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Faz-se “medicina de guerra” nas Urgências e “podem morrer doentes”

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ABr

Os serviços de urgência dos hospitais do Serviço Nacional de Saúde (SNS) estão em coma, mergulhados no caos e a precisar de medidas urgentes e radicais para resolver os problemas relacionados com a escassez de profissionais e de recursos. O alerta é de profissionais do sector que pedem ao Governo que faça “sangue” para resolver a crise.

São mais de seis milhões os atendimentos feitos anualmente nas urgências hospitalares do SNS, de acordo com dados divulgados ao Público pelo presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (SPMI), João Araújo Correia, que nota que são “o dobro da média dos países da OCDE“.

A juntar a esta realidade, em que “os portugueses usam as urgências como se fossem uma loja de conveniência“, como diz João Araújo Correia, citando muitos casos de falsas urgências, com situações de pouca gravidade, há ainda uma flagrante falta de médicos especialistas e de recursos como camas, além de muitos equipamentos obsoletos ou avariados.

Esta conjugação de factores leva a que muitos médicos façam “medicina de campanha, de guerra, praticamente o dia todo”, como alerta a médica Nídia Zózimo, chefe de equipa de urgência do Hospital de Santa Maria, em Lisboa, também em declarações ao Público.

Este hospital vive uma das situações mais caóticas do SNS, facto que levou os médicos que o integram a assumirem uma posição de escusa de responsabilidades, caso ocorram falhas com utentes devido à falta de recursos.

Nídia Zózimo, de 65 anos, faz urgências há quatro décadas e assegura ao Público que a urgência do Santa Maria “nunca esteve tão mal como agora”.

“Falta de coragem política”

“O problema dos serviços de urgência é crónico mas está agudizado, tem-se agravado progressivamente”, sublinha Nídia Zózimo que lamenta “o silêncio” do Governo e acusa o Ministério da Saúde de estar “em autismo completo”. “A senhora ministra faz-se de morta, o Governo faz-se de morto, o meu colega Pisco [Luís Pisco, presidente da Administração Regional de Saúde – ARS – de Lisboa e Vale do Tejo] está à espera que o assunto morra” e “entretanto, podem morrer doentes por falta de condições”, avisa.

Não é com administrações fracas e com ARS completamente incompetentes que isto se resolve”, atira ainda a médica, frisando que “se o ministério quer resolver estes problemas que chame quem percebe do assunto, mas depois vai ter que fazer sangue“.

Também o presidente da SPMI lamenta no Público “a falta de coragem, de decisão dos responsáveis políticos”, apelando à aplicação de medidas concretas.

“As urgências foram ficando depenadas de especialistas, mal podem, muitos tentam fugir daquele inferno”, constata João Araújo Correia.

“Com a contratação de cada vez mais tarefeiros para tapar buracos, perde-se capacidade resolutiva. Eles fazem uma medicina defensiva porque não se sentem seguros, pedem mais exames, não conhecem os serviços, não conhecem o sistema informático. Em vez de uma hora a ver um doente, demoram quatro ou cinco“, relata ao mesmo jornal o presidente da Associação Portuguesa dos Administradores Hospitalares (APAH), Alexandre Lourenço.

“Há doentes que esperam uma semana para serem operados. Alguns estão à espera 15 dias para fazerem TAC´s. Há macas no corredor, a sobrecarga é enorme. Chegamos ao ponto de os médicos terem de colher sangue aos doentes nalguns serviços. Estamos abaixo dos mínimos dos mínimos de qualquer hospital do mundo”, queixa-se, por fim, Nídia Zózimo, falando concretamente da situação do Santa Maria.

ZAP //

9 Comments

  1. Aos anos que o SNS vem a piorar e não vejo políticos dignos desse nome que alguma vez tenham feito alguma coisa para que o SNS melhorasse todos mas todos os governos oque têm feito é cortar nas verbas para o SNS e outros organismos, mas também é verdade que nunca li nem ouvi as Ordens profissionais de Saúde seja dos Médicos ou dos Enfermeiros alertarem a população para isso, parece que o mal do SNS começou há 4 ou 5 anos, mas dinheiro para os Bancos, para Fundações e Institutos criados para satisfazer as clientelas politicas não tem faltado, triste povo português que é governado há mais de 40 anos por uma seita de Mafioso políticos e continua a votar nos mesmos, somos mesmo um povo masoquista.

  2. Não entendo porque o SNS chegou ao caos.
    Quem se trama são os doentes que não tem rendimentos para se ir tratar ao privado.

