Há uma criatura que constrói o seu próprio coração — mesmo depois de perder os genes para esse efeito

Proyecto Agua / Flickr

A perda dos genes responsáveis pela criação do coração ajudou esta espécie a adaptar-se e a criar este órgão de uma outra forma.

A espécie Oikopleura destaca-se entre os restantes tunicados, tanto do ponto de visto genético como dos atributos físicos, revela a Scientific American. O animal pertence a um grupo maior de invertebrados que são familiares próximos dos vertebratos — os tunicados.

No entanto, ao contrário da maioria dos outros tunicados, esta espécie não passa pela metamorfose de uma larva de natação livre até uma que se fixa no fundo. Em vez disso, passa a sua vida inteira como uma pequena criatura de natação livre de 0,5 milímetros de comprimento e vive dentro de um balão composto por uma folha transparente de celulose.

O animal usa depois a sua cauda e o seu coração para absorver água através do balão semi-permeável e para filtrar pequenas partículas orgânicas de que se alimenta. A grande maioria dos tunicados adultos ficam no fundo do oceano e bombeiam água para as suas bocas para filtrarem comida.

Mas o tamanho pequeno da Oikopleura forçou a que esta espécie evoluísse de maneira a que crie um enorme balão ou rede de pesca fora do seu próprio corpo para conseguir capturar alimento suficiente.

A casa destas criaturas também fica rapidamente cheia de partículas da água e é nesta altura que estas decidem livrar-se dela e construir uma nova, a cada três horas. As suas casas abandonadas cobrem o fundo do mar.

Mas este balão não é a única coisa de que a Oikopleura se livra. Cristian Cañestro, biólogo evolucionário, descobriu que a criatura também perdeu um grupo inteiro de genes, incluindo alguns que são essenciais para o desenvolvimento do coração e do cérebro.

Num estudo publicado na Nature, Cañestro tentou descobrir como é que a espécie consegue ter um coração sem ter os genes para esse efeito e concluiu que a criatura acelera o seu desenvolvimento ao criar um coração de uma forma diferente.

No desenvolvimento vertebrado, a sinalização do ácido retinóico determina quais as células que compõem o coração, a faringe e o cérebro. As células que fazem o coração derivam das células estaminais, no entanto, na Oikopleura, os investigadores descobriram que as células do embrião têm os seus destinos traçados muito cedo no desenvolvimento, ignorando as decisões sequenciais do destino das células que ocorrem na grande maioria dos vertebrados.

Por causa disto, a Oikopleura não precisa de usar a sinalização do ácido retinóico para criar um coração porque as células já conhecem o seu destino final. Assim, a criatura pode perder estes genes sem grandes consequências. Na verdade, muitos tunicados decidem o destino das células muito cedo no seu desenvolvimento, o que os torna muito flexíveis e adaptáveis.

Cañestro acredita que a perda dos genes acelera a criação do coração, o que é essencial para o estilo da vida deste animal, visto que precisa de um batimento cardíaco imediatamente quando cria a sua primeira casa com 10 horas de idade. As criaturas passam de ovos para adultos em apenas uma semana.

A equipa de Cañestro também usou a análise da perda dos genes para tentar determinar como os antepassados dos tunicados seriam. O estudo inferiu que os antepassados ainda tinham os genes que os vertebrados e outros tunicados usam para criarem um coração e um músculo da faringe que são úteis para a sua alimentação enquanto adultos. Assim, é provável que os tunciados ancestrais tinham passado por uma metamorfose antes da mudança que os levou à perda dos genes.

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