O 38.º congresso do PSD arranca, nesta sexta-feira, em Viana do Castelo e vai consagrar Rui Rio como líder do partido. Um momento que se espera que marque uma nova era de união no PSD, embora com o “fantasma” de Passos Coelho a pairar, na certeza de que “se Rio conseguir aguentar” a liderança da oposição, chegará a primeiro-ministro.
Esta previsão é de Miguel Poiares Maduro, antigo ministro do Governo de Passos Coelho, que vai ao Congresso em Viana do Castelo com o intuito de vincar a importância de que “o PSD não pode ser um partido dividido“. “Tem de ser a preocupação de todos, quer quem ganhou, quer quem perdeu, voltar a unir o partido”, salienta em entrevista à TSF, onde foi também confrontado com o possível regresso de Passos Coelho à vida política activa.
“Nunca digo “nem que Cristo desça à Terra” porque Cristo já desceu muitas vezes à Terra na política portuguesa e, portanto, não faço afirmações desse tipo”, analisa Poiares Maduro sobre o ex-líder do PSD, notando que Passos Coelho “é uma pessoa com enormes qualidades, que terá um futuro na política portuguesa“.
Apesar disso, Poiares Maduro refere que não o vê “no curto médio prazo a voltar à liderança do PSD”. “Acho que ele próprio não pretende isso e, provavelmente, o futuro político dele não passa por isso”, acrescenta, embora certo de que “ele é uma mais-valia para o país, em termos políticos, e que no futuro pode voltar a exercer funções políticas no país ou até representando o país a nível internacional”.
As incógnitas do Congresso
É com este “fantasma” do possível regresso de Passos Coelho que Rui Rio se vai apresentar no Congresso para consolidar a sua liderança, depois de ter sido reeleito presidente do PSD e após uma semana em que protagonizou um intenso debate orçamental com a proposta de redução do IVA da luz.
Rui Rio foi reeleito para um segundo mandato à frente do PSD com 53,2% dos votos, contra 46,8% de Luís Montenegro, depois de, na primeira volta, ter falhado por pouco a necessária maioria absoluta dos votos expressos, com 49%. Pelo caminho, ficou o terceiro candidato, o presidente da Câmara Municipal de Cascais, Miguel Pinto Luz, que conseguiu 9,5% dos votos.
Rio já disse esperar “um congresso tranquilo”, mas frisando que tal não significa ausência de críticas, até para “dar vivacidade” à reunião.
Na noite eleitoral, Luís Montenegro assegurou que iria ao Congresso de Viana do Castelo e enquadrou a sua participação como “um contributo para o debate”. O antigo líder parlamentar do PSD recusou que a derrota nas directas significasse a sua “morte política”, mas garantiu que vai manter o low profile, nos próximos tempos, regressando à sua condição de militante de base.
Uma das dúvidas do 38.º Congresso será o grau de renovação que Rio irá fazer nos órgãos nacionais para o seu segundo mandato, com o próprio a assegurar que não fará “uma revolução”, mas também que “não ficará tudo na mesma”.
As saídas de Elina Fraga e de José Manuel Bolieiro (que tem assento por inerência na Comissão Política Nacional como líder do PSD/Açores) têm sido apontadas como certas, bem como um reforço do papel de Joaquim Sarmento – porta-voz do partido para as Finanças Públicas – na direcção.
O Conselho Nacional, órgão máximo do partido entre congressos, será como habitualmente o espelho das várias sensibilidades do partido, sendo já certas, além da lista da direcção, outra de apoiantes de Montenegro – que deverá ser encabeçada pelo presidente da Câmara Municipal de Famalicão, Paulo Cunha -, uma de Carlos Eduardo Reis (que liderou a segunda lista mais votada no último Congresso) e uma com o presidente da distrital de Setúbal, Bruno Vitorino, como primeiro nome.
Também Joaquim Biancard Cruz deverá voltar a apresentar uma lista ao Conselho Nacional (com nomes como o deputado Duarte Marques e a eurodeputada Lídia Pereira), tal como o deputado e ex-candidato a líder da JSD André Neves.
Miguel Pinto Luz já anunciou que irá ao Congresso de Viana, onde fará uma intervenção, mas não integrará nem “se associará” a qualquer lista ao Conselho Nacional, embora Bruno Vitorino tenha sido um dos seus mais destacados apoiantes.
Rui Rio anunciou na noite das directas que não iria, ao contrário do que fez há dois anos, tentar uma lista de unidade com o candidato derrotado, assumindo que teria uma lista própria ao Conselho Nacional.
O 38.º Congresso do PSD tem arranque previsto para as 21 horas, com a apresentação da moção global de estratégia pelo líder, Rui Rio, que voltará a falar aos congressistas no domingo.
Em Viana do Castelo, serão também apresentadas entre a noite desta sexta-feira e a manhã de sábado 13 moções sectoriais ao Congresso, com temas como a introdução de primárias no PSD, a eutanásia ou a Segurança Social.
ZAP // Lusa