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Comprar casa: quando o barato sai caro. Uns “detalhes” fazem a diferença

Götene está – ou estava – a vender o metro quadrado por 9 cêntimos. Um terreno não chega. E quando a casa não está em condições?

Götene passou de cidade anónima a ser notícia em diversos países, incluindo em Portugal.

A cidade na Suécia tem – ou tinha – terrenos à venda pela quantia inacreditável de praticamente 9 cêntimos por metro quadrado. Ou seja, um terreno de 500 m2 ficaria por 45 euros.

Escrevemos “ficaria” porque as vendas estão suspensas. Havia 30 terrenos abandonados a esse preço, mas já há lista de espera nos serviços da Câmara.

No início, ninguém queria saber. Mas um vídeo no TikTok sobre o assunto tornou-se viral e, a partir daí, chegaram propostas de vários países da Europa, da Ásia, da América e até da Austrália.

O processo de venda foi interrompido. Mas ainda há mais terrenos, que serão colocados em leilão daqui a um mês.

E o resto?

O comprador do terreno não pode fazer o que quer e quando quer. Ao comprar o lote, compromete-se com a Câmara Municipal de Götene a construir uma casa no terreno, num prazo máximo de dois anos.

A autarquia quer essencialmente cativar pessoas, agitar a economia e recuperar uma cidade que tem menos de 5 mil habitantes.

Tal como outros pontos da Suécia (e de muitos outros países), esta cidade quase ficou sem jovens – que saem para cidades maiores e com mais oportunidades de emprego.

Por isso, para quem quer fazer o percurso contrário, comprar um metro quadrado por 9 cêntimos é quase um presente. E avançam.

Mas depois vem o resto.

Neste caso, lançam-se várias perguntas: quanto custa a limpeza do terreno? Quanto custa a preparação para água, luz, saneamento, comunicações? E quanto custa construir a casa?

Não temos noção dos valores apresentados na Suécia mas, a julgar pelo que vemos em Portugal, só a preparação do terreno aproxima-se dos 50 mil euros – num serviço “de nível”. E uma casa modular de aproximadamente 130 m2 pode chegar aos 200 mil euros. E depois, como sabemos, aparecem sempre uns “extras”.

O canal Deutsche Welle salienta um caso em Itália para dar outro contexto.

casas a 1 euro (preço base de leilão, depois chegam a alguns milhares de euros) em 50 municípios italianos.

Mas as casas estão em ruínas. E, ao assinar contrato com a Câmara, o comprador tem de assegurar que vai restaurar a casa; em alguns casos também está proibido de alugar a casa.

Aqui entra outra pergunta: quanto custam as obras?

Muitas dessas casas “a 1 euro” são praticamente ruínas e, por isso, a remodelação custa (muitas) dezenas de milhares de euros.

No final, quando fizer as contas, entre a compra da casa em si, mais as obras, mais as burocracias (e se houver dívidas?)… Ficou mais barato do que uma casa pronta?

Nuno Teixeira da Silva, ZAP //

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