Manifestantes anti-Governo envolveram-se hoje em confrontos com os militares leais ao Presidente venezuelano, Nicolás Maduro, numa base aérea de Caracas, horas após o apelo do líder da oposição, Juan Guaidó, para uma sublevação militar contra o regime.
Caracas acordou hoje com os líderes da oposição ao regime de Nicolas Maduro a anunciarem um golpe de Estado, ao lado de um grupo de soldados, mas ao longo do dia não houve progresso na situação, que continua dominada pelo governo eleito.
Durante a tarde, tanques da Guarda Nacional Bolivariana avançaram contra manifestantes nas ruas de Caracas e perseguiram grupos de civis, após serem alvo de disparos e apedrejamento.
Imagens transmitidas por estações televisivas locais e estrangeiras mostraram um veículo blindado a avançar sobre um grupo de pessoas que se manifestava em apoio aos militares sublevados contra Maduro na capital, em frente a La Carlota, a base aérea perto da qual Guaidó anunciou de manhã a adesão de militares à sua causa.
As agências noticiosas confirmaram ainda vários feridos, entre as pessoas que se manifestaram nas ruas, mas não há confirmação a existência de qualquer morte.
Naquele que já é considerado o maior desafio ao poder de Nicolás Maduro desde que o presidente do parlamento venezuelano, Juan Guaidó, se autoproclamou Presidente interino da Venezuela, em janeiro deste ano, o líder da oposição saiu hoje de manhã à rua com o recém-libertado ativista Leopoldo López, acompanhado por um pequeno contingente de soldados fortemente armados.
Os líderes oposicionistas divulgaram um vídeo de três minutos, filmado perto da base aérea, emitindo um apelo aos civis e às Forças Armadas para se revoltarem e deporem o dirigente socialista Nicolás Maduro.
Leopoldo Lopez pediu entretanto proteção à embaixada do Chile. Segundo revelou o ministro dos Negócios Estrangeiros chileno, Roberto Ampuero, López está neste momento na embaixada do Chile em Caracas. A mulher do opositor, Lilian Tintori, e uma filha do casal, já estavam na embaixada.
Leopoldo López, que tinha sido condenado em 2014 a 14 anos de prisão em regime domiciliário, depois de vários anos submetido a tortura numa prisão militar, foi libertado esta manhã por Guaidó e pelos militares no decurso da “Operação Liberdade”, nome dado pelos revoltosos à tentativa de Golpe de Estado em curso.
Maduro continua a dominar quartéis e bases militares
Apesar de Juan Guaidó ter afirmado ao longo do dia que tinha os militares do seu lado, as agências noticiosas em Caracas não detetaram qualquer tomada de base militar pelos opositores ao regime de Nicolas Maduro, cujo mandato não é reconhecido por mais de 50 países.
No início da manhã de hoje, Juan Guaidó, fez uma transmissão vídeo para o país, anunciado que tinha os militares ao seu lado e que se encontrava na base militar La Carlota, nos arredores de Caracas.
Na verdade, o vídeo foi gravado num dos acessos à base militar, que continuava dominada por soldados fiéis a Nicolas Maduro, com os militares pró-Guaidó a serem impedidos de se aproximar da base militar.
O número de soldados que ao longo do dia acompanhou os líderes da oposição, Juan Guaidó e Leopoldo López, em Caracas, não terá excedido 40, embora não seja possível comprovar se noutras regiões do país haverá mais soldados contra o regime de Nicolas Maduro. Não há notícia de qualquer deserção de altas patentes militares fiéis ao Presidente eleito.
Os militares que surgem ao lado de Guaidó estiveram sempre fortemente armados e identificados por fitas azuis para se protegerem de ataques de gás lacrimogéneo.
As agências noticiosas confirmaram disparos para o ar, do lado de soldados pró-Maduro e do lado de soldados pró-Guaidó, não sendo certo se chegou a haver tiros disparados diretamente para o lado inimigo.
Contudo, na sua conta da rede social Twitter, o ministro da Defesa, Vladimir Padrino, disse ter havido um coronel leal a Maduro que teria sido atingido por uma bala vinda dos soldados pró-Guaidó.
Alguns utilizadores indicaram, ao longo do dia, que perderam o acesso às redes sociais, enquanto as comunicações telefónicas estiveram muitas vezes interrompidas.
Familiares de portugueses devem contactar embaixada
O Governo já pré-ativou os mecanismos de apoio aos portugueses e luso-descendentes que vivem na Venezuela, na sequência das movimentações militares naquele país, mas ainda não tem pedidos de ajuda, disse hoje o ministro dos Negócios Estrangeiros.
“Já pré-ativámos os mecanismos de apoio à nossa disposição”, garantiu Augusto Santos Silva em declarações aos jornalistas na China, onde está a acompanhar a visita do Presidente Marcelo Rebelo de Sousa.
Recomendando que “tomem as devidas medidas de segurança indispensáveis nesta altura”, Santos Silva adiantou que “os diferentes departamentos do Governo encarregados de providenciar apoio, se necessário, já estão a trabalhar nesse sentido”.
Para tal, adiantou, o secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, que estava em Londres a caminho do Canadá, adiou a viagem “e está a deslocar-se para Lisboa”. De acordo com o ministro, um dos apoios previstos é ajudar no regresso de portugueses e lusodescendentes que assim o peçam ao Governo.
O secretário de Estado das Comunidades Portuguesas adiantou entretanto também que os cidadãos nacionais que tenham dificuldades em contactar as famílias na Venezuela devem recorrer à embaixada ou aos movimentos associativos da comunidade lusófona naquele país.
“Os portugueses que tenham dificuldades no contacto com as famílias podem fazer o contacto com a embaixada e procurar articular-se com o movimento associativo português”, afirmou José Luís Carneiro, referindo que as associações naquele país estão “em contacto com milhares de portugueses”.
Em conferência de imprensa em Lisboa, depois de uma reunião que juntou governantes, entre os quais o ministro da Defesa, José Luís Carneiro admitiu que “possa haver interrupções ou falhas dos serviços consulares”, porque algumas vias de comunicação foram hoje bloqueadas.
ZAP // Lusa