Dados do Instituto Nacional de Estatística mostram um cenário preocupante para os últimos meses do ano.
Os próximos meses não trarão novidades a nível económico que permitam inverter a crise de matérias-primas e mercadorias que o mundo atravessa, como consequência direta do conflito na Ucrânia. No caso português, a perspetiva é de que a dependência de cereais para países terceiros se agrave ainda mais, numa altura em que a produção nacional poderá sofrer quebras na ordem dos 15%. Os dados são avançados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE).
O mesmo organismo aponta que dada a situação ucraniana, forte exportadora de cereais, países como o Canadá, o Brasil e a Polónia ganhem terreno como fornecedores de milho, um dos cereais de que Portugal mais carece.
“As previsões agrícolas, em 31 de maio, apontam para a normal instalação das culturas de primavera, numa conjuntura fortemente marcada pela seca, pela escalada dos custos com os meios de produção, pela subida dos preços dos produtos agrícolas e pela suspensão das transações comerciais com a Rússia e a Ucrânia”, explica o INE. Já especificamente sobre o milho, o organismo de estatística antecipa um aumento de 5% na área semeada, o que “terá um impacto reduzido na satisfação das necessidades de abastecimento”.
Como tal, o balanço da campanha do milho “deverá ser marginalmente positivo“, com um aumento de 5% da área semeada, atingindo-se os 78 mil hectares. Num balanço face aos últimos 36 anos, a área de plantação de milho em Portugal diminuiu 2,7% por ano, o que contribuiu para o agravamento da dependência externa.
Este fenómeno tem estado em destaque nas últimas semanas face ao aumento dos preços dos cereais, com alguns a ultrapassarem máximos históricos. De facto, no caso português, a Ucrânia representava 4% do milho importado, daí que os produtores tenham sido obrigados a procurar alternavas. Acontece que com a chegada do outono/inverno, um conjunto de fatores promete agravar o cenário nacional: o impacto da seca, uma área semeada historicamente baixa e a crescente dependência.
Esta conjuntura, marcada pela subida dos preços dos produtos agrícolas, também tem levado a que as campanhas sejam apenas “marginalmente positivas” ou até negativas – como deverá acontecer com as batatas.