O último debate dos candidatos à Câmara de Lisboa aconteceu ontem na RTP, sendo que os temas de maior destaque voltaram a ser a habitação, mobilidade, turismo e alterações climáticas.
Os doze candidatos não pouparam esforços e atiraram-se a Fernando Medina – que é tido, de acordo com as sondagens, como o grande vencedor destas autárquicas.
Carlos Moedas liderou os ataques a Medina e apareceu em jogo para tentar provar que é o único verdadeiramente capaz de derrotar o socialista, referindo que está “cada vez mais perto de ultrapassar Fernando Medina”.
À esquerda, Beatriz Gomes Dias e João Ferreira não fugiram ao confronto com o recandidato, mas a discussão ficou marcada por um duelo particular entre os dois.
Neste debate, Medina optou por ouvir mais e falar menos: o socialista esteve largos minutos calado, intervindo apenas quando lhe foi pedido pelo moderador, sem responder às várias acusações de que foi sendo alvo, informa o Observador.
O socialista evitou entrar em debates laterais, mesmo quando interpelado diretamente, nunca se dirigiu ao seu adversário direto, Carlos Moedas, pondo de lado o tema das alianças à esquerda.
Contrariamente, Moedas voltou a pôr em prática uma estratégia que passa por atacar o seu principal adversário.
O social-democrata criticou a “arrogância” de Medina, falou em falta de liderança na autarquia, criticou a “loucura das ciclovias mal construídas”, os tiques impositivos do socialista, que “impõe soluções” sem ouvir os lisboetas, o desapego que revela pelos mais velhos sem acesso a médico de família e pelos mais desfavorecidos, em particular na questão da habitação.
Moedas tocou na ferida e todos os outros candidatos o seguiram. O tema das ciclovias foi um dos mais vincados durante o debate, sendo uma das principais questões de crítica a Medina na última vez em que os 12 candidatos se cruzam antes da hora da verdade.
As críticas para aquela que é das maiores marcas da governação do PS nos últimos anos foram variados.
Bruno Fialho, do PDR, foi mostrando uma indignação cada vez maior à medida que o debate avançava, chegando a sentenciar que as ciclovias recentes são todas “para acabar” e que quem as fez deve ser “despedido”.
Horta Soares, da Iniciativa Liberal, acusou Medina de apostar nesta opção sem “dados” que a fundamentassem.
Já Nuno Graciano, do Chega, repetiu a ideia de “ciclovazias” e chamou-lhes “empecilhos”. Por sua vez, João Patrocínio, do Ergue-te, perguntou porque é que é preciso “imitar” as cidades europeias” que apostam nas bicicletas.
No que diz respeito ao ambiente, todos os outros concordaram que a cidade precisa de um plano de resposta às alterações climáticas – à exceção do candidato do Ergue-te, que negou que estas existem, escreve o Expresso.
Um duelo à esquerda
Uma das questões que tem marcado a campanha é a sobre quem é que Fernando Medina vai querer negociar, caso volte a ganhar a câmara, mas sem alcançar a maioria absoluta.
Os candidatos à esquerda esforçaram-se por pôr água na fervura. João Ferreira conseguir desviar-se das perguntas sobre acordos depois das eleições, mas Beatriz Gomes Dias mostrou-se disponível para voltar a assinar um acordo na Câmara de Lisboa, à semelhança do que tem atualmente com o PS.
Ainda assim, os candidatos à esquerda do PS deixaram alguns ataques a Fernando Medina que passaram pela questão dos incumprimentos na Habitação, a linha circular do metro, entre outros, mas sem grandes exageros.
Os dois candidatos mostraram-se equilibrados nas críticas, deixando claro que é preciso marcar diferenças estratégicas e ao mesmo tempo manter a possibilidade de chegarem a entendimentos depois das eleições.
O foco de conflito acabou por ser entre o candidato comunista e a representante bloquista.
João Ferreira nunca se esquece de referir a participação do BE no acordo de governação da câmara quando está a apontar defeitos ao atual mandato, e se tem acusado o Bloco de ter assinado de cruz um entendimento que já garantia ao PS a aprovação de todos os Orçamentos, Beatriz Gomes Dias entrou para o debate com vontade de desfazer essa ideia: “Não corresponde à verdade, é uma fantasia”.
Com o desenrolar de um debate com tantos candidatos, o confronto à esquerda acabou, no entanto, por ser menos evidente e por proporcionar menos momentos de interação direta entre estes rivais.
É provável que Medina volte a ganhar porque os lisboetas gostam de “bufos”. Não é por acaso que a PIDE se manteve durante 48 anos.