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“Cortei o nome de Manuel Vicente dos autos com um x-ato”

Manuel de Almeida / Lusa

Em tribunal, uma ex-funcionária do DCIAP revelou que Orlando Figueira ordenou que o nome de Manuel Vicente fosse retirado dos autos do processo Portmill.

Esta terça-feira, a ex-funcionária do Departamento Central de Investigação e Ação Penal, Isabel Conceição, foi ouvida pelo coletivo de juízes que julga a Operação Fizz. No mesmo dia, era suposto que o coletivo de juízes ouvisse Maria de Lurdes Lemos, ex-mulher de Orlando Figueira, mas esta recusou ser ouvida.

Mais tarde, Maria de Lurdes arrependeu-se da decisão, mas o juiz presidente Alfredo Costa impediu-a de depor recordando que a ex-mulher do procurador já tinha renunciado ao seu direito.

Dessa forma, o depoimento de Isabel Conceição, antiga funcionária do DCIAP que trabalhou com Orlando Figueira, marcou a sessão judicial de terça-feira.

A ex-funcionária começou por dizer que o procurador exigia mais rapidez no cumprimento dos atos processuais que envolviam o ex-vice-presidente de Angola, Manuel Vicente, em comparação com outros processos.

Isabel Conceição revelou também ter ficado muito surpreendida quando Orlando Figueira lhe ordenou que o nome do ex-vice presidente angolano fosse retirado dos autos do caso Portmill – relacionado com a aquisição de imóveis de luxo no Estoril e que está na origem da Operação Fizz, por ter sido mandado arquivar por Orlando Figueira, revela o Observador.

A ex-funcionária recorda todo o processo: “Fiquei a pensar como havia de cumprir isto. Nunca tinha cumprido um despacho assim. Se passasse corretor branco, ia-se notar. Se usasse um marcador preto, também. Experimentei várias formas e acabei por tirar fotocópias e cortar o nome com um x-ato“.

De acordo com o Ministério Público, o procurador Orlando Figueira terá recebido de Manuel Vicente 700 mil euros para arquivar processos que corriam contra si em Portugal.

Orlando Figueira conseguiu que Manuel Vicente fosse investigado num processo à parte – que depois seria arquivado – e mandado apagar as referências ao nome de Manuel Vicente de todo o processo, segundo a teoria do MP.

Em tribunal, Isabel Conceição disse que decidiu recorrer ao x-ato depois de pedir ajuda a colegas seus para tentar descobrir a melhor forma de cumprir a tarefa eficazmente e que um deles ainda duvidou da hipótese de recortar as folhas, mas a funcionária ter-lhe-á respondido: “E o que queres que eu faça? Que vá ter com o sr. dr. Orlando Figueira a dizer que não concordo com o despacho?”

Uma das juízas questionou a ex-funcionária sobre porque é que não tinha perguntado a Orlando Figueira qual a melhor forma de cumprir o despacho, uma vez que tinha dúvidas. Isabel Conceição respondeu apenas que não questionava as ordens que recebia.

ZAP //

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