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Confirmados dois mortos no aluimento em Borba. Estrada estava assinalada há quatro anos

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Nuno Veiga / Lusa

Autoridades adiantaram que há ainda quatro desaparecidos

O aluimento de terras numa estrada do concelho de Borba, que arrastou para dentro de uma pedreira uma retroescavadora e duas viaturas, provocou, pelo menos, duas vítimas mortais, avançou o Comandante Distrital de Operações de Socorro de Évora (CODIS), José Ribeiro.

De acordo com o responsável, os corpos encontrados são de dois operários da empresa que explora a pedreira. A Proteção Civil avançou que há também quatro desaparecidos, pelo que o número de vítimas mortais pode vir a aumentar.

O Ministério Público já anunciou a abertura de uma investigação às circunstâncias do acidente, procedimento que é normal neste tipo de situações.

As primeiras informações, divulgadas ao fim da tarde desta segunda-feira, davam conta de “quatro a cinco pessoas submersas” na sequência do deslizamento de terras.

António Anselmo, Presidente da Câmara Municipal de Borba, confirmou que o acidente provou vítima mortais, em número ainda desconhecido. “Lamentavelmente e tragicamente há mortos. Quantos? Não podemos dizer“, disse o autarca em declarações à agência Lusa, sublinha que aguarda mais informações por parte das autoridades.

Assumindo que se trata de um “dia triste” para o concelho de Borba, distrito Évora, António Anselmo afirmou que espera que sejam apuradas as causas do aluimento de terras, num troço da Estrada Nacional (EN) 255. O piso da estrada abateu para dentro de duas pedreiras, que ficam contíguas à via, uma ativada e outra desativada, segundo fontes locais contactadas pela Lusa.

“Vamos ver o que é que se passou exatamente e agir de acordo com o necessário”, disse o autarca, eleito por um movimento independente.

Questionado sobre se existiam indícios de que a situação pudesse vir a ocorrer naquela estrada, António Anselmo rejeitou tratar-se de uma “tragédia anunciada”. “Eu penso que não, nunca na vida. É uma tragédia, é um acidente”, afirmou o autarca.

Em conferência de imprensa conjunta com a Proteção Civil, que decorreu no quartel de Bombeiros de Borda, o autarca referiu estar de “consciência tranquila”, sublinhando ainda que o município respondeu “de imediato” ao acidente.

“Os trabalhos são muito difíceis, só quem não conhece as pedreiras é que não sabe o que está ali, uma pedra pequena pode matar alguém”, alertou.

Questionado sobre a segurança na antiga EN 255, agora da responsabilidade dos municípios de Borba e de Vila Viçosa, António Anselmo referiu que as conversações que manteve com a Direção Regional de Economia do Alentejo, entidade que tutela as pedreiras, é que “as coisas estavam encaminhadas no sentido de ser segura (estrada)”.

“O que temos em termos legais e de conhecimento é que a situação estava perfeitamente segura”, disse, acrescentando ainda: “Se a autarquia tiver alguma responsabilidade quem a tem sou eu”.

“Quando morre alguém dói muito, quando morre alguém da minha terra ainda me dói muito mais”, disse António Anselmo, lamentando as vítimas mortais já confirmadas.

Operação demorada e de grande complexidade

A operação de busca e resgate de vítimas do deslizamento de terras é “de grande complexidade” e poderá durar horas ou dias, segundo um especialista ouvido pela Lusa.

“É, de facto, uma operação de grande complexidade, por várias razões“, e “pode demorar horas ou vários dias“, dependendo da “maior ou menor dificuldade” no acesso às vítimas, disse o presidente da Associação Portuguesa de Técnicos de Segurança e Proteção Civil (AsproCivil), Ricardo Ribeiro.

O também comandante dos Bombeiros Voluntários de Paço de Arcos frisou também a grande complexidade do resgate deveu-se, ainda no dia de ontem, ao facto de já estar a anoitecer. Além disso, acrescentou, há ainda o fator distância entre o teatro de operações e “alguns meios diferenciados de socorro”, como equipas de mergulhadores.

De acordo com as informações disponíveis, frisou, a parte da pedreira onde ocorreu o deslizamento de terras “não tem acesso direto, ou seja, o acesso é feito verticalmente, através de meios mecânicos”.

“Portanto, há a necessidade de fazer o socorro através daquilo a que chamamos o grande ângulo, ou seja, através de corda e com uma maca de evacuação vertical”, explicou.

Depois, continuou, “há um outro aspeto a ter em conta, que é a segurança das equipas de socorro”, porque as autoridades “ainda estão a avaliar o risco de haver continuidade de movimentação de terras”, ou seja, de novos deslizamentos.

