Um relatório da Human Rights Watch detalha como governos em todo o mundo visam incansavelmente dissidentes, jornalistas e opositores, para além das suas fronteiras, recorrendo a ameaças, assédio e até sequestros e assassinatos para silenciar quem consideram ser uma possível como ameaça.
Uma investigação abrangente conduzida pela ONG Human Rights Watch revela a dura realidade de como governos de todo o mundo perseguem dissidentes, jornalistas e críticos além das suas fronteiras, através de ameaças, assédio e medidas mais radicais como sequestros e assassinatos.
O relatório, intitulado “We Will Find You”: Global Look at How Governments Repress Nationals Abroad“, ilustra várias instâncias de repressão transnacional, sublinhando os métodos diversos usados pelos regimes para silenciar a oposição.
Casos destacados incluem o assassinato de um refugiado ruandês no Uganda após receber ameaças do governo ruandês, a extradição e subsequente detenção de um refugiado cambojano da Tailândia para o Camboja, e o sequestro de um ativista bielorrusso de um voo comercial.
Além disso, o relatório lança luz sobre práticas de punição coletiva, como a detenção e interrogatório da família de um ativista tajique, incluindo uma sua filha de 10 anos, no Tajiquistão.
O documento revisita também o mediático assassinato de Jamal Khashoggi, jornalista dissidente morto no interior do consulado saudita em Istambul em 2018, numa operação que a inteligência dos EUA concluiu ter sido aprovada pelo Príncipe Herdeiro Mohammed bin Salman da Arábia Saudita.
O caso de Khashoggi exemplifica os extremos a que os regimes chegam para silenciar a dissensão, incluindo ações sobre famílias dos críticos, prisões arbitrárias, desaparecimentos e vigilância.
O relatório foca ainda casos em que os governos fizeram uso indevido da Interpol, uma organização que junta 195 países no combate à criminalidade internacional, para atacar críticos nacionais além fronteiras.
Examinando mais de 75 casos de repressão transnacional de mais de duas dúzias de governos, o relatório da HRW apela ao reconhecimento internacional destas ações como ameaças significativas aos direitos humanos.
Os autores do relatório instam os governos, as Nações Unidas e outras entidades globais a adotarem medidas políticas robustas alinhadas com os princípios dos direitos humanos para proteger indivíduos e comunidades afetadas por tais táticas repressivas.
A publicação do relatório da HRW ocorre numa altura em que o Supremo Tribunal do Reino Unido está a deliberar um apelo contra a extradição de Julian Assange, fundador do WikiLeaks — um caso que levanta preocupações sobre a liberdade de imprensa em países considerados “civilizados”.