PSD exige mais detalhes ao Governo, o qual se escuda no facto de o documento ainda não estar fechado.
O que deveria ser uma obra estruturante para o país e consensual entre os diversos agentes políticos está a motivar uma acesa troca de argumentos entre o Governo e o principal partido da oposição. Tudo começou com a reação de Paulo Rangel, vice-presidente dos sociais-democratas, ao anúncio do acordo feito entre Portugal-Espanha-França, o qual catalogou como mau para o país.
“Trocámos o valor das nossas renováveis e o potencial do Porto de Sines por um prato de lentilhas. Dito de um modo popular, passámos de cavalo para burro”, disse o também eurodeputado. “É um mau acordo para Portugal, porque perdeu na eletricidade e no gás face a França e Espanha.”
A mensagem foi reforçada por Luís Montenegro, líder do PSD, que afirmou que no lugar de António Costa não assinaria o acordo. “O PSD não assinaria este acordo nos termos em que ele foi anunciado”, acusando o António Costa de se ter ficado “pelas meias verdades”, como em situações anteriores.
As críticas do lado social-democrata chegaram também dos membros do partido que não estão alinhados com Montenegro, como é o caso de Jorge Moreira da Silva, seu antigo adversário nas últimas eleições internas do partido, mas também antigo ministro do Ambiente no Governo de Passos Coelho. O responsável disse mesmo que o acordo era um “embaraço“.
Perante este mar de críticas, António Costa mostrou-se ontem “absolutamente perplexo” com as reações ao “fim de um bloqueio histórico”. O primeiro-ministro prometeu ainda “todas as explicações” sobre o projeto aos portugueses, mas recusou-se a aceder ao pedido de Paulo Rangel para que fosse ouvido no Parlamento, lembrando que este “não é sequer deputado” e acusando-o de “não perceber nada de energia”. “Já nos habituou a dizer o que for preciso para atacar os adversários”.
O chefe do Governo garantiu que o país não ficou a perder ao nível das interligações, as quais “não foram abandonadas, pelo contrário, França até tem vontade de as incrementar”. No entanto, não deu mais esclarecimentos. “Já no ano passado, entre França e Espanha, tinha sido assinado um acordo para fazer avançar as duas interconexões elétricas e não era isso que estava a bloquear as interconexões, mas o que tinha que ver com o gasoduto“.
A resposta do Governo fez-se também pelas vozes de Mariana Vieira da Silva, ministra da Presidência, e de Duarte Cordeiro, ministro do Ambiente. No caso da primeira, acusou os sociais-democratas de serem uma oposição sempre crítica. “Quando não há acordo é mau e quando há é mau, é sempre mau.” Já Duarte Cordeiro sustentou que se trata de “uma grande vitória para Portugal”.
Em todas as declarações do PSD há uma mensagem que predomina: a necessidade de o Governo divulgar mais detalhes sobre o acordo, apesar de António Costa e respetivos governos assegurarem que tal só será possível quando o mesmo for desenvolvido na próxima reunião entre os três países, prevista para 8 e 9 de dezembro.