O mês de setembro no Nepal marca o fim da estação das monções, mas também anuncia o início de uma misteriosa infeção ocular conhecida como Panuveíte Hiperaguda Sazonal (SHAPU).
Esta doença afeta principalmente crianças em várias partes do país, com sintomas que começam com uma vermelhidão indolor e perda de pressão num olho. Se não forem tratados em 24-48 horas, as crianças correm o risco de perder a visão. Em 2023, os investigadores nepaleses estão determinados a identificar a causa desta doença enigmática.
A SHAPU não é recente. Foi documentada pela primeira vez no final da década de 1970 pelo oftalmologista Madan P. Upadhyay. Este observou que os casos de SHAPU aumentavam de dois em dois anos, com consequências graves para as crianças afetadas.
A condição inicialmente apareceu como uma inflamação, mas levaria à perda de visão em crianças, apesar de várias tentativas de tratamento, incluindo antibióticos, esteróides e outros medicamentos para os olhos.
Até 2021, a SHAPU tinha um reconhecimento limitado, com apenas alguns casos documentados anualmente. No entanto, um grande surto em 2021 atraiu a atenção da comunicação social. Este ano, os médicos criaram um sistema de notificação para monitorizar os casos em todo o país.
A cultura laboratorial não forneceu respostas claras, conta a revista Nature, uma vez que foram detetados vários microrganismos, incluindo bactérias, vírus e fungos. No entanto, relatos sugeriram uma potencial ligação entre a SHAPU e o contacto com “traças brancas” ou borboletas.
Uma investigação de 2020 indicou que os indivíduos com SHAPU tinham quase sete vezes mais probabilidades de relatar o contacto com borboletas ou traças brancas. Sabe-se que as mariposas brancas do género Gazalina se espalham pelo Nepal no final da estação das monções.
O entomologista Daya Ram Bhusal e a sua equipa estão agora a estudar regiões no oeste do Nepal com um historial de surtos de SHAPU. Estão a examinar fatores como a temperatura, a humidade, o tipo de vegetação e a altitude, com o objetivo de estabelecer uma ligação entre as traças e a doença.
As análises que comparam o líquido vítreo dos olhos infetados com compostos dos pelos das traças podem revelar toxinas específicas responsáveis pela inflamação.
A variabilidade na distribuição geográfica da SHAPU e a gama de sintomas relatados continuam a confundir os investigadores. O financiamento continua a ser um desafio significativo, uma vez que a sequenciação avançada do ADN exige frequentemente o envio de amostras para análise no estrangeiro.
Embora os investigadores estejam a fazer progressos, a solução definitiva para a SHAPU continua a ser difícil de encontrar.