Guerra: a contraofensiva da Ucrânia já começou

STR / EPA

Ucranianos atacam logística das forças russas na margem esquerda do rio Dnieper. Mas autoridades tentam gerir as expectativas de sucesso.

A esperada contraofensiva da Ucrânia contra as forças russas “já avança lentamente, com passos pequenos mas seguros”, afirmou hoje a porta-voz do Comando Sul do Exército Ucraniano.

A Ucrânia está atacar a logística das forças russas na margem esquerda do rio Dnieper, uma estratégia que já funcionou no final do ano passado, na reconquista de Kherson, região sul, mas as autoridades ucranianas tentam ao mesmo tempo gerir as expectativas de sucesso.

Nataliya Humeniuk, porta-voz do Comando Sul do Exército Ucraniano, garantiu que as forças ucranianas minam as capacidades de combate do inimigo, destruindo os seus depósitos de munições e pontos de concentração de militares.

Segundo a porta-voz, estas atividades já fazem parte das ações no âmbito da contraofensiva “que todos esperam”.

O Instituto para o Estudo da Guerra norte-americano (ISW) também indicou que o contra-ataque ucraniano possivelmente já está em andamento na margem esquerda do rio Dnieper, para onde as tropas russas se retiraram em novembro.

No entanto, o ministro da Defesa ucraniano, Oleksii Reznikov, já veio a público conter as expectativas da contraofensiva.

“Toda a gente quer uma nova vitória, que antes não se acreditava. Antes, queriam que a Ucrânia sobrevivesse de alguma forma e pelo menos parte do país fosse preservada”, afirmou ao canal RBC Ucrânia.

Após vários sucessos, inclusive em Kharkiv e Kherson, todos “querem outra vitória”, afirmou Reznikov, frisando que “é normal, são emoções e esperanças de sucesso”.

O Washington Post informou anteriormente, com base em dados dos serviços de informações dos Estados Unidos tornados públicos, que a contraofensiva ucraniana poderia terminar com “ganhos territoriais moderados”.

Entretanto, Moscovo, segundo o mesmo jornal, poderá financiar a guerra “pelo menos mais um ano”.

Ao mesmo tempo, de acordo com o comandante do Comando Supremo Aliado na Europa, Christopher G. Cavoli, as forças ucranianas estão agora em “boa posição” para contra-atacar.

Segundo fontes russas, Kiev planeia contra-atacar também na região de Zaporijia, no sul do país.

Ao mesmo tempo, antes de partir para o ataque, as Forças Armadas ucranianas “pretendem realizar uma série de manobras de distração”, disse Vladimir Rogov, líder do movimento “Juntos com a Rússia” em Zaporijia.

Segundo Rogov, o golpe principal será na parte central da frente de Zaporijia, entre as cidades de Orekhov e Guliaipolé, a que se seguirá um ataque na parte ocidental da região.

Entretanto, o líder russo de Donetsk (leste), Denis Pushilin, afirmou que as forças de Moscovo tomam “medidas exaustivas” para que o “inimigo não consiga nada” durante a contraofensiva.

Pushilin também se referiu à possível data para o início do contra-ataque e duvidou que seja no início de maio, como sugerido anteriormente pelo chefe do grupo mercenário Wagner.

Quase todos os veículos entregues

O secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, disse que os estados-membros da Aliança e os países parceiros entregaram mais de 98% dos veículos de combate prometidos à Ucrânia.

O dirigente norueguês explicou que a percentagem se traduz em mais de 1.550 viaturas blindadas, 230 tanques e outros equipamentos, incluindo grandes quantidades de munições.

Stoltenberg acrescentou que mais de nove novas brigadas blindadas ucranianas foram treinadas e equipadas, o que colocará a Ucrânia “numa posição forte para continuar a retomar o território ocupado”.

No plano político, o Kremlin negou hoje que a conversa entre os presidentes da China, Xi Jinping, e da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, vá influenciar os objetivos da intervenção militar, que já leva 428 dias.

“Congratulamo-nos com tudo o que possa aproximar o fim do conflito e que a Rússia alcance todos os seus objetivos”, disse o porta-voz da Presidência russa, Dmitri Peskov.

Por sua vez, Zelensky defendeu após a conversa com Xi que agora há uma oportunidade de usar a influência política de Pequim para restaurar a paz.

“Costuma-se dizer que essas negociações abrem oportunidades. Agora há uma oportunidade de dar um novo impulso às nossas relações: Ucrânia e China”, disse o líder ucraniano.

Ataques russos, oito mortos

As autoridades ucranianas informaram que foram registados esta madrugada ataques russos a várias cidades ucranianas, causando pelo menos oito mortos, tendo sido ativada a defesa aérea em Kiev.

“[Os mísseis] voltaram a matar civis em Dnipro. Uma mulher jovem e uma criança de três anos morreram”, avançou o presidente da câmara da cidade, Borys Filatov, na plataforma Telegram.

O município da capital comunicou, também no Telegram, a ativação dos sistemas de defesa antiaérea em Kiev, pela primeira vez em quase dois meses, apelando aos residentes para se manterem abrigados.

Em Uman, uma cidade com cerca de 80.000 habitantes no centro do país, o porta-voz da polícia regional, Zoya Vovk, disse no Telegram que um míssil atingiu um prédio residencial de nove andares, provocando pelo menos seis mortos e 17 feridos, que estão a ser tratados nos hospitais da região.

“O ataque com mísseis [a Uman] foi lançado enquanto os civis dormiam. Típico de terroristas russos”, escreveu no Telegram o chefe do gabinete presidencial ucraniano, Andriy Yermak.

O líder das Forças Armadas da Ucrânia, Valeri Zaluzhni, disse num comunicado que as defesas do país conseguiram abatar dois drones e 21 dos 23 mísseis lançados pela Rússia, incluindo 11 em Kiev.

Embora a Rússia tenha bombardeado regularmente cidades e infraestruturas ucranianas no inverno, os ataques maciços tornaram-se mais raros nos últimos meses.

A maior parte dos combates está agora a decorrer no leste, pelo controlo da região industrial de Donbass, incluindo a cidade de Bakhmut, que foi quase completamente destruída.

// Lusa

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