Em 2024, morreram no mundo inteiro 50 vezes menos pessoas da doença em relação a 2021. Atingiu uma gravidade semelhante à gripe, mas OMS continua alerta.
Cinco anos depois dos primeiros casos de Covid-19, que levaram à pior pandemia num século, a doença já não é vista como uma ameaça, mas continua a matar e a manter em alerta instituições como a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Em 2024, a agência da ONU foi notificada de três milhões de casos em todo o mundo, muito longe dos 445 milhões registados em 2022, o ano com mais casos notificados, segundo dados divulgados pela EFE.
Em 2024, morreram cerca de 70.000 pessoas, 50 vezes menos do que os 3,52 milhões de mortes contabilizadas em 2021, o ano mais mortífero, de acordo com os números oficiais.
O vírus SARS-CoV-2 transformou-se, graças às vacinas e à sua evolução para variantes mais contagiosas, mas menos letais, para um agente patogénico comparável à gripe: uma doença que na maioria dos casos causa sintomas ligeiros ou moderados, embora ainda possa ser perigosa para os idosos e outros grupos vulneráveis.
“Já não se ouve falar de Covid, mas o vírus continua a circular amplamente em todo o mundo. Não há muita visibilidade porque já não há tantos testes, a vigilância foi reduzida”, de acordo com a especialista da OMS Maria Van Kerkhove, que tem liderado a resposta da agência à doença desde 2020.
A OMS estima, através de testes em águas residenciais em diferentes países, que a circulação real do vírus pode ser até 20 vezes superior à estimada oficialmente. E está preocupada com a persistência da chamada “Covid longa”, que, segundo as suas estimativas, afeta seis por cento dos casos graves após a recuperação.
“Afeta múltiplos órgãos, do coração aos pulmões, ao cérebro ou pode mesmo ter consequências para a saúde mental”, sublinhou a especialista norte-americana numa conversa recente no canal de YouTube da OMS para analisar cinco anos da doença.
Os primeiros casos do que viria a ser conhecido como Covid-19 foram identificados em dezembro de 2019, na cidade de Wuhan, no centro da China, e foram reportados à OMS no dia 31 desse mês.
Em 5 de janeiro de 2020, a agência emitiu o seu primeiro alerta para o que então designou por “pneumonia de origem desconhecida detetada na China”. Em 30 de janeiro, declarou um alerta internacional para a doença, em 11 de fevereiro foi batizada de “Covid-19” e, em 11 de março, foi declarada oficialmente uma pandemia.
“Lembro-me da primeira conferência de imprensa que dei sobre o assunto, a 14 de janeiro, e pensei que nunca mais ia participar noutra”, recorda Van Kerkhove, que deu centenas de palestras sobre o tema durante três anos, ao lado do chefe de emergência da OMS, Mike Ryan.
A OMS continua a recomendar que as pessoas com mais de 65 anos e outros grupos vulneráveis sejam vacinadas regularmente para evitar formas graves da doença que levem à hospitalização: atualmente, a vacina baseia-se principalmente na subvariante JN.1, a mais difundida atualmente e ‘descendente’ da variante omicron.
A OMS pede, sempre que tem oportunidade, que ninguém esqueça um vírus que afetou quase toda a população do planeta.
Acima de tudo, a OMS pretende que a memória seja o motor de um tratado contra as pandemias, em negociação há quase três anos. O objetivo é preparar todos os países para futuros agentes com potencial pandémico, sejam eles novos Coronavírus, a temida gripe das aves (muito letal, mas não transmissível entre humanos) ou outro agente desconhecido, apelidado de “doença X”.
Este ano, a OMS não conseguiu que o tratado fosse assinado na sua assembleia de junho, pelo que as negociações prosseguem, dificultadas sobretudo pela falta de consenso entre os países sobre questões como a comercialização e distribuição de vacinas, tratamentos e testes de diagnóstico em caso de pandemia.
“As pessoas querem atirar a Covid para o passado, fingir que nunca aconteceu porque foi traumático, mas isso impede que nos preparemos para o futuro”, alerta Van Kerkhove.
Os números oficiais da OMS indicam que desde o final de 2019 se registaram 777 milhões de casos e sete milhões de mortes por Covid-19, embora a própria agência da ONU reconheça que o número de mortes pode ser até três vezes superior e ultrapassar os 20 milhões.
Desde 1 de março de 2020, quando foram notificados os primeiros casos, Portugal registou mais de 5,6 milhões de casos de infeção pelo vírus SARS-CoV-2 e mais de 26 mil mortes associadas à Covid-19.
// Lusa
Coronavírus / Covid-19
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