Depardieu condenado por agressão sexual. Ator está em Portugal

CHRISTOPHE PETIT TESSON/EPA

O ator francês Gerard Depardieu no Tribunal de Paris.

Ícone do cinema francês foi considerado culpado e condenado a 18 meses de prisão com pena suspensa por agressão sexual contra duas mulheres.

O ícone do grande ecrã Gerard Depardieu foi condenado na manhã desta terça-feira por agredir sexualmente contra duas mulheres nas filmagens de um filme, em 2021.

O ator, de 76 anos, que não esteve presente em tribunal para ouvir a própria sentença, foi condenado a uma pena de 18 meses de prisão com pena suspensa, num dos casos mais mediáticos do movimento #MeToo.

Quando se soube da sentença, o paradeiro do ator não era conhecido, mas o ator foi visto no sábado em São Miguel, nos Açores, a almoçar, pela revista Nova Gente.

Segundo o jornal francês Le Monde, Depardieu encontra-se em Portugal pelo menos desde o mês passado, a trabalhar num novo projeto cinematográfico, “Ela Olhava Sem Nada Ver”, dirigido pela colega e amiga íntima Fanny Ardant, que já se pronunciou em sua defesa.

Depardieu irá recorrer da condenação desta terça-feira, confirmou o advogado do ator, Jérémie Assous.

Abusos “intencionais” contra duas mulheres

Depardieu agrediu sexualmente as duas mulheres no set de filmagens do filme Les Volets Verts, em 2021, decidiu o Tribunal de Paris.

O ator negou até hoje as acusações que enfrentava, com uma postura de defesa agressiva através da qual o seu advogado chamou “mentirosas” e “histéricas” às vítimas e acusou-as de promover um estilo de “feminismo raivoso”. No entanto, o juiz Thierry Donard não ficou convencido com as explicações do ator.

A condenação segue uma recomendação feita em março pelo procurador Laurent Guy, que descreveu os abusos como “intencionais“, explica o Le Monde. Guy pediu também que o famoso ator fosse submetido a tratamento psicológico e fosse incluído no registo de agressores sexuais de França.

“Agarrei-a pela anca”

A acusação dizia que Depardieu agrediu sexualmente Amelie K e outra mulher não identificada durante e fora das filmagens, de 54 e 34 anos.

No caso de Amelie K, Depardieu foi acusado de a apalpar, de a puxar para si, de a prender com as pernas e de lhe tocar de forma imprópria enquanto proferia comentários vulgares. Três pessoas terão visto tudo; a outra mulher garante que também foi apalpada pelo ator, tanto no cenário do filme, como em espaços públicos.

No primeiro dia do julgamento, em março, o ator admitiu em tribunal que “agarrou pelas ancas” Amelie K, algo que nunca tinha dito antes à polícia. Mas procurou justificar a ação, que não considera agressão sexual.

“Agarrei-a na anca para não escorregar porque estava muito aborrecido com ela, com o calor. Era uma sexta-feira no final das filmagens, estava muito cansado”.

“Não vejo porque é que eu apalparia uma mulher”, referiu, defendendo-se com o facto de estar… demasiado gordo, dizendo que o seu peso, na altura, teria tornado alguns dos alegados atos fisicamente impossíveis, incluindo o de prender a mulher entre as suas pernas.

Depardieu também abordou as alegações de que fez comentários obscenos. Disse que o que disse não foi nada de pessoal, mas sim ligado ao desempenho profissional de Amelie K.

Ator enfrenta outra acusação por violação

Este caso não é o único problema legal que o ator enfrenta.

Depardieu, que trabalhou com realizadores de renome como François Truffaut, Jean-Luc Godard e Bernardo Bertolucci, também está a ser acusado num caso separado de violação que envolve a atriz Charlotte Arnould, de 29 anos. Os procuradores pediram que o ator também seja julgado nesse caso.

Até lá, a decisão desta terça-feira pode ser vista como um momento-chave no julgamento do abuso de poder e da violência sexual na indústria do cinema, sendo este o caso mais importante do movimento #MeToo em França.

Brigitte Bardot “ressuscita” para defender ator

A icónica Brigitte Bardot foi uma das que saiu em defesa do ator que fez de Cyrano de Bergerac e Obélix, pouco antes da sua condenação esta terça-feira. A atriz, hoje com 90 anos, não representa há mais de 50 anos, mas reapareceu em público para dizer que “o feminismo não é a minha praia” e que “gosta de homens”, em entrevista à BFMTV.

“Acredito que, depois do que aconteceu com eles [referindo-se também a Nicolas Bedos, condenado a um ano de prisão, com seis meses com pena suspensa, por agressão sexual a duas mulheres em 2023], não vão encontrar muito trabalho”, lamentou.

Tomás Guimarães, ZAP //

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