Suplemento probiótico parecia ser um auxílio para milhões de pessoas mas a própria empresa já corrigiu uma informação que tinha publicado.
Foi notícia em muitos países e também passou aqui pelo ZAP: foi colocado à venda no Reino Unido um comprimido que prometia curar a ressaca.
A novidade foi anunciada há três semanas e, no dia seguinte, já não havia stock que supostamente seria vendido nos seis meses seguintes.
O Myrkl deve ser tomado antes da ingestão das bebidas alcoólicas: dois comprimidos uma a 12 horas antes de beber álcool.
Duas bactérias, Bacillus subtilis e Bacillus coagulans, serviriam para regular o intestino, ajudando-o a “livrar-se” do álcool consumido, lê-se no estudo que acompanhou esta divulgação.
Então o suplemento cura a ressaca? Não. A resposta, directa, foi dada por um dos criadores do Myrkl, Frederic Fernandez, no jornal Público.
“A ressaca é uma condição médica e o nosso produto é um suplemento; não visa o impacto do consumo excessivo de álcool. Eu acho que isso está muito claro”, continuou.
Frederic lembra que a empresa considera que o álcool deveria ser proibido e reforça que o novo produto é mais destinado para pessoas que bebem “de vez em quando” e não é para consumidores excessivos.
O ensaio clínico nunca apresenta o Myrkl como cura para a ressaca. E a empresa já retirou a definição de “pílula pré-bebida que funciona”. Para não haver confusão.
O presidente da Secção Regional Norte da Ordem dos Farmacêuticos, Félix Carvalho é directo: “Não acredito nestes resultados”.
E acrescentou: “São resultados no mínimo discutíveis, o ensaio clínico publicado tem demasiadas falhas para se poder chegar a este tipo de conclusão. Estou habituadíssimo a fazer trabalhos experimentais e gráficos, isto para mim é um gráfico de um estudo muitíssimo mal realizado”.
“Eu acho que ninguém demonstrou, e estes autores tampouco, que há um maior metabolismo do álcool por estas bactérias que existem no probiótico. Os probióticos não são aprovados pelas agências de medicamentos, portanto farão parte da legislação sobre suplementos alimentares, que não tem o mesmo tipo de exigência que os medicamentos”, descreveu o professor catedrático.
Félix Carvalho desconfia da própria revista onde o artigo foi publicado, a Nutrition and Metabolic Insights: “É uma revista que existe há muito tempo e não tem índice de impacto. Não conseguiram submeter a revistas com maior índice de impacto”.
Félix Carvalho tem uma solução para a ressaca: “Diminuição da ingestão de álcool”.