Cristina Kirchner vai dissolver serviços secretos argentinos

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A presidente da Argentina, Cristina Kirchner, anunciou esta segunda-feira a dissolução dos Serviços de Inteligência e o envio, ao Congresso, de projeto de lei que cria uma agência federal para os substituir.

Cristina Kirchner aproveitou o anúncio para responder às insinuações de que o seu governo estaria por trás da morte do procurador Alberto Nisman.

Nisman morreu com um tiro na cabeça a 18 de janeiro, aparentemente por suicídio. O procurador tinha acabado de denunciar uma suposta trama da presidente com o governo iraniano, para acobertar os responsáveis pelo atentado de 1994 contra o Centro Comunitário Judaico AMIA, que matou 85 pessoas.

A própria Cristina Kirchner, numa carta publicada na sua página no Facebook, afirmou ter a certeza de que a morte de Nisman não foi suicídio e insinuou que foi um golpe contra seu governo. O governo acusa algumas secções insatisfeitas dos Serviços de Inteligência de estar por trás da denúncia feita pelo procurador.

Nisman baseou as suas acusações em escutas telefónicas – algumas delas entre supostos agentes dos serviços secretos que, segundo o governo, eram falsos espiões.

A presidência decidiu reformar o setor e criar, no seu lugar, a Agência Federal de Inteligência.

Morte misteriosa

Alberto Nisman era o procurador encarregado das investigações do atentado ao AMIA, considerado o pior ataque terrorista da história argentina. Nisman culpou o Irão de ter planeado a explosão, que teria sido executada pelo grupo xiita libanês Hezbollah, e pediu a prisão de oito pessoas – a maioria, altos funcionários do governo iraniano.

O Irão negou sempre as acusações e rejeitou os pedidos da Justiça argentina de ouvir os depoimentos dos suspeitos de terem planeado o atentado. A situação mudou em 2013, quando Cristina Kirchner anunciou a assinatura de um memorando de entendimento entre os dois governos, criando uma Comissão da Verdade para investigar o atentado ao AMIA.

Nisman condenou o memorando e, uma semana antes de morrer, acusou a presidente de ter negociado secretamente com o governo iraniano para inocentar os acusados e pôr um fim às investigações. O motivo, afirmou o procurador, seria económico: a Argentina trocaria grãos e armas por petróleo.

O procurador preparava-se para apresentar um relatório de 300 páginas ao Congresso argentino, a 19 de janeiro, com o que considerava serem as provas da conspiração.

No entanto, o seu corpo foi encontrado horas antes, na casa de banho da sua casa, em Buenos Aires. As perícias iniciais indicam que o autor do disparo foi o próprio Nisman – mas ninguém descarta ainda a possibilidade de o suicídio ter sido induzido.

O documento de 300 páginas – tornado público após a morte de Nisman – não contém provas contundentes da suposta trama entre governos. Segundo Kirchner, para o governo, teria sido fácil desmentir as acusações de Nisman, mas a morte do procurador, horas antes do seu comparecimento ao Congresso, criou um clima de suspeita.

ZAP / ABr

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