Desempregados excluídos pela Segurança Social no apoio criado durante a pandemia

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Miguel A. Lopes / Lusa

A ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, Ana Mendes Godinho

A Segurança Social está a excluir dezenas de desempregados do prolongamento do Apoio Extraordinário ao Rendimento dos Trabalhadores.

Segundo o Público, usam o argumento de que estas pessoas já esgotaram o número máximo de meses de atribuição da prestação. BE desafia Governo a corrigir situação.

Dezenas de desempregados têm visto a Segurança Social rejeitar os pedidos para beneficiarem do prolongamento do Apoio Extraordinário ao Rendimento dos Trabalhadores (AERT) por mais dois meses, com a justificação de que atingiram o número máximo de meses de atribuição.

O prolongamento do AERT até ao final de fevereiro foi aprovado pelo Governo para “garantir apoio àqueles que se viram mais afetados” pelas restrições para conter a pandemia. Mas quando requereram o apoio relativo ao mês de janeiro, dezenas de desempregados viram o seu pedido rejeitado, ficando sem qualquer rendimento.

Na prática, a Segurança Social apenas está a atribuir o prolongamento do apoio a quem não esgotou o período de atribuição (que é de seis ou de 12 meses, consoante os casos). Todos os outros casos têm visto o pedido rejeitado.

Joana Bastos, 35 anos, é uma das pessoas que viu o seu pedido indeferido. Desempregada desde 2019, beneficiou do prolongamento do subsídio de desemprego em 2020 e, em 2021, passou a estar abrangida pelo AERT.

No final do ano passado, questionou os serviços de Segurança Social sobre se seria abrangida pelo prolongamento deste apoio nos dois primeiros meses de 2021 e a resposta foi que devia candidatar-se caso se mantivesse a sua situação familiar e financeira. Assim fez.

No início de fevereiro, apresentou o requerimento e uns dias depois recebeu a informação de que o pedido foi recusado porque “atingiu o número máximo de meses de atribuição do AERT”.

“O Governo disse que ia prorrogar o AERT por mais dois meses, não disse que só iria prolongar para algumas pessoas”, lamenta a mãe de duas crianças com três e 12 anos, acrescentando que a forma como os serviços interpretaram a lei “não faz sentido!”.

“Estava a contar com o apoio para pagar a renda, a água e a luz. Não consigo encontrar trabalho”, relata ao Público, lamentando não ter pedido o Rendimento Social de Inserção.

Outra das pessoas que também viu o seu pedido recusado e que reclamou, recebeu uma resposta surpreendente da Segurança Social.

A não atribuição do apoio é justificada com o facto de o Orçamento do Estado (OE) para 2022 não ter sido aprovado. Contudo, a norma legal que prolonga o AERT está prevista no Decreto-lei 104/2021, publicado a 27 de novembro.

Esta não é a primeira vez que Joana Bastos se vê confrontada com dificuldades no acesso ao AERT.

No início do ano passado, fez parte dos milhares de pessoas que terminaram o subsídio social de desemprego no final de 2020 e que se aperceberam de que não podiam aceder ao AERT, uma situação que o Governo acabou por corrigir.

O Bloco de Esquerda (BE) tem acompanhado estes desempregados e já nesta quinta-feira, ao final do dia, entregou uma pergunta ao Governo, desafiando-o a corrigir uma situação que considera “injusta”.

Também nesta sexta-feira, a coordenadora do BE, Catarina Martins reúne-se com uma centena de pessoas que assegura estar nesta situação.

“Estes trabalhadores tinham a legítima expectativa de deferimento destes pedidos, tendo por base o anúncio feito pelo Governo e a perspetiva de que se tratava de uma verdadeira extensão do apoio até fevereiro“, lê-se na pergunta assinada pelo deputado José Soeiro.

“Apesar de o apoio ter sido prorrogado, vigora, aparentemente, a interpretação de que o tempo máximo de atribuição (seis ou 12 meses, consoante as situações) se mantém”, refere, alertando que assim “apenas tem direito ao apoio referente aos meses de janeiro e fevereiro quem não esgotou o período máximo de atribuição inicialmente previsto”.

“Significa isto que o Governo não está efetivamente a prolongar este apoio por mais dois meses, mas apenas a ampliar o período no qual este pode apoio pode ser solicitado”, conclui o deputado.

À medida que os apoios extraordinários criados no quadro da pandemia vão sendo desativados, o BE defende a necessidade de fazer uma “reformulação estrutural” dos apoios sociais, por entender que há centenas de pessoas que ficam desprotegidas.

O AERT foi criado para dar resposta, durante o ano de 2021, aos trabalhadores independentes e trabalhadores do serviço doméstico com quebras no rendimento superiores a 40%; aos trabalhadores por conta de outrem que ficaram em situação de desemprego ou cuja prestação tenha terminado; aos trabalhadores sem descontos regulares à Segurança Social ou sem acesso a outros instrumentos de apoio social; aos gerentes das micro e pequenas empresas em paragem de atividade e aos membros dos órgãos estatutários de fundações, associações ou cooperativas — se as atividades estiverem sujeitas ao dever de encerramento.

ZAP //

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4 Comments

  1. PESSOAL DO BLOCO Digam aonde teem a mina de ouro?
    35 anos. Desempregada desde 2019 ? A restauração e outros sectores queixam-se com falta de trabalhadores
    Não estará interessada ?

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