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Astrónomos encontraram algo inesperado numa estrela que não devia existir

Na astrofísica, qualquer elemento mais pesado que hidrogénio e hélio é denominado “metal” e o lítio está entre os mais leves desses metais.

Investigadores do Instituto de Astrofísica de Canarias (IAC) e da Universidade de Cambridge conseguiram detetar o lítio numa estrela “primitiva”. Esta é a estrela J0023+0307, descoberta há um ano pela mesma equipa com o Gran Telescopio Canarias (GTC) e o Herschel Telescope William (WHT) do Observatorio del Roque de los Muchachos.

Esta descoberta pode fornecer informações cruciais sobre a criação de núcleos atômicos – nucleossíntese – no Big Bang, de acordo com o comunicado publicado pelo IAC.

“Esta estrela primitiva surpreende-nos pleo seu alto teor de lítio e a sua possível relação com o lítio primordial formado no Big Bang”, observa David Aguado, um investigador associado com a Universidade de Cambridge, que é o autor principal do artigo publicado no início deste mês na revista The Astrophysical Journal Letters.

Esta estrela é semelhante ao nosso Sol, mas com um teor de metal muito mais pobre, menos de uma milésima parte da metalicidade solar. Esta composição implica que é uma estrela que se formou nos primeiros 300 milhões de anos do Universo, logo após as supernovas, marcando as fases finais das primeiras estrelas massivas na nossa galáxia.

“O teor de lítio da estrela primitiva é semelhante ao de outras estrelas pobres em metal no halo da nossa galáxia, e definem, aproximadamente, um valor constante, independente do valor do conteúdo metálico da estrela”, explica Jonay González Hernández, investigador e co-autor do artigo.

O lítio do Big Bang é um metal muito frágil que é facilmente destruído no interior das estrelas por reações nucleares a uma temperatura de 2,5 milhões de graus ou mais. Como a base da atmosfera deste tipo de estrelas pobres em metal não atinge esta temperatura, o lítio permanece nelas durante praticamente toda a sua vida.

J0023 + 0307 ainda está na “Sequência Principal”, a fase em que as estrelas permanecem durante a maior parte das suas vidas e a sua idade é quase a mesma da idade do Universo. “A estrela J0023 + 0307 mantém este conteúdo constante de lítio numa estrela com uma baixíssima metalicidade e, assim, entendemos que o lítio deve ter-se formado numa fase ainda mais precoce na evolução do Universo”, acrescenta Carlos Allende, outro investigador do IAC.

A 7500 anos-luz da Terra, a estrela encontra-se no halo da Via Láctea e na direção da constelação do Lince. A fonte de energia destas estrelas é a fusão do hidrogénio nos seus núcleos e as suas temperaturas superficiais e luminosidades são quase constantes com o passar do tempo. Outra das suas propriedades é a sua pequena massa, cerca de 0,7 vezes a massa do Sol, embora seja 400 graus mais quente.

ZAP //

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