A “grande complexidade” da operação advém também do facto de não haver visibilidade na área líquida da pedreira para se encontrar as vítimas e de, para já, não se saber o local exato das vítimas, quantas vítimas são e em que estado estão, ou seja, se estão dentro ou fora das viaturas arrastadas, se estão só subterradas ou só submersas ou se estão subterradas e submersas, explicou.

Troço estava assinalado há quatro anos

Face ao acidente, o bastonário da Ordem dos Engenheiros afirmou nesta terça-feira que está “estupefacto”, referindo que a situação já era conhecida e que a “medida adequada” era encerrar a estrada.

“Infelizmente tenho de mostrar alguma estupefação sobre o que aconteceu e como foi possível acontecer. Era uma situação que estava identificada pelo menos há quatro anos, já tinha sido equacionada a possibilidade de encerrar a estrada”, disse Mineiro Aires.

Para os habitantes locais, este acidente não foi uma surpresa absoluta, nota a SIC Notícias. De acordo com o canal, o perigo no troço desta estrada tinha já sido noticiado num artigo do jornal “Diário Campanário”.

O artigo, publicado online a 21 de novembro de 2014, dava conta da possibilidade da estrada vir a ser encerrada. O administrador de uma das empresas extratoras de mármore assumiu que, apesar dos trabalhos de sustentação dos taludes, havia risco de fraturação das paredes da pedreira.

O “Diário Campanário” adiantou também que a Direção Regional da Economia equacionava, na altura em que o artigo foi publicado, a hipótese de ser extinta a estrada. A publicação também a existência de um estudo do Laboratório Nacional de Engenheira e Geologia que confirmava a perigosidade da situação.

Em declarações à RTP na manhã desta terça-feira, o empresário Luis Sotto Mayor, proprietário de uma das pedreiras, considerou que o acidente “era expectável”, notando que já “há alguns anos” a empresa tinha alertado para esta situação.

E, nesse sentido, sustentou, houve uma reunião que contou com a presença da “entidade regional”, na qual foram apresentadas “soluções, mas não houve consenso para resolver o problema e empurrou-se para a frente”, disse.

As operações de socorro mobilizavam, pelas 10h11 desta manhã, 55 operacionais e 25 veículos das autoridades.

ZAP // Lusa

10 Comments

  1. Estava assinalada! Muito bom! basta assinalar e deixamos de ser responsáveis. Como a seguir ninguém quer fazer nada fica resolvido por si mesmo!
    Nas situações de violência domestica e pobreza extrema também é igual, assinala-se e já está!
    Típico do funcionalismo publico!
    É fazer uma “cativação” (à Centeno) destes episódios maus e assim portugal fica mais cor de rosa!
    O presidente de camara já se veio descartar agora é ver a culpa morrer solteira mas primeiro fazer uma comissão para investigar! Não esquecer!
    E claro que a protecção civil veio logo dizer que a operação é muito complexa. Tem de fazer por merecer o seu custo e por isso nunca há trabalhos fáceis!
    Curioso foi ver hoje pelas 7h00 da manha um canal de TV em directo do local a dizer que não houve trabalhos a decorrer durante a noite e que aguardavam a luz do dia para começar e depois às 8h00 ouvir na radio que os trabalhos de salvamento decorreram durante toda a noite!
    Ainda bem que não temos situações em que a vida está em perigo entre as 18h00 e as 8h00. Podiam experimentar privatizar a protecção civil só por curiosidade…

  2. Foi privada enquanto os Bombeiros Voluntários davam o corpo ao manifesto 24 horas por dia.Hoje os profissionais das diversas forças terão de trabalhar em condições de segurança, eficácia e segundo o horário de serviço que os impede trabalhar “fora de horas”

  3. O presidente não tem culpa sobre uma estrada da sua responsabilidade? Os donos da pedreira não têm culpa por explorarem até às bordas da estrada(Será que queriam fazer uma ponte entre as pedreiras que ladeiam a estrada?)? As Estradas de Portugal não têm culpa por permitirem que se explorasse a pedra colocando em causa a segurança da estrada, quando eram responsáveis pela mesma? A Protecção Civil é que é a salvação da patria e arredores? Todos se defendem e ninguem tem culpa? o que importa agora é chorar os mortos e ganhar mais uns milhares com operações de resgate da treta, extremamente complexas e sem fim à vista?
    Pois a coisa é assim:
    1- As camaras têm culpa por não terem colocado avisos de perigo, ter interditado a estrada e criar vias alternativas;
    2- Os donos das pedreiras têm culpa por terem levado a exploração até aos limites da estrada(Não passem a culpa para o técnico, pois, normalmente são pau mandado destes empresários, senão Rua);
    3- As Estradas de Portugal têm culpa por terem permitido(enquanto gestoras da estrada) que a exploração da pedra tivesse chegado até junto da estrada, deveriam ter criado uma distância de proteção estrutural.
    4- A Proteção Civil tem culpa por não ter tomado as medidas preventivas para promover o corte da estrada.
    Isto só pode ter chegado onde chegou, com muita Corrupção.
    Agora chorem, pois todos têm muito que chorar, os culpados estão identificados é só haver vontade de os chamar à justiça e pagarem pelos homicidios involuntários que praticaram.