    • O SNS chegou ao caos, pq as CATIVAÇÕES feitas há mais de 4 anos são enormes. O Centeno quer colocar o déficit a zero, mas qdo as dívidas forem pagas o déficit volta a disparar. Qdo o OE é feito destinam X milhões de € para SNS, Y para Educação, Z para Segurança, etc…etc…, só que dp esse dinheiro não sai para onde foi destinado, o que provoca problemas gravíssimos nos serviços. Há dias li online que há hospitais que nem fio para suturar têm nos blocos operatórios. No IPO há doentes que não estão a fazer tratamentos e é dificil apanhar consultas. Toda a gente sabe que os problemas tratados no IPO não podem esperar, têm de ser tratados com a maior urgência possível. Para fazerem exames esperam uma eternidade e quem tem esses problemas, se a esperança é pouca, com essas graves falhas perdem-na toda.

    • Aqui escreveu alguem: ” 6 milhões de ocorrências/consultas nas urgencias de todos os hospitais públicos no ano passado”.” Mais que o dobro da media europeia”. Os tugas vão às urgencias como quem vai a uma loja de conveniencia.Este senhor que me parece estar ligado ao SNS, certamente que nunca precisou de ir ás urgencias, sim, pois também são humanos.Esqueceu-se de um pormenor ilucidativo:eses paises europeus tendo melhor nivel de vida que o nosso encantando e hospitaleiro portugal (para turistas), certamente terão os ditos seguros de saúde privados.Certo Sr. Dr ? Eu estive numa urgência 7 horas e ao fim acabei por me socorrer de um hospital privado (Trofa saúde).Muito me custou os 120 euros.Mas a saúde falou mais alto.

  3. É sempre bom saber que pagamos muito dinheiro em impostos mas depois temos serviços públicos à altura. Parabéns Costa & Centeno, Lda

  4. O SNS chegou a este ponto, devido a falta de responsabilizacao, tem de responsabilizar severamente os médicos que nos centros de saúde só atendem quando lhes convém, caso contrário são os primeiros a encaminhar para as urgências, tem de se responsabilizar o cidadão que se acha cheio de direitos mas que nada faz por eles, que recorrer aos serviços de urgência só porque é mais fácil e rápido, e se acha com tanto direito quanto o verdadeiro doente que realmente precisa do serviço de urgência, há que responsabilizar quem indevidamente faz uso dos nossos impostos bastando ligar 112 e sem se preocupar muito facilmente tem direito a uma ambulância de emergência a porta de sua casa. Vivemos numa sociedade “secreta” de maçónicos que se conseguem camuflar e orientar na vida a custa de tudo isto, mas no fundo quem realmente precisa, padece de espera por vezes morre, não por culpa dos médicos mas sim por culpa daqueles a quem a sua “igualdade ” de direito levou a que o médico de serviço o estive-se a atender e diagnosticar constipação……. Isto é o dia a dia de Portugal lamentável mas é a realidade.

  5. A organização do SNS português é diferente de certos países da UE. A ideia em Portugal foi a de criar centros de saúde que dariam resposta ao nível dos cuidados primários. O centro de saúde é algo inexistente em França ou Bélgica. Os cuidados primários são prestados ao domicílio em casos crónicos, mas não urgentes, ou então no consultório médico. Esses serviços são gratuitos ou totalmente reembolsados. E de facto, o hospital serve casos urgentes. Foram opções diferentes com funcionamento diferente. Não se assiste a sobrecarga hospitalar por essa razão, a pessoas à espera nos corredores, ou atendimento que leva tempo a ocorrer. Centros clínicos estão a começar a surgir agora, mas como forma de concentrar serviços. Porque o modelo corrente é ainda o atendimento em casa do médico, que não obriga a despesas adicionais para o clínico com aluguer de espaço. Outros modelos, sem dúvida.

  6. Podemos agora avaliar se foi positivo passar a 35 horas na função pública. Porventura quem o aprovou acreditava que os enfermeiros e médicos andavam lá a brincar e nem se iria dar pela falta de 1/8 do seu tempo de trabalho. Agora gastamos mais a contratar pessoal de reforço e falta para equipamentos, manutenção, etc. O Zé povinho é que paga, com o corpinho. Foi uma boa medida, popular, para ganhar votos.

  7. Assim, pelo menos já estão preparados pra guerra !
    Alias. tendo visto o RTP de segunda, me parece que só sabem funcionar assim, independente do dinheiro aí injectado. Tudo a base do desenrasque !

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