No debate deste domingo, não houve tema em que Rui Rio e Catarina Martins estivessem de acordo. Os líderes do PSD e do BE aproveitaram todos os temas para mostrar as diferenças que separam os programas dos partidos.
Rui Rio e Catarina Martins começaram o debate deste domingo, transmitido na TVI, com o pé direito. Unânimes, ambos os líderes começaram por admitir que há “diferenças muito grandes” a separar o PSD e o Bloco de Esquerda. Apesar de terem o mesmo objetivo – tirar a eventual maioria absoluta do PS – não se entendem no resto.
“Temos modelos de sociedade completamente diferentes, por isso é que este modelo de debate nem é fácil”, disse o líder social-democrata no arranque do frente-a-frente.
Logo de seguida, a líder do Bloco de Esquerda desafiou o seu adversário a explicar porque é que o principal objetivo do PSD é impedir o BE de influenciar a governação, “estando disposto a perder eleições para apoiar António Costa contra a esquerda”.
“O que Catarina Martins diz é verdade: o nosso papel passa por tirar o Bloco de Esquerda e o PCP da esfera do poder, tal como o papel do Bloco de Esquerda foi tirar o PSD e o CDS da esfera do poder, por isso nesse aspeto estamos quites”, respondeu Rio, esclarecendo, no entanto, que se o seu objetivo fosse perder eleições, mais valia estar internado “no Júlio de Matos”.
A conversa acabou por pender para o PS, com Rio a declarar que “não faz sentido nenhum” falar numa maioria absoluta do partido de António Costa, até porque “não vai acontecer”. Aliás, o PSD também não vai afundar tanto quanto indicam as sondagens, “mais ou menos manipuladas”.
Os fantasmas da troika e do PREC
Catarina Martins não perdeu a oportunidade de tentar colar Rui Rio ao passado recente do Governo da direita que, nas palavras da bloquista, quiseram “empobrecer o país” durante o período de intervenção da troika.
Pegando numa frase do programa eleitoral do PSD, na página 13 – “pagámos caro a promiscuidade entre decisores políticos e elites financeiras” -, Catarina Martins atacou com números para evidenciar a contradição dos sociais-democratas. “Quando vemos as empresas privatizadas pelo anterior Governo e vemos o número de ex-governantes do PSD e do PS, vemos como as privatizações foram lesivas para o Estado: 18 ex-ministros do PSD e PS na EDP, 13 no BES, 17 no BCP e, no BNP, 8 do PSD e 3 do PS”, disse.
Para a líder do Bloco, o Governo de Passos Coelho foi “mestre” em privatizar empresas estratégicas por “tuta-e-meia”, e não foi porque “tinha se ser”, mas sim porque “quiseram”.
Por esse motivo, a proposta do Bloco de Esquerda é diferente: nacionalizar parte destas empresas estratégicas – a EDP, os CTT ou a REN. Catarina Martins garantiu que o controlo público dos CTT não custa para lá de “100 milhões de euros” e que ter o controlo de parte da REN, “que neste momento é controlada pelo Estado chinês”, não custaria mais do que 50 milhões. Estes números não chegam a “um quinto do que damos todos os anos à Lone Star pelo fundo de resolução do BES”.
Para Rui Rio, as declarações da líder bloquista nada mais foram do que recuar até ao PREC de 1975. E explicou: o Governo PSD e CDS só privatizou as empresas porque “perdemos os anéis porque nos endividámos em excesso”, e, se as nacionalizações que o BE propõe avançassem, “aí deixávamos de dizer que o Governo de Sócrates nos atirou para a bancarrota e passávamos a dizer que o Governo de Catarina Martins nos atirou para a bancarrota”.
“O dinheiro que está a ser dado aos bancos estava nos Orçamentos do Estado do PS que o BE aprovou”, atirou ainda o presidente do PSD, dando o mote para Catarina Martins contrapor com o fundo de resolução do Novo Banco, que “foi aprovado com a abstenção do PSD e não com o voto do Bloco”.
No SNS, os líderes encalham nas PPP
O Serviço Nacional de Saúde (SNS) é outro calcanhar de Aquiles na relação entre o PSD e o Bloco. Enquanto que Rui Rio defende que a gestão privada não deve ser proibida, Catarina Martins diz que isso só serve para aumentar a “promiscuidade e alimentar grupos privados de saúde”.
“O que é que quer entregar aos privados? O Tribunal de Contas já disse claramente que não há nenhuma vantagem nos modelos de gestão privada. Tem sido uma ideia ruinosa para o SNS”, justificou a bloquista, que não contou com o entendimento do PSD.
“Se um dado hospital conseguir fazer mais e melhor com a mesma verba, eu vou dizer que não? O SNS não cumpre a Constituição, porque não há acesso para todos” aos cuidados da Saúde. “Quem está doente quer é ser bem servido”, defendeu Rui Rio, realçando ser indiferente se é por um hospital de gestão pública ou privada.
