Debate com todos na TV: o artista Montenegro, a balbúrdia e as duas modas da direita

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António Cotrim / Lusa

Legislativas2025: Debate televisivo com os candidatos com assento parlamentar

Contas diferentes sobre os mesmos números da economia, um Rui Rocha “inacreditável” e o “pacto de paciência” sobre habitação.

Os líderes dos partidos parlamentares reiteraram neste domingo as suas críticas ao caso da Spinumviva, empresa fundada pelo líder do PSD, Luís Montenegro, com o Chega a garantir que a defender uma comissão parlamentar de inquérito se não forem dadas explicações.

No debate na RTP com a presença dos líderes dos oito partidos com assento parlamentar, André Ventura, presidente do Chega, defendeu a existência de uma comissão parlamentar de inquérito (CPI) enquanto “não houver esclarecimentos por parte de Luís Montenegro”.

Questionado sobre o tema, Luís Montenegro garantiu ter cumprido sempre as suas “obrigações declarativas” e disponível para responder a todos os esclarecimentos solicitados.

“Eu fiz tudo de boa fé nos parâmetros da lei e comportamento ético”, resumiu o primeiro-ministro em gestão, sublinhando não ser acusado de qualquer ilegalidade. Em réplica, já depois das considerações de todos os partidos, Luís Montenegro sublinhou que “o objetivo não é o esclarecimento, o objetivo é a luta política pura e dura”.

“Eu estou disponível para o escrutínio e para as explicações. O que não é justo é fazerem ofensas à minha honra, à minha honestidade de forma gratuita”, acrescentou.

Para o secretário-geral do PS, Pedro Nuno Santos, Montenegro “fez mesmo tudo para que aquela informação não fosse conhecida durante as eleições” numa referência ao pedido da Entidade para a Transparência de uma nova declaração de interesses designadamente para revelar clientes da Spinumviva, empresa fundada pelo social-democrata e que passou recentemente para os seus filhos.

O socialista argumentou ainda que Montenegro “não tem credibilidade, nem idoneidade para a função de primeiro-ministro”.

Rui Rocha, da Iniciativa Liberal, quis colocar a tónica no facto de o seu partido, embora crítico, ter colocado o “interesse dos portugueses em primeiro lugar”, antecipando que os restantes não iriam estar à altura das circunstâncias.

O tema foi comentado por todos os partidos, com Mariana Mortágua, do Bloco de Esquerda, e com Rui Tavares, do Livre, a defender que Luís Montenegro não esclareceu devidamente os portugueses quando o assunto foi tornado público. “Ouvi as explicações e votei contra a moção de censura. Eu senti-me enganado, porque [Luís Montenegro] nos ocultou informação”, disse Rui Tavares.

Já para Mariana Mortágua, o líder da AD “arrasta o país para a ideia de mediocridade que é a normalização da promiscuidade entre o setor privado e público”. “Luís Montenegro é vítima apenas das suas escolhas e da falta de noção que implica ser primeiro-ministro. Eu sou insuspeita, porque acreditei nessa versão que foi contada na Assembleia da República e depois percebemos que não foi nada disso”, acrescentou.

Paulo Raimundo, pela CDU, defendeu que Luís Montenegro deveria ter apresentado a sua demissão assim que o caso da Spinumviva ficou conhecido, assumindo que “era um grande contributo que tinha dado à democracia”.

Para terminar o assunto da Spinumviva, Inês Sousa Real, do PAN, disse que Luís Montenegro “é um grande artista, porque conseguiu transformar um problema pessoal num problema para o país”.

Imigração

O segundo tema “quente” foi o envio de notificações a milhares de imigrantes para deixarem Portugal.

Pedro Nuno reforça que “a lei é para cumprir” mas lembra que estas notificações não são “nenhuma novidade” em relação ao que o PS fez nos anos anteriores. A novidade é a “forma propagandista” como a AD aproveita o “trabalho normal e natural” da AIMA – e voltou a comparar o processo em Portugal com o processo nos EUA, liderado por Donald Trump.

Mas Montenegro, além de recusar a ideia de “trumpização”, considera que o PS é que deixou os processos de imigrantes numa “situação de balbúrdia efetiva”. “O PS não sabia quem é que estava efetivamente no país, quem é que estava a cumprir o seu desejo de legalizar a sua situação e o que é que estava a fazer”, atirou o líder da AD, que avisou que ainda não se sabe onde estão 177 mil imigrantes.

Ventura voltou a falar em “bandalheira”, dizendo que PSD e PS têm culpa no processo. Mortágua aproveitou o assunto para falar sobre as “duas modas da direita: vitimização e atacar imigrantes”.

Já Rui Rocha desvalorizou o momento do anúncio destas notificações, dizendo que o eleitoralismo “faz parte” – Pedro Nuno dizia “inacreditável” ao seu lado, em simultâneo, enquanto Ventura falava em “muleta”. Raimundo falou em “ação de campanha eleitoral do Governo”.

Rui Tavares disse diretamente a Montenegro: “Não nos tome por parvos, nem tome as pessoas lá em casa por parvas” – lembrou que os imigrantes ilegais são 0,2%; e os outros 99,8% de imigrantes?

Inês de Sousa Real sublinhou que há pessoas que cometeram crimes e “têm de responder à lei”, mas há outros imigrantes que contribuem “com coisas positivas” para o país – mais de 3 mil milhões de euros para a Segurança Social. E vai haver expulsão nos casos de violência doméstica?

Habitação

Terceiro assunto: habitação. Novamente Pedro Nuno Santos – que foi ministro com esta pasta – criticou a “aceleração dos preços do setor imobiliário”, lamentando que agora há mais jovens sem conseguir comprar casa. E, repetiu, o seu trabalho no Governo foi essencial nas casas entregues pelo Governo atual. O líder do PS acha que deve haver dinheiro do Orçamento do Estado no financiamento das casas novas.

