/

Novo estudo associa desodorizantes a mutações genéticas semelhantes às do cancro da mama

Annie Cavanagh / Wellcome Images

Células cancerígenas

Investigadores suíços apuraram que os sais de alumínio presentes nos desodorizantes anti-transpirantes provocam as mesmas mutações genéticas que são encontradas no cancro da mama, em experiências com hamsters.

A eventual influência dos desodorizantes no desenvolvimento do cancro da mama é uma dúvida que a comunidade científica discute há anos. E uma nova pesquisa publicada no International Journal of Molecular Sciences, em Setembro passado, vem acrescentar dados novos às preocupações.

Um grupo de investigadores da Universidade de Oxford e da Fundação des Grangettes, que integra a conceituada rede suíça Clinique des Grangettes, expôs as glândulas mamárias de hamsters, em experiências in vitro, aos sais de alumínio que estão presentes em muitos desodorizantes anti-transpirantes.

Os resultados demonstram que as células “assimilam o metal rapidamente”, causando uma “instabilidade genómica” e provocando “alterações importantes na estrutura física e no número de cromossomas”, aponta um comunicado da Fundação sobre a pesquisa.

A investigação permite “demonstrar que o alumínio altera o ADN das células por métodos equivalentes aos de substâncias cancerígenas reconhecidas, confirmando, assim, o seu potencial cancerígeno“, destaca o mesmo comunicado.

“Os resultados indicam que o alumínio dirige as células mamárias rumo à transformação maligna por um efeito rápido de desestabilização do genoma“, nota ainda a Fundação.

Estas conclusões devem, agora, “convencer as instâncias sanitárias a reconhecer formalmente o risco que a exposição crónica ao alumínio representa para a saúde humana”, aponta a mesma entidade, concluindo que devem “restringir” a sua utilização por parte da indústria cosmética.

“Mais de 80% dos tumores surgem perto da axila”

Os dois investigadores que lideraram a pesquisa, o biólogo Stefano Mandriota e o oncologista André-Pascal Sappino, já tinham feito associações entre o alumínio e modificações genéticas ligadas ao cancro nas suas pesquisas passadas, nomeadamente em 2012 e em 2016, em estudos laboratoriais com ratos e com células humanas.

Agora, conseguiram explicar, nesta nova pesquisa, o mecanismo através do qual o alumínio penetra nas células e associar a instabilidade genómica verificada, nesse processo, com a maioria dos tumores malignos.

Contudo, os investigadores admitem que os resultados da pesquisa não permitem estabelecer um elo causal evidente entre os desodorizantes e o cancro da mama. Para confirmar esse eventual elo seria preciso levar a cabo estudos durante vários anos, alertam.

Apesar disso, sugerem a interdição do uso de sais de alumínio na indústria cosmética, por precaução.

E Sappino destaca mesmo que “mais de 80% dos tumores [de cancro da mama] surgem na parte externa da glande, aquela que está na proximidade da axila”, conforme declarações à France Inter.

De resto, a Fundação des Grangettes salienta que esta nova pesquisa vem “traçar”, para o alumínio, “um caminho já visto antes para agentes cancerígenos comprovados, tal como o tabaco ou o amianto“, “substâncias cuja toxicidade também foi, inicialmente, sub-estimada, senão totalmente ignorada”.

O Comité Científico para a Segurança dos Consumidores (CSSC) da União Europeia publicou, em Março de 2020, um relatório que nota que os desodorizantes não apresentam riscos para a saúde dos seus utilizadores desde que contenham uma concentração de alumínio inferior a 10,6% nos sprays e a 6,25% nas outras versões. Estes níveis são superiores aos valores de concentração dos produtos habitualmente vendidos no mercado.

Susana Valente, ZAP //

Deixe o seu comentário

Your email address will not be published.