Mas qual “dia de festa”? Ambiente aqueceu entre Bugalho e Temido

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// Carlos M. Almeida, André Kosters, Rodrigo Antunes / Lusa; Pixabay

Último debate televisivo com os principais candidatos às europeias, desta vez com todos. E no final “ganham os liberais”.

O último debate entre os principais candidatos às eleições europeias, o único com os oito com representação parlamentar em São Bento, realizou-se no dia em que Volodymyr Zelenskyy esteve em Portugal.

Por isso, sem surpresa, a presença do presidente da Ucrânia e a guerra marcaram o debate na RTP. Com um momento especialmente tenso entre Sebastião Bugalho e Marta Temido.

O cabeça de lista da AD às europeias considerou que a visita do Presidente da Ucrânia a Portugal traduziu-se num “dia de festa”, levando a número um socialista a apontar a “brutal imaturidade” revelada por essa afirmação.

“É um dia de festa para a democracia portuguesa”, afirmou o cabeça de lista da AD ao Parlamento Europeu.

Sebastião Bugalho disse tratar-se de um “dia de festa” porque Portugal mostrou, no ano em que assinala os 50 anos do 25 de Abril, que está “ao lado da paz, da Europa e dos ucranianos”.

Entendimento diferente teve a candidata do PS, Marta Temido, que contra-atacou apontando imaturidade a Bugalho ao dizer que é um “dia de festa” um Presidente de um país em guerra vir pedir ajuda a outro país.

“É uma demonstração de imaturidade brutal dizer que hoje é um dia de festa”, insistiu Temido, que ficou “muito incomodada” com o que ouviu.

Bugalho acusou Temido de tentar criar uma “falsa divergência” e começou por falar nos 50 anos da democracia portuguesa. “Acha que isto é uma forma de celebrar os 50 anos da democracia portuguesa?”, perguntou a socialista. “Claro que sim, claro que celebro com ele”, respondeu. “Celebra o quê, os mortos ucranianos?”, perguntou Marta Temido.

Discórdias à parte, a cabeça de lista do BE, Catarina Martins, frisou que “não deve haver ligeireza nesta discussão” e que a Ucrânia tem direito a defender-se.

O primeiro da lista da IL, João Cotrim de Figueiredo, defendeu que Portugal deve continuar a apoiar incondicionalmente a Ucrânia para que este país “reganhe a sua soberania” e decida se quer pertencer à União Europeia e à NATO.

Por seu lado, o candidato do Chega, Tânger Corrêa, sublinhou que para haver paz tem de haver força porque “não é uma Ucrânia em estado de fraqueza que vai negociar a paz”.

Para o candidato da CDU, João Oliveira, insistir em dar armas à Ucrânia não é apoiar aquele pais, apoiar seria insistir num acordo de paz.

Do lado do PAN, Pedro Fidalgo Marques, alertou que além de olhar para a questão do drama humanitário naquele país em guerra é preciso olhar para a questão ambiental, nomeadamente para a contaminação dos solos.

Na visão do candidato do Livre, Francisco Paupério, cabe à Ucrânia decidir como “ataca esta guerra”, lembrando que “há sempre o risco de este conflito escalar”.

Imigração

Sebastião Bugalho e Marta Temido também trocaram acusações sobre as propostas políticas europeias para a imigração.

Temido acusou a Aliança Democrática de fazer parte do lote de partidos que quer alterar o pacto europeu em matéria de migrações e asilo por estar a pensar em “colocar os migrantes que chegam à Europa no Ruanda, como diz o Partido Popular Europeu” ou de construir muros.

A esta associação de ideias, o cabeça de lista da AD, Sebastião Bugalho, respondeu acusando Marta Temido de dizer “inverdades” sobre a sua candidatura ao insinuar que os sociais-democratas eram a favor da política de deportação de requerentes de asilo para o Ruanda, à semelhança do que tem acontecido no Reino Unido.

Para contrariar as acusações, Bugalho exibiu uma notícia do jornal Público em que o título indica que ambos os candidatos são contra esta política migratória.

“A delegação portuguesa do PPE, o PSD e o CDS foram vocalmente contra essa política. Sabe quem é o autor dessa política, Marta Temido? É o Governo socialista da Dinamarca“, contra-atacou Bugalho.

Ainda em matéria de migrações, o candidato do Chega, António Tânger Correia, insistiu na ideia de que o novo pacto para as migrações é “uma armadilha” e defendeu a ideia de pobreza dos imigrantes como um “rastilho que mais cedo ou mais tarde vai gerar violência”.

