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A culpa de as baleias darem à costa é das tempestades solares

Antonio / Wikimedia

Cachalotes deram à costa por causa de tempestades solares

Tempestades solares, responsáveis pelo fenómeno conhecido como aurora boreal, podem ter sido responsáveis por 29 cachalotes terem dado à costa em em praias do Atlântico Norte no ano passado.

Um estudo de cientistas da Univerisdade de Kiel, na Alemanha, alerta que perturbações magnéticas podem ter interferido no sentido de orientação das baleias e desviado o grupo para águas rasas, segundo a BBC.

Todas as baleias morreram. Na autópsia, os cientistas ficaram intrigados com o facto de que, na maioria, o organismo dos animais não exibia sinais de desnutrição ou doenças. E todos os cachalotes eram jovens.

Por isso, houve, no meio científico, muitas teorias sobre as possíveis causas do encalhe. Houve quem falasse em envenenamento ou mesmo num acidente durante a procura por alimento.

Os cachalotes vivem em águas profundas e de temperatura quente a moderada. Muitos grupos vivem perto do arquipélago português de Açores. Quando atingem idade entre os 10 e os 15 anos, porém, os jovens machos migram para o norte, em direção à região polar, atraídos pela grande quantidade de lulas em águas mais frias.

A viagem normalmente passa pelas costas de países europeus. No entanto, no espaço de apenas um mês, os animais começaram a aparecer em praias alemãs, holandesas, britânicas e francesas.

Os cientistas da Universidade de Kiel dizem que a chave para entender o mistério é a possibilidade de os cachalotes navegarem com auxílio do campo magnético da Terra. O campo não é uniforme e varia de intensidade em diferentes regiões, algo que as baleias aprenderam a “ler” da mesma forma que os humanos veem contornos em mapas.

No entanto, a perceção pode ter sido alterada por grandes tempestades solares. Essas explosões de massa do sol emitem radiação e partículas que, ao atingir a atmosfera da Terra, produzem o fenómeno conhecido como aurora boreal.

Tempestades mais intensas podem até causar danos em satélites. E alguns cientistas dizem ter provas de que a atividade solar pode ter impactos no sentido de orientação de pássaros e abelhas.

A equipa orientada por Klaus Vanselow estudou a conexão entre baleias que deram à costa e duas grandes tempestades solares ocorridas em dezembro de 2015. As tempestades produziram espetáculos de luzes vistos não apenas em países no norte, como a Noruega, mas também na Escócia.

No entanto, também causaram distúrbios temporários de até 460 km no campo magnético de uma área entre as Ilhas de Shetland, no extremo norte do Reino Unido, e a Noruega, afirma Vanselow.

Esse facto pode ter estado na origem da confusão das baleias que viajavam pela zona, até porque a equipa de cientistas de Kiel suspeita que os cachalotes usem o campo magnético da costa da Noruega como orientação. “A região da aurora boreal é a que mais tem distúrbios geomagnéticos na superfície da Terra”, explica Vanselow.

“Os cachalotes são animais enormes e podem nadar durante dias na direção errada por causa desse efeito e só depois corrigem o curso. No entanto, se isso ocorrer na área entre a Noruega e a Escócia, elas podem ficar presas (em águas mais rasas)”.

O cientista alemão acredita que, por terem crescido perto dos Açores, uma área com pouco impacto de tempestades solares, os cachalotes têm pouca experiência com o tipo de evento que ocorre nos polos. Apesar de a teoria ser difícil de provar, outros cientistas dizem ser plausível.

“É difícil dizermos que foi a causa definitiva (para darem à costa), mas pode ter sido uma das razões”, diz Abbo Van Neer, biólogo da Universidade da Alemanha que fez a autópsia das 16 baleias que apareceram na costa alemã.

A NASA também tem conduzido estudos sobre o impacto das tempestades solares em cetáceos por todo o mundo, e um grupo de cientistas ligados ao projeto publicará, nas próximas semanas, um estudo sobre encalhes na região de Cape Cod, na costa leste americana, e tempestades geomagnéticas.

“A teoria tem credibilidade, já que estamos a falar de um potencial mecanismo que pode confundir os animais. Mas acho que o estudo não prova tudo. A nossa análise sugere que não há um único fator que contribua para os encalhes”, afirma Antti Pulkkinen, chefe do projeto da NASA.

ZAP //

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