IKEA e outras empresas já constroem para reciclar e reciclam para construir, separando os componentes dos colchões e aproveitando-os para cadeiras e sofás vendidos como novos. Maior retalhista da IKEA quer reciclar tantos colchões quanto os que vende em todo o mundo.
Todos os anos, milhões de colchões usados são deitados fora e vão morrer a aterros ou incineradores. Mas a IKEA — que também já tem o seu “OLX” para ajudar o ambiente — “mata dois coelhinhos de uma cajadada só”: aproveita-os e reinventa-os para depois dar à luz a mobiliário novo, enquanto diminui o desperdício ambiental.
Atualmente, nos Países Baixos, por exemplo, cerca de 50% dos colchões usados são reciclados, graças a iniciativas como a RetourMatras, empresa holandesa especializada na reciclagem de colchões que separa os componentes principais dos colchões velhos (espuma de poliuretano, espuma de látex e molas metálicas).
Depois de separar estes componentes, a empresa converte a espuma de poliuretano em blocos de construção químicos que podem ser utilizados para fabricar espuma nova para mobiliário, explica a maior retalhista da IKEA, Ingka, no seu site.
Anteriormente, a espuma de colchão triturada só servia para produtos de menor qualidade, como o revestimento de tapetes, mas hoje a IKEA está a integrar esta espuma reciclada de alta qualidade em produtos como os sofás Ektorp e as cadeiras Poäng para promover um ciclo de produção mais sustentável.
“Estamos a desmontar colchões de há 10 anos atrás”, diz o diretor-geral da RetourMatras, citado pelo Fast Company: “se mudarmos alguma coisa agora, vamos beneficiar daqui a 10 anos.”
O investimento da IKEA na economia circular
O grupo Ingka investiu pela primeira vez na RetourMatras em 2019 para levar a sua capacidade de reciclagem mais longe, abraçando os objetivos de sustentabilidade da empresa, que quer reciclar tantos colchões quanto os que vende em todo o mundo (mais de 11 milhões de unidades foram vendidas pela Ingka no ano passado).
A IKEA Portugal confirma que a tecnologia usada pela sueca ainda não chegou a Portugal, mas a RetourMatras opera atualmente três instalações nos Países Baixos, três no Reino Unido e uma em França, com capacidade para reciclar 2,5 milhões de colchões por ano. Em 2023, a empresa processou 1,6 milhões de colchões, mas prevê crescimento e mais investimento por parte da IKEA.
Construir para reciclar, reciclar para construir
A aposta da IKEA na reciclagem de colchões já se reflete no próprio design dos produtos. Muitos dos seus colchões têm agora capas feitas de poliéster 100% reciclado, que podem ser facilmente removidas e recicladas. Fechos de correr, por exemplo, facilitam a separação de materiais.
“É extremamente fácil abrir o fecho da capa, retirar a espuma e deixar a capa ir para um fluxo de reciclagem diferente”, diz Johan Kroon, programador de produtos da Inter IKEA.
IKEA não está sozinha (mas há desafios)
O fabricante holandês Royal Auping também criou um colchão totalmente circular, Evolve, feito apenas de dois materiais — plástico PET (politereftalato de etileno) e molas de aço. Ao contrário dos colchões de espuma tradicionais, os componentes do Evolve podem ser separados com calor em vez de trituração, que consome demasiada energia.
Um dos maiores desafios continua a ser a recolha de colchões usados. Embora a IKEA aceite colchões velhos nas suas lojas, a recolha em grande escala precisa de apoios dos governos. Vários países europeus já implementaram leis de “responsabilidade alargada do produtor”, obrigando os retalhistas a recolher colchões velhos para reciclagem.