A covid-19 pode perturbar os seus sonhos e sono

No final de 2022, tinham sido notificadas à Organização Mundial de Saúde (OMS) mais de 650 milhões de infeções por covid-19. Com o número real provavelmente muito superior, e com o aumento de casos todas as semanas, a comunidade científica tenta perceber o impacto na nossa saúde física e mental.

Na fase inicial da pandemia, os cientistas do sono traçaram os custos e benefícios dos confinamentos nos padrões de sono. A principal descoberta foi que dormimos mais nesses períodos, mas a qualidade do sono era pior.

Agora, uma segunda vaga de dados começa a explicar como é que o vírus afeta o sono e intromete-se nos sonhos, relatou o Conversation.

Numa meta-análise de 2022 – uma revisão da literatura científica atualmente disponível -, foi estimado que 52% das pessoas que contraem covid-19 sofrem de distúrbios do sono durante a infeção.

O tipo mais comum dos distúrbios relatados é a insónia. As pessoas com insónia têm tipicamente dificuldade em adormecer ou permanecer a dormir e acordam cedo.

Os problemas de sono por vezes persistem mesmo após a recuperação da infeção. Um estudo na China revelou que 26% das pessoas que foram hospitalizadas com covid-19 apresentaram sintomas de insónia duas semanas após a alta.

Um estudo norte-americano mostrou que as pessoas infetadas tinham mais probabilidades de ter dificuldades em dormir, um mês após testarem positivo.

Embora a maioria das pessoas recupere rapidamente da covid-19, algumas continuam a ter sintomas a longo prazo. Os indivíduos que sofrem de doença prolongada parecem mais suscetíveis de enfrentar problemas persistentes de sono.

Um estudo realizado em 2021 analisou mais de 3.000 pessoas com covid-19 prolongada. Quase 80% dos participantes relataram problemas de sono, mais frequentemente insónia.

Um estudo mais recente recolheu dados tanto sobre a duração do sono como sobre a qualidade, utilizando pulseiras inteligentes. No geral, os participantes com covid-19 prolongada dormiram menos e tiveram menos sono profundo do que os participantes que nunca tinham tido o vírus.

A perda de sono profundo é particularmente preocupante, uma vez que este reduz o cansaço e reforça a concentração e a memória. A falta de sono profundo pode ser parcialmente responsável pelo relatado “nevoeiro cerebral” durante e após a infeção.

O facto de a covid-19 interferir com o sono é também preocupante porque o sono ajuda o nosso sistema imunitário a combater infeções.

O vírus pode ter um impacto direto no cérebro, incluindo nas áreas que controlam tanto os estados de vigília como de sono.

Os sintomas típicos da covid-19 incluem febre, tosse e dificuldades respiratórias. Estes sintomas são também bem conhecidos por perturbar o sono.

Uma saúde mental deficiente pode levar a problemas de sono e vice-versa. Existe uma forte ligação entre a covid-19 e as questões de saúde mental, particularmente a depressão e a ansiedade. Isto pode ser causado por preocupações com a recuperação, solidão ou isolamento social.

No caso dos doentes hospitalizados com covid-19, podem enfrentar dificuldades adicionais ao tentarem dormir em ambientes hospitalares movimentados, onde o sono é frequentemente perturbado por ruído, tratamento e outros pacientes.

O Estudo Internacional do Sono Covid-19 é um projeto de investigação global que envolve cientistas do sono de 14 países.

Durante o estudo foram analisados participantes infetados e não infetados. Ambos os grupos tiveram mais sonhos após o início da pandemia do que antes. Os participantes infetados tiveram mais pesadelos do que os não infetados, enquanto que não havia diferença entre os grupos antes da pandemia.

A má saúde mental é frequentemente acompanhada de pesadelos. A equipa descobriu que o grupo infetado apresentava mais sintomas de ansiedade e depressão.

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