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Depois da destruição em Beirute, teme-se um aumento de infetados e falta de cereais

Wadel Hamzeh / EPA

As duas fortes explosões que esta semana sacudiram Beirute terão sido provocadas por materiais explosivos confiscados e armazenados no porto da cidade libanesa, entre os quais estão grandes quantidades de nitrato de amónio.

As autoridades libanesas que estudam o incidente acreditam que as duas explosões, que causaram mais de uma centena de mortos e milhares de feridos, acreditam que terá sido o nitrato de amónio, um fertilizante utilizado amplamente na agricultura, armazenado há anos no porto, o grande responsável pelas explosões, escreve o jornal The Guardian.

Vários especialistas citados pela imprensa internacional defendem que esta é a hipótese mais forte, descartando os rumores que se trataria de uma arma nuclear.

O primeiro-ministro libanês, Hassan Diab, que foram as 2700 toneladas de nitrato de amónio guardadas num armazém do porto que causaram explosões tão violentas, tendo a detonação sido causada por obras levadas a cabo perto.

Em causa, conta o jornal Público, está o navio de carga Rhosos, de bandeira moldava, que terá atracado no porto de Beirute em 2013, numa paragem não programa.

A embarcação, que partiu da Geórgia com destino a Moçambique, acabou por ser abandonado no porto juntamente com a carga pelo seu proprietário, um cidadão russo, Igor Grechushkin, cuja última morada está registada em Chipre.

Documentos consultados pela emissora norte-americana CNN dão também conta que este barco atracou no Líbano em 2013 por causa de problemas financeiros, ficando até à data da explosão – seis anos – atracado no porto, sem quaisquer precauções de segurança, apesar dos avisos das autoridades locais.

Por não pagarem as taxas, o porto de Beirute terá confiscado o barco e a respetiva carga.

De acordo com o diretor de alfândega do Líbano, Badri Daher, a embarcação nunca deixou o porto, apesar dos avisos repetidos pelo próprios e por outras autoridades de que a carga em causa equivaler a uma “bomba flutuante”.

Porto da Beira diz não conhecer embarcação

A Cornelder, empresa gestora do porto da Beira, em Moçambique, disse esta quarta-feira à agência Lusa que nunca foi notificada sobre a operação de um navio com 2.750 toneladas de nitrato de amónio com destino a Moçambique.

“Normalmente, antes de receber um navio, nós somos notificados. Neste caso, nunca recebemos nenhuma notificação de um navio que vinha ao porto da Beira com essas caraterísticas e carga”, disse à Lusa António Libombo, diretor-executivo adjunto da Cornelder, concessionária do Porto da Beira desde 1998.

A Lusa contactou também o Ministério dos Transportes e Comunicações moçambicano, que disse igualmente não ter sido informado sobre um navio com estas características.

O impacto da explosão foi devastador, mas os problemas deverão continuar: teme-se um aumento de casos de covid-19, bem como que os cereais escasseiem no Líbano.

Covid-19 e falta de cereais

O Governo libanês teme que a catástrofe desencadeada após as explosões de terça-feira no porto de Beirute e consequente emergência de saúde possa precipitar um aumento nos casos de covid-19 na capital do país.

O ministro da Saúde libanês, Hamad Hassan, disse à rádio oficial libanesa que receia um “aumento do número de infetados nos próximos dias” devido à necessidade de dar prioridade ao atendimento dos mais de 5.000 feridos causados pelas explosões.

Por outro lado, referiu o ministro, perderam-se muitos dos equipamentos de proteção contra o coronavírus, pelo que o Governo quer que os hospitais de campanha que estão a ser criados também tratem casos de covid-19.

Por outro lado, teme-se pela distribuição de cereais no país.

A agência das Nações Unidas para a agricultura e alimentação (FAO) alerta que a destruição dos silos de cereais no porto de Beirute, atingido por explosões na terça-feira, pode provocar problemas na distribuição de farinha

“Recebi uma curta mensagem de um responsável da FAO em Beirute: ‘Tememos que uma grande parte das reservas de trigo que estavam no porto (de Beirute) tenham sido destruídas pelas explosões’. As reservas estão gravemente danificadas”, disse Dominique Burgeon, responsável pelas situações de emergência da agência da ONU à France-Presse.

“Receamos que possa ocorrer em breve um problema de disponibilidade de farinha no país (Líbano)”, acrescentou. O preço dos produtos alimentares está cada vez mais inflacionado no Líbano, país atingido por uma profunda crise económica.

A inflação atingiu os 109% entre setembro de 2019 e maio de 2020, de acordo com o Programa Alimentar Mundial (PAM) das Nações Unidas.

Por outro lado, Maya Terreo, fundadora da Food Blessed, organização não-governamental libanesa que distribui ajuda alimentar às populações necessitadas, afirmou que o porto, seriamente atingido pela explosão, é o “principal ponto de entrada das importações“.

“O Líbano importa 80% da comida que consome”, lamentou Maya Terreo.

Nitrato de amónio, um “rebuçado” para plantas

À TSF, o o presidente da Confederação de Agricultores de Portugal (CAP), Eduardo Oliveira e Sousa, explicou que o nitrato de amónio é um fertilizante muito utilizado na agricultura, sendo responsável pela “cor verde” das plantas – é uma espécie de rebuçado.

“O amónio é o azoto e o azoto é um dos três principais nutrientes da plantas”, notando que existe uma dimensão “muito inflamável” nestes produtos químicos.

“Para provocar uma explosão grande é precisa uma grande quantidade, mas qualquer quantidade é inflamável”, alerta Oliveira e Sousa, que acrescenta ainda à TSF: É “sempre perigoso: um quilograma de amónio faz uma pequena bomba”.

Sobre as explosões, avança dois cenários: “Se o que aconteceu tem a ver com nitrato de amónio, ou ele estava no sítio errado ou estava a ser utilizado para fins diferentes”.

ZAP //

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