Vários migrantes morreram esta madrugada durante uma tentativa de atravessar o Canal da Mancha, de França para Inglaterra, num pequeno barco. Uma criança foi “pisada até à morte”. Não se tratou de um naufrágio.
“Esta noite, vários migrantes perderam novamente a vida quando tentavam chegar a Inglaterra no âmbito de uma travessia marítima do Canal da Mancha”, avançou o departamento de Pas-de-Calais, a região costeira de França mais próxima de Inglaterra.
“Os traficantes têm o sangue destas pessoas nas mãos e o nosso Governo vai intensificar a luta contra estas máfias que enriquecem a organizar estas travessias de morte”, escreveu o ministro do Interior francês, Bruno Retailleau, numa mensagem divulgada na rede social X.
Segundo o ministro, o balanço da tentativa de travessia foi de “várias mortes”, entre as quais se conta a de uma criança que foi pisada até à morte.
“Hoje, várias pessoas morreram ao tentar atravessar o Canal da Mancha. Uma criança foi pisada até à morte num barco. Esta terrível tragédia deve sensibilizar-nos a todos para o drama que se está a desenrolar. Os traficantes de seres humanos têm o sangue destas pessoas nas suas mãos, e o nosso governo vai intensificar a luta contra estas máfias que enriquecem organizando estas travessias de morte”, escreveu o ministro.
Aujourd’hui plusieurs personnes ont péri en tentant de traverser la Manche. Un enfant est mort piétiné dans une embarcation. Épouvantable drame qui doit tous nous faire prendre conscience de la tragédie qui se joue. Les passeurs ont le sang de ces personnes sur les mains et notre…
— Bruno Retailleau (@BrunoRetailleau) October 5, 2024
Hoje de manhã, um barco “sobrecarregado” de migrantes solicitou ajuda ao rebocador ‘Abeille Normandie’, indicou a entidade de segurança marítima (Premar) do Canal da Mancha e do Mar do Norte.
Catorze pessoas que seguiam a bordo deste barco foram recolhidas pelo navio, incluindo “um menor” que morreu e um ferido, que ainda não se sabe se é menor, avançou a Premar em comunicado, referindo que o ferido foi transportado de avião para um hospital local.
Segundo o Ministério Público local, a criança morta “é muito pequena”, tendo o presidente da Câmara de Portel, localidade onde decorreu o resgate, referido que teria cerca de quatro anos.
A Premar esclareceu que não se tratou de um naufrágio, já que a criança morta foi encontrada no barco. Após a recuperação das 14 pessoas, os restantes passageiros do barco seguiram caminho para Inglaterra.
Várias operações de salvamento marítimo decorriam ainda ao início da tarde.
2024 – um ano mortífero
Desde janeiro passado, mais de 25 mil migrantes chegaram às costas britânicas depois de atravessarem o Canal da Mancha a bordo de barcos improvisados, um número que aumentou 4% relativamente ao mesmo período do ano passado, segundo estatísticas do Ministério do Interior britânico publicadas a 23 de setembro.
Uma série de naufrágios fez de 2024 o ano mais mortífero desde que, em 2018, teve início o fenómeno das travessias a bordo de barcos insufláveis improvisados, em resposta ao bloqueio cada vez mais apertado do acesso ao túnel sob o Canal da Mancha e ao porto de Calais.
Até hoje, pelo menos 46 migrantes já tinham morrido em 2024 durante estas tentativas de travessia do canal, em comparação com 12 em 2023.
Na noite de 14 para 15 de setembro, oito migrantes morreram no naufrágio de um barco que acabava de sair da costa francesa, transportando cerca de 60 passageiros.
A 3 de setembro, pelo menos outras 12 pessoas morreram quando o seu barco se partiu ao largo do Cabo Gris-Nez, no pior naufrágio de 2024 até à data.
Eleito em julho, o Governo do trabalhista britânico Keir Starmer prometeu combater a migração ilegal aumentando o número de expulsões de migrantes e lutando contra os traficantes de pessoas.
Segundo as autoridades britânicas, os barcos improvisados são cada vez mais carregados, com uma média de 52 passageiros por viagem, em comparação com apenas 13 em 2020.
Entre junho de 2023 e junho de 2024, 18% das pessoas que chegaram a Inglaterra nestes barcos eram provenientes do Afeganistão, um número em declínio acentuado, seguido pelo Irão (13%) e pelo Vietname (10%).
ZAP // Lusa