Afinal, D1 e D2 não são rivais: como o cérebro codifica o que é bom e mau

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Cientistas portugueses destacam que estes dois grupos de neurónios tendem a trabalhar juntos perante estímulos bons ou maus.

O cérebro codifica o que é bom e mau. E, até aqui, pensava-se dois grupos de neurónios, os D1 e D2, trabalhavam como rivais nesse processo.

Uma equipa da Universidade do Minho descobriu o contrário: que tendem a trabalhar juntos perante estímulos bons ou maus.

O recente estudo ajuda a perceber melhor o sistema de recompensa, que está disfuncional em doenças como a depressão e adição de substâncias.

Em parceria com a Universidade de Columbia e do Allen Institute (EUA), o estudo foi liderado por Ana João Rodrigues e Carina Cunha, no Instituto de Investigação em Ciências da Vida e Saúde (ICVS) da Escola de Medicina da UMinho.

Os neurónios D1 e D2 situam-se no núcleo accumbens, no interior do cérebro, que apresenta alterações em algumas condições neuropsiquiátricas.

Estes neurónios fazem parte do circuito da recompensa, essencial na sobrevivência das espécies, como quando nos esforçamos pelo que necessitamos e desejamos, desde comida, música ou sexo.

A equipa da UMinho tinha já provado em ratinhos que D1 e D2 são necessariamente rivais a processar estímulos negativos e positivos, pois os D2 também processam estímulos positivos ou de prazer.

Desta vez, lê-se em comunicado enviado ao ZAP, os cientistas foram mais minuciosos e usaram microscópios miniaturizados para seguir centenas destes neurónios em tempo real em roedores expostos a estímulos apetitivos e aversivos.

Demonstrou-se pela primeira vez que os D1 e D2 responderam em conjunto a ambos os estímulos.

De seguida, procurou-se compreender como é que estes neurónios respondiam durante a aprendizagem de associações positivas e negativas, similares à famosa experiência do cientista Ivan Pavlov que condicionou cães a salivar por comida assim que ouviam uma campainha.

Neste caso, os cientistas treinaram os animais para associar um som específico com a entrega de uma recompensa ou um estímulo aversivo.

E os investigadores ficaram surpreendidos ao ver que os D1 e D2 reagiram de forma similar ao longo da aprendizagem, não mudando drasticamente as taxas de resposta.

Adaptação rápida

No entanto, os investigadores alteraram as regras do jogo: o som já não era acompanhado de recompensa ou do estímulo aversivo.

Com um laser de precisão nanométrica que “liga e desliga” neurónios específicos (optogenética), os cientistas mostraram que os D2 eram fundamentais na adaptação à mudança. Ou seja, quando inibiram os neurónios D2, os animais demoravam mais tempo a “compreender as novas regras do jogo”.

Desvendar como o cérebro codifica e responde a pistas externas que predizem algo positivo ou aversivo é crucial para compreender melhor doenças como stress pós-traumático ou depressão.

A mesma pista externa pode desencadear respostas muito diferentes consoante o contexto do indivíduo e das memórias associadas.

Por exemplo, o som de fogo-de-artifício remete para momentos festivos e divertidos, mas para um antigo militar pode gerar uma crise ansiosa, relembrando a guerra, mesmo que ele esteja em ambiente seguro.

A próxima fase do projeto vai tentar encontrar marcadores genéticos que identifiquem os neurónios que codificam algo positivo e aversivo, para perceber o que é que distingue estes subtipos de neurónios.

ZAP //

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