Luís Montenegro desmente a ideia do adversário sobre os jovens: com a isenção no IMT, no Imposto de Selo e a garantia pública, houve ajuda aos jovens. E acusou o PS de estar com uma “postura incoerente” neste debate: Pedro Nuno Santos está “a ficar alterado” e “particularmente nervoso” nesta discussão.

Também virada para o PS, Mariana Mortágua acha que os socialistas desistiram da habitação; mas também critica a AD, que “fez subir o preço das casas”. Quem espera por casa tem de ter um “pacto da paciência”.

André Ventura diz que Pedro Nuno Santos é o grande responsável pela crise na habitação. Defende mais incentivos aos proprietários para o arrendamento e baixar os rendimentos prediais. E voltou aos imigrantes: “Há imigração a mais e não há casas para toda a gente“; há casas distribuídas “por quem não quer fazer nada”, como a ciganos, alegou.

Para Rui Rocha, as nacionalizações e os te tos às rendas são uma “frente popular da bancarrota”. Concorda com as críticas de AD e de PS – porque, considera, ambos são responsáveis pelos preços atuais. Reforçou que é preciso mexer do lado da oferta.

Saúde

O Governo atual, quando tomou posse, deparou-se com um cenário “calamitoso”, segundo Montenegro. “Evidentemente que não está tudo resolvido”, mas o SNS está melhor do que há um ano, assegurou. “Temos um foco: a pessoa” – e não há qualquer problema ideológico entre os setores privado e particular.

Rui Rocha acha que os mais desprotegidos são os que ficam sem acesso aos privados. Repetiu que deve haver liberdade de escolha no acesso à saúde e um sistema concorrencial. É “inadmissível” que as grávidas encontrem portas sucessivamente fechadas, apontou.

Rui Tavares recusa o cenário de privatização do SNS: “Há uma competição feroz dos privados com SNS” – e acha que deve haver um programa “Regressar Saúde”, com profissionais de saúde a voltarem a Portugal (com ajuda nas medidas fiscais ou no alojamento).

Paulo Raimundo concorda com Luís Montenegro: o foco são as pessoas. Mas avisou que metade dos 16 mil milhões de euros do Orçamento do Estado para o SNS “paga a outros para fazer parte das incumbências” – e acha que o SNS tem capacidade de fazer pelo menos parte dessas tarefas que transfere. “O problema do SNS é a falta de recursos humanos”, destacou.

O maior falhanço do Governo atual foi na saúde, segundo André Ventura. Urgências fechadas e ligar antes de ir às urgências: “Isto cabe na cabeça de alguém? É ridículo!”.

Para Mariana Mortágua, os prestadores de saúde e uma enorme dependência das horas extraordinárias são problemas centrais. “Qualquer modelo vai precisar de investimento”, avisou, salientando que os privados também têm de ser pagos.

Já Inês de Sousa Real também defendeu mais investimento no SNS e com gestão pública otimizada. Além do SNS para animais, quer uma “forte aposta” na saúde de prevenção.

Economia

A fechar, Luís Montenegro destacou que a economia portuguesa cresceu 1,6% no primeiro trimestre deste ano, comparando com o primeiro trimestre de 2024: “Estamos num bom momento da economia portuguesa. Temos estabilidade económica, temos estabilidade financeira”. A AD quer investir mais nas empresas.

O PS tem outra visão: Pedro Nuno Santos vê a economia portuguesa “com preocupação”. “Esta é outra área em que Luís Montenegro falhou: prometeu crescimento económico e a economia recuou 0,5%” – em relação ao trimestre do ano passado. O programa da AD é uma “fantasia”, descreveu.

Uma descrição que o presidente do Chega repetiu. André Ventura acha que a sua proposta para o cenário macroeconómico é “muito mais próximo do Conselho de Finanças Públicas do que a do PS ou a do PSD”.

Mariana Mortágua (BE) focou-se nos salários baixos e na massificação do turismo. Rui Rocha (IL) defende uma aceleração na economia portuguesa porque a próxima legislatura “tem de ser a legislatura do crescimento económico” – sobretudo para os jovens.

A CDU quer “coragem para responder às necessidades”; Paulo Raimundo olha para Portugal como um país com “baixos salários e precariedade” – defendendo o aumento de salários e pensões e uma distribuição mais eficaz da riqueza.

Pelo Livre, Rui Tavares diz que há dois caminhos: “dinheiro fácil” – imobiliário de luxo ou turismo de massas – ou “verdadeiro enriquecimento” – que passa por “cuidar daquilo que é nosso” e “valorizar a força de trabalho”.

Para o PAN, é essencial “proteger o emprego” e apostar na “economia verde”. Inês de Sousa Real atacou a AD, que “cortou mais de 700 milhões de euros no combate às alterações climáticas”; só há justiça social com justiça ambiental, defendeu.

ZAP // Lusa

7 Comments

  1. Mas estes anormais, pretendentes a serem primeiros ministros, têm alguma ideia válida para este país?
    Passam o tempo em ataques pessoais entre eles mas não se vislumbra uma única ideia válida para este pobre país!!!
    Valerá a pena votar nesta gente?
    Duvido…

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  2. Incrível, como se pega nas declarações do “maior” partido no debate, o PAN, para intitular a noticia. De facto o maior adversário da AD é mesmo a CS.

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  3. Infelizmente estes debates nunca serviram para esclarecer o país até o moderador se envolve nas questiúnculas entre os partidos e não consegue fazer as perguntas claras e objetivas. Entretanto, há uma situação que vai sair caro, nestas eleições, a LM, que foi o facto de não ter cumprimentado AV.

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