  4. Sentimentos ás famílias e descanso em paz aos infelizes.
    Mais uma vez a Protecção Civil para que serve?????? para dizer que vai chover muito e fazer calor?
    Pelas imagens da TV 3 a 4 elementos foram lá abaixo retirar os corpos cá em cima uns 60 e tal engenheiros 20 do INEM da 20 GNR e 20 e tal da Protecção Civil.
    Jornalistas bué ao fim do dia lá vem o governo mais os assessores e etecetras passear e blá blá. Oposição inclusive.
    Se já sabiam há 4 anos porque ninguém actuou para interditar a via no mínimo autorizada só para a obra! A protecção civil porque não actuou antes???. Antes não dá noticia aos “pimpões”
    Alcafache
    Entre-os-rios
    Borba, o que se segue? uma barragem?
    Só um palpite: pelas imagens as viaturas devem estar muito provalvelmente por cima, e não por baixo do entulho no fundo porque em vez de estarem se calhar dias á espera de tirar a agua toda de lá porque não montam uma grua com um eletroimã tipo as dos ferro-velho??

  5. Tantas vezes passei nesse local. A última foi há cerca de 3 anos.
    Pena tenho de nunca me ter apercebido da situação. Ai teria posto logo a “boca no trombone”. E não seria meigo, não.
    Agora resta lamentar o sucedido. Indemnizar as famílias das vítimas. Mas tudo isso é simples demais.
    Lamentar não resolve nada. Indemnizar sim, faz todo o sentido. Mas não deve ser o Estado, enquanto entidade abstracta, a fazê-lo. Deve, sim, quem foi e é directamente culpado da situação, a saber:
    A empresa exploradora do mármore; os responsáveis do município (não o município) que autorizaram
    a exploração até àquele limite; os responsáveis de outros organismos públicos e órgãos do Poder (não tais organismos) que tivessem conhecimento do problema e não impediram que ele se desenvolvesse.
    Só sendo os próprios responsáveis, directos e indirectos, a sofrer as consequências, os problemas poderão deixar de existir. Porque se forem os dinheiros públicos (o meu e o de todos que pagam impostos) a ressarcirem quem quer que seja pelas irreparáveis perdas, nunca mais lá vamos.

  6. O presidente não tem culpa sobre uma estrada da sua responsabilidade? Os donos da pedreira não têm culpa por explorarem até às bordas da estrada(Será que queriam fazer uma ponte entre as pedreiras que ladeiam a estrada?)? As Estradas de Portugal não têm culpa por permitirem que se explorasse a pedra colocando em causa a segurança da estrada, quando eram responsáveis pela mesma? A Protecção Civil é que é a salvação da patria e arredores? Todos se defendem e ninguem tem culpa, o que importa agora é chorar os mortos e ganhar mais uns milhares com a desgraça alheia.
    Pois a coisa é assim:
    1- As camaras têm culpa por não terem colocado avisos de perigo, ter interditado a estrada e criar vias alternativas;
    2- Os donos das pedreiras têm culpa por terem levado a exploração até aos limites da estrada(Não passem a culpa para o técnico, pois, normalmente são pau mandado destes empresários, senão Rua);
    3- As Estradas de Portugal têm culpa por terem permitido(enquanto gestoras da estrada) que a exploração da pedra tivesse chegado até junto da estrada, deveriam ter criado uma distância de proteção estrutural.
    4- A Proteção Civil tem culpa por não ter tomado as medidas preventivas para promover o corte da estrada.
    Isto só pode ter chegado onde chegou, como? Corrupção?
    Agora chorem, pois todos têm muito que chorar, os culpados estão identificados é só haver vontade de os chamar à justiça e pagarem.

    • Chamados à Justiça e aguentarem com as culpas, sim. Mas os culpados, que são pessoas, seres humanos com responsabilidades, e não os organismos onde trabalham, neste caso os organismos públicos, que não pensam nem sentem.
      É que, como alguém disse no comentário anterior, se forem os organismos a “pagarem as favas”, fazem-no com o nosso dinheiro. Se forem os indivíduos a quem forem imputadas culpas terão de ser eles a suportarem os custos. Assim concordo.

  7. Culpados onde estão? São os tais que estão sempre na linha da frente quando se trata de receber benesses ou medalhas mas que agora se escondem como ratos e sacudindo a água do capote, o senhor PR aquando da sua rápida visita ao local deveria logo lá ter exigido responsabilidades a quem de direito, porque o que lá estava não cabe na cabeça de ninguém tal situação e “responsáveis” locais e nacionais tinham conhecimento da situação.

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