente e Alterações Climáticas.

Segundo a investigação, “alguns dos dirigentes designados em regime de substituição permaneceram no exercício daquelas funções para além do prazo de 90 dias a contar da vacatura dos lugares”, contrariando o disposto no EDP.

As três auditorias avaliaram o período entre julho de 2021 e dezembro de 2022, em que governava a região o executivo da coligação PSD/CDS-PP/PPM, que tomou posse em novembro de 2020.

O TC alega também que “as notas relativas aos currículos académicos e profissionais dos dirigentes, publicadas em anexo aos despachos de designação, nem sempre são suficientemente elucidativas quanto ao preenchimento dos requisitos legalmente exigidos para o provimento dos cargos”.

Acrescenta ainda que “os despachos de designação proferidos não incluem o conteúdo mínimo legalmente exigido, sendo também insuficientes os dados divulgados na BEP-Açores”.

Concursos não foram publicados

Na secretaria da Agricultura foram proferidos 26 despachos autorizadores da abertura de procedimentos concursais para o provimento dos cargos temporariamente exercidos em regime de substituição” (dois “não chegaram a ser abertos”), na do Ambiente 22 despachos (um “não chegou a ser aberto”) e na da Saúde 17 despachos.

Todos os procedimentos concursais, com uma exceção no Ambiente e uma na Saúde, “tiveram como desfecho a designação dos dirigentes que exerciam anteriormente os cargos em regime de substituição”.

Os avisos de abertura dos concursos para o provimento dos cargos dirigentes integrados na Direção Regional da Saúde “não chegaram a ser publicados”.

Na tutela da Agricultura, “foram pagas indemnizações a três dirigentes”, tendo sido “respeitado o limite legalmente estabelecido”.

Já no Ambiente, “foram pagas indemnizações a nove dirigentes”, mas, “em três situações, o montante pago ultrapassou o limite legalmente estabelecido, tendo sido, entretanto, desencadeados mecanismos tendentes à reposição das verbas indevidamente pagas”.

Governo justifica-se

No contraditório, as três secretarias alegam que agiram “de boa-fé”, “sem consciência da ilicitude dos factos” e convencidas de que estavam “a pautar a sua conduta em obediência à lei e ao direito”, defendendo que esta “não pode ser considerada censurável”.

Os três departamentos do executivo açoriano sublinham que os dirigentes em causa “foram designados em regime de substituição para unidades orgânicas criadas ‘ex novo’, pelo que o cargo, efetivamente, não tinha sido ocupado anteriormente”.

Acrescentam que as nomeações “foram efetuadas para assegurar o bom funcionamento dos serviços” e que “não existiu dano para o erário público”.

Quanto à permanência em exercício por mais de 90 dias após a vacatura de lugares, as secretarias lembram que a interpretação generalizada da administração pública regional, ao longo dos anos, tem sido no sentido de o prazo “considerar o início do procedimento administrativo tendente à designação de novo titular e não a publicação do anúncio de abertura do procedimento concursal”.

Os departamentos do Governo Regional justificam ainda os currículos dos nomeados, defendendo que “reuniam o perfil necessário para o exercício das funções”.

A crise política chegou também recentemente aos Açores, depois da não aprovação do Orçamento para 2024, o que levou o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, a marcar eleições antecipadas.

ZAP // Lusa

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