O estudo dos ursos polares pode ajudar-nos a abandonar os químicos e encontrar alternativas naturais para conseguir propriedades anti-congelamento.
Ao contrário dos humanos, que veem a oleosidade do cabelo ou da pele como algo negativo — combatido com produtos químicos —, os ursos polares têm como chave de sobrevivência as suas espessas camadas de gordura.
É graças a ela que o gelo não “cola” nestes animais do polo Norte, habituados a viver com dezenas de graus negativos.
Até agora, podíamos acreditar que a grande quantidade de pelo destes animais seria suficiente para os manter quentes. Mas não é bem assim: é só graças ao óleo que têm por baixo dele que estes ursos conseguem sobreviver ao gelo do Ártico.
“Penso que nunca ninguém olhou para isto”, diz o cientista de ursos polares Andrew Derocher.
Um estudo publicado na Science Advances em janeiro mostra que uma substância oleosa segregada por glândulas na pele dos ursos polares ajuda a evitar que o seu pelo congele em temperaturas negativas.
Através de testes feitos com pelo de urso polar, a equipa, liderada por Bodil Holst, chegou a conclusão de que, sem óleo no pelo, a força necessária para empurrar um bloco de gelo era quase quatro vezes maior. “É comparável ao melhor ski de corrida que pode comprar”, comenta Holst com a Science. “Isto é fascinante!”, exclama.
Ao recriar a capacidade dos ursos para resistir à formação de gelo, os investigadores esperam desenvolver alternativas mais saudáveis a estes produtos químicos tóxicos que atualmente se utilizam para conferir aos materiais propriedades anti-congelamento.
“Se o fizermos da forma correta, temos a possibilidade de os tornar amigos do ambiente”, afirmou também Holst ao The Washington Post. “Essa é certamente a nossa inspiração”.
Há cada vez mais provas que apontam que os PFAS (substâncias perfluoroalquiladas), os chamados “químicos eternos” por perdurarem muitos anos no ambiente depois de descartados, representam riscos de cancro, infertilidade e outros problemas de saúde para as pessoas, mesmo com baixos níveis de exposição.
“Estou muito entusiasmada por ter conseguido descobrir algo de novo sobre os ursos polares”, diz Holst. “Não estava à espera desta”.