Em dia de debate para os pequenos partidos, a probabilidade de haver uma nova adição ao parlamento é pequena

António Cotrim / Lusa

Vários especialistas consideram difícil que os partidos sem assento parlamentar consigam uma surpresa na noite eleitoral, depois de ter havido três novas entradas na Assembleia da República em 2019.

Uma das maiores conclusões das eleições legislativas de 2019 foi a vontade dos portugueses de apostarem em partidos pequenos que ainda não tinham assento no parlamento, como o Livre, a Iniciativa Liberal e o Chega.

Chegou-se assim a um número recorde de 10 partidos com representação parlamentar, mas é pouco provável que qualquer um dos 11 partidos que vai hoje debater para tentar assegurar a eleição de um deputado consiga o mesmo feito, segundo revela a politóloga Paula do Espírito Santo ao Expresso.

“A acontecer teriam de se evidenciar de forma disruptiva, fosse pela personificação das lideranças ou pela força e novidade das mensagens. O palco atual de pandemia não ajuda também à plasticidade das mensagens”, afirma.

Já André Avezedo Lopes, professor do Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica (IEP-UCP), partilha da mesma opinião e acha que quanto mais crescerem a IL, o Chega e o Livre, “mais difícil” a entrada de novos partidos na Assembleia da República, visto que o espectro político está quase totalmente representado.

“Não sendo impossível, será muito improvável e difícil de acontecer. Teria que ser um partido que apresentasse algum distintivo em relação a cinco partidos à esquerda  e quatro à direita. O que não estou a ver”, defende André Azevedo Alves,

O perito lembra o caso do Aliança, que em 2019 estava mais bem posicionado para eleger um deputado ainda na ressaca da saída de Santana Lopes, uma “figura política relevante e mediática”, do PSD. Agora, com o crescimento de alternativas à direita com a IL ou o Chega, será “quase impossível” o Aliança eleger um deputado.

António Costa Pinto, politólogo Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (ICS-ULisboa) lembra que a principal novidade da fragmentação partidária de 2019 foi que esta aconteceu na direita, que historicamente era apenas representada pelo PSD e pelo CDS.

“E aqui há que recordar, em primeiro lugar, que as eleições de 2019 apresentaram um PS como um partido, à partida, vencedor e o PSD com o líder de difícil afirmação sistematicamente desafiado internamente”, recorda Costa Pinto, que acredita que a conjuntura “favoreceu partidos como a IL e Chega”.

Tanto António Costa Pinto como André Azevedo Lopes apostam que só o Livre deve conseguir reeleger um deputado, depois de ter perdido a representação parlamentar que conseguiu em 2019 com a saída de Joacine Katar Moreira do partido.

A maior exposição nos debates televisivos com os partidos maiores e as boas prestações de Rui Tavares podem ser argumentos a favor do Livre, assim como a captação de possíveis eleitores do Bloco de Esquerda que estejam descontentes com a posição mais crítica do partido em relação ao PS.

Mesmo assim, Costa Pinto sublinha que “o Livre, tal como o CDS, luta pela sua sobrevivência” e que os votos que podem ser roubados ao BE “são muito poucos”.

Paula do Espírito Santo já não é tão optimista quando às possibilidades de eleição do partido de Rui Tavares, já que não há factores de “novidade”, “diferença e originalidade política da mensagem” que ajudaram à eleição de Joacine Katar Moreira em 2019. As sondagens também podem não ser muito fiáveis “dada a fraca dimensão” e a “pouca dispersão e heterogeneidade do potencial eleitorado” do Livre.

Adriana Peixoto, ZAP //

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