A esta ideia, o cabeça de lista da CDU, João Oliveira, acusou Tânger Correia de defender “conceções antidemocráticas, xenófobas, racistas” para “virar o povo uns contra os outros” e deixar os migrantes à mercê de situações de clandestinidade, escravatura e miséria.

Da Iniciativa Liberal, João Cotrim Figueiredo defendeu não haver “soluções perfeitas” para a questão das migrações na Europa e acusou os adversários de fazerem “sinalizações de virtude, afloramentos de xenofobia” e “picardias internas sobre este tema”.

Catarina Martins, número um da lista do Bloco de Esquerda, defendeu que o maior problema do país é “reter quem cá está” e não a “falsa guerra” criada pela extrema-direita contra “quem vem trabalhar” e precisa de integração e “documentos para não ser explorado pelas máfias”.

O Livre, através de Francisco Paupério, insistiu na rejeição do partido ao pacto para as migrações e na ideia de que ao fechar fronteiras não se acaba com a imigração, mas sim “com a imigração legal”. É necessário, disse, “ter projetos de inclusão nos países que são seguidos por estas pessoas” e não separar famílias e crianças.

Pedro Fidalgo Marques, cabeça de lista do PAN, criticou o que disse ser um “discurso de medo e de desinformação da extrema-direita” nesta matéria e lembrou as “situações de morte e de pobreza” enfrentadas por muitos dos migrantes que tentam chegar à União Europeia.

Numa altura em que alguns países já reconheceram o Estado da Palestina, nomeadamente Espanha, Irlanda e Noruega, e questionado sobre se Portugal deveria seguir esses exemplos, o candidato da AD considerou que tal deveria ser feito o “mais depressa possível, mas dentro de um quadro o mais multilateral possível” e PS também entendeu que Portugal não deve fazer esse reconhecimento de forma isolada, posições criticadas pelo PCP, para quem esse argumento “já não serve”.

IL, Livre, BE e PAN mostraram-se favoráveis ao reconhecimento do Estado Palestiniano, ao contrário do Chega, que disse ser “completamente errado”.

No fim, ganha a IL

Como este foi o último debate com os principais candidatos, a Iniciativa Liberal aproveitou uma análise do Observador para cantar vitória.

João Cotrim de Figueiredo mereceu a nota mais alta, à frente de Bugalho e Catarina Martins. A nota mais baixa foi para Pedro Fidalgo Marques – de novo.

Fim dos debates. Vitória Liberal. Preparação e competência”, escreveu a IL no X.

ZAP // Lusa

4 Comments

  1. “Para o candidato da CDU, João Oliveira, insistir em dar armas à Ucrânia não é apoiar aquele pais, apoiar seria insistir num acordo de paz.”
    “”Insistir num acordo de paz”” que frase mais HIPÓCRITA (neste contexto)…
    Estes Comunas são uns líricos, mas para bem da humanidade, eles próprios nem sequer enxergam que já estão a falar sozinhos…

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  2. Não sei bem como mas, o PCP, ainda tem pessoas crediveis no seu seio….
    Mas, ainda entendo menos qdo, os cargos mais altos são ocupados por caras que vêm do nada… do marasmo!!!
    Não existe um votação interna de militantes… inter-pares!!!
    …das!!! Até o recém CHEGA já teve bué de eleições internas manos!!!
    O PCP antes de abrir a boca, deveria colocar rede anti-mosca… não venham elas a acompanhar os seus gafanhotos (e os arames do John)!!!
    Defendem o 25 de Abril como ninguém e depois, não conseguem dar um simples exemplo daquilo que reclamam!!!
    Liberdade não é Libertinagem!!!
    Gozam com o CDS, pois… mas a Direita cresce cada vez mais e a Esquerda, toda junta… vai desaparecendo… devagarinho… não fossem meus amigos consumidores de erva e já estavam abaixo do PRD!!!

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  3. O candidato Sebastião Bugalho tem muito conhecimento de História, está bem preparado, mesmo sendo jovem, assim como o candidato da IL João Cotrim de Figueiredo, a candidata do PS Marta Temido é mais do mesmo no partido, embora como ministra da Saúde pela altura da Pandemia teve um grande desafio e conseguiu organizar com ajudas claro o SNS para a causa. O candidato da CDU João Oliveira é um comunista assumido, até acho que ele irá mais longe no partido, se quiser, mas para a Europa não. Porque os comunistas são anti-União Europeia. Sempre foram e mantém-se, mas já que Portugal está no Parlamento Europeu então é melhor estar lá também. Não destaco mais nenhum candidato que valha a pena.

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