Costa e Marcelo seguram ministra da Agricultura — mas tiro pode sair pela culatra

Tiago Petinga / Lusa

António Costa e Marcelo Rebelo de Sousa seguram a ministra da Agricultura apesar das acusações de que Maria do Céu Antunes saberia dos problemas com a justiça da sua secretária de Estado antes da nomeação.

O primeiro-ministro afirmou esta sexta-feira que Maria do Céu Antunes tem condições para desempenhar as funções de ministra da Agricultura e que a secretária de Estado Carla Alves entendeu apresentar a sua demissão, estando assim “o caso está encerrado”.

Interrogado se a ministra da Agricultura tem condições para continuar nas suas funções, após a demissão da sua secretária de Estado, Carla Alves, cerca de 26 horas após ter sido empossada nesse lugar, o primeiro-ministro respondeu com um lacónico “sim”.

Também Marcelo Rebelo de Sousa considerou que a situação foi “ultrapassada”, pelo que não pediu a saída da ministra.

A ministra da Agricultura já saberia dos problemas com a justiça ainda antes de Carla Alves tomar posse. Maria do Céu Antunes terá sido informada pela própria secretária de Estado, mas a nomeação manteve-se. O ministério garantiu que Maria do Céu Antunes desconhecia “qualquer envolvimento de Carla Alves em processos judiciais”.

Agora, segundo o Jornal de Notícias, não só a oposição aperta o cerco, como dentro do próprio PS há quem peça a demissão da ministra.

Ana Gomes considerou que a ministra da Agricultura “não tem condições para continuar” no Governo. “Não há arrestos de contas bancárias sem processos judiciais. A senhora ministra sabe disso, é elementar”, garante a ex-eurodeputada socialista ao JN.

A também comentadora política diz que há “sérios riscos” de que Marcelo venha a usar a ‘bomba atómica’, principalmente se Costa “não arrepiar caminho”.

O antigo ministro Paulo Pedroso concorda e, confirmando-se que a ministra sabia do arresto, Maria do Céu Antunes mostrou falta de “discernimento para perceber que estava a fragilizar o Governo de modo gratuito”.

“Até 1 de janeiro não temia esse cenário [de eleições antecipadas], mas hoje temo”, acrescentou Paulo Pedroso.

Costa: “O Governo está coeso”

O primeiro-ministro afirmou esta sexta-feira que o Governo está coeso e que tem sido assegurada a estabilidade das políticas, apesar das mudanças que têm ocorrido na sua equipa governativa.

“O Governo está coeso”, declarou António Costa aos jornalistas, em Braga, após mais uma iniciativa denominada “PRR em Movimento”, em Braga. De acordo o líder do executivo, “até agora”, dentro da sua equipa governativa, “nenhuma das alterações ou remodelações teve a ver com coesão do Governo”.

“Tiveram a natureza mais diversa: Pessoas que infelizmente adoeceram; pessoas que tiveram problemas políticos, ou outras razões. Mas não há um problema de coesão e, por isso, como tenho e dito — e as pessoas têm constatado -, o essencial tem sido assegurado, a estabilidade das políticas” defendeu.

“Não contem” com ‘bomba atómica’

O Presidente da República afirmou que “não contem com a ideia de dissolver o Parlamento”, em resposta ao “coro de críticas em relação à governação”, declarando-se “de uma estabilidade em termos institucionais total”.

Em declarações aos jornalistas, na Fundação Champalimaud, em Lisboa, Marcelo Rebelo de Sousa referiu que já tinha assumido esta posição recentemente, perante “um crescendo nalguns setores da opinião pública portuguesa no sentido de uma visão crítica culminando inevitavelmente nessa escalada para a dissolução”.

E reiterou-a: “Não, não contem comigo com isso. Portanto, é melhor, à partida, não contarem. Contam comigo para ter o mesmo comportamento institucional que tive durante sete anos”.

“O Presidente da República, perante aquilo que parecia para muitos um coro de críticas em relação à governação apontando quase para a dissolução, disse: não, não contem com a dissolução. Agora, é fundamental que o Governo governe e governe bem”, acrescentou.

Sobre o facto de apontar 2023 como um ano decisivo, o chefe de Estado sugeriu que seja visto, não como um ultimato ao executivo de António Costa, mas como a opção de dar “mais tempo ao Governo para poder preencher certos objetivos nacionais que são fundamentais”.

Daniel Costa, ZAP // Lusa

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