A frase de “sinceridade” de Rui Rio
Nos minutos finais do debate, moderado pelo jornalista Pedro Pinto, Catarina Martins disse não ter gostado de ouvir Rio dizer que não se entusiasma pela função de deputado porque “quem se candidata tem de respeitar quem o elege, e se não gosta não se devia ter candidatado”.
Rui Rio deixou o “politicamente correto” de lado, e abraçou-se à sinceridade: mais do que voltar ao Parlamento, o que o motivou a concorrer a líder do PSD foi disputar eleições legislativas, ganhar e ser indicado pelo partido para primeiro-ministro, respondeu. Se não fosse para isso, não tinha voltado.
O problema é que “as pessoas não estão habituadas a que uma pessoa seja sincera”.
Questionado sobre o facto de estar há dias sem fazer campanha, preparando-se apenas para os debates políticos, o líder do PSD disse não ter ouvido essa crítica. “Eu também não posso ouvir as críticas, porque são tantas, tanto dentro do meu partido como fora dele, que não posso ouvir todas”, rematou.
O Rui Rio devia ter mais cuidado com os exemplos que cita – claramente não conhece nada sobre o Hospital de Braga nem as polémicas associadas à “magnifica” gestão privada:
“Hospital de Braga multado em mais de um milhão de euros”
rtp.pt/noticias/pais/hospital-de-braga-multado-em-mais-de-um-milhao-de-euros_v477254
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“Hospital de S. João apresenta queixa contra hospital de Braga por transferência indevida de doentes”
publico.pt/2011/03/02/sociedade/noticia/hospital-de-s-joao-apresenta-queixa-contra-hospital-de-braga-por-transferencia-indevida-de-doentes-1482921
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“ARS aplica quarta multa ao Hospital de Braga”
publico.pt/2011/09/13/sociedade/noticia/ars-aplica-quarta-multa-ao-hospital-de-braga-1511705
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“Ordem dos Enfermeiros denuncia “indignidade” nas urgências do Hospital de Braga”
tvi24.iol.pt/sociedade/22-08-2019/ordem-dos-enfermeiros-denuncia-indignidade-nas-urgencias-do-hospital-de-braga
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“Trabalhar no Novo Hospital de Braga”
porquedeixeideserenfermeiro.blogspot.com/2011/09/trabalhar-no-novo-hospital-de-braga.html
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etc, etc…
O Rio é tão ou mais tretas que o Costa. O país está entregue à bicharada. Nestas eleições não há um único candidato digno desse nome. Nem um
“O Costa é tretas”? O País está entregue à bicharada? E com o anterior Governo? O País era melhor governadao? FORÇA COSTA… “O POVO É SERENO e QUEM MAIS ORDENA”!
Não digo que Rio “é tão ou mais tretas que o Costa”, mas que está mal preparado e muito mal informado, lá isso está!!
Também é preciso ser muito ingénuo para achar que uma empresa privada cujo lucro é o objectivo principal, faz mais e melhor com menos!…
Parece ter ido por água abaixo, a esperança de encontrar em Rui Rio um opositor firme, esclarecido e fortemente disposto a liderar a segunda força política do país.
Por uma questão de feitio, personalidade ou timidez, Rio não conseguiu afirmar-se em coisa nenhuma. Nem como líder do partido, nem como opositor ao governo.
E é pena, porque apesar de tantos e tão perfeitos argumentos de Costa, os grandes problemas que têm que ver com o bem estar dos portugueses, como a saúde, a educação e a justiça, continuam por resolver e é quase certo que tudo irá continuar na mesma.
Resta evitar, ou tentar evitar que o PS não aumente a sua vantagem.
Quanto ao BE e PCP, o que pensar de partidos que anuíram aos pagamentos sistemáticos à banca?
É preciso uma enorme mudança nas três grandes áreas atrás referidas, porque elas prejudicam e lesam gravemente os direitos do povo. Infelizmente, tudo parece indicar que tudo ficará na mesma, depois do dia 6 de Outubro.
O mais grave de tudo isto é que os portugueses de um modo geral concluem que este Costa é fraco, dissimulado e tem um passado às costas no mínimo questionável. Fez parte de um governo de ladrões que deixou o país com uma mão à frente e outra atrás. E a questão que se coloca é: não viu, não quis ver ou também beneficiou? O tempo seguramente o dirá.
No entanto não há qualquer alternativa séria. O Rio seria a única hipótese mas o seu discurso é muito tacanho, de bairro, e parece mais um comunista que um social democrata. Logo é certo que o Costa ganhará. Mas os portugueses também sabem que este governo deixou o país com uma dívida maior do que quando entrou em funções. E nos últimos 4 anos ficámos aquém do crescimento económico de todos os países europeus do nosso campeonato. Paralelamente cobrou o maior nível de impostos desde que há registos. Mas se o dinheiro não foi para amortizar dívida então seria de supor que teria ido para investimento público. Mas também não. O nível de investimento público nestes 4 anos foi inferior ao do governo psd/cds (em plena corda na garganta imposta pela troika). Logo seria bom que este governo explicasse muito bem para onde foi o dinheiro. Não queremos acreditar que lhe tenham dado o mesmo uso que o anterior governo do 44.