Combustíveis: os apoios do Governo deveriam “expirar” em 2023

Mário Cruz / Lusa

“Antes de culparmos a senhora Lagarde e os juros, vamos culpar o senhor Putin”, considera o economista Ricardo Reis.

As taxas de juro continuam a subir, sobretudo para combater a inflação, mas esse aumento é um obstáculo ao crescimento económico.

A análise é do economista Ricardo Reis, que no entanto avisa que uma eventual recessão na Europa em 2024 não será provocada pelas taxas de juro, mas, sobretudo, pelo aumento dos custos de energia – muito relacionado com a guerra na Ucrânia.

“A causa próxima e maior de uma recessão é o facto de, ainda hoje, o preço da electricidade ser três vezes no mercado grossista o que era antes de o senhor Putin ter invadido a Ucrânia”.

“Portanto, antes de culparmos a senhora Lagarde e os juros, vamos culpar o senhor Putin. A haver uma recessão é culpa do senhor Putin, não é da senhora Lagarde”, continua o economista, no Jornal de Negócios.

Ricardo Reis reforça que Christine Lagarde, presidente do Banco Central Europeu, “não está cá para contrariar o senhor Putin, mas não pode remar no sentido oposto, como costumava fazer e como se fez durante 20 anos”.

A economia da Zona Euro vai crescer menos, a de Portugal também. “Mas ainda estamos longe de haver razão para o pânico. Os dados da economia continuam a ser muito fortes”, assegurou Ricardo.

Em relação à subida do preço dos combustíveis, que o Governo tem suavizado, o economista considera que esses apoios deviam “expirar” no final de 2023. Só deveriam ser prolongados caso o petróleo fique mais caro – algo que ainda não se sabe se vai acontecer.

“Depende muito do que se está a passar no Médio Oriente. E adivinhar a política do Médio Oriente é coisa que não tenho capacidade nenhuma de fazer. Mas, regra geral, e a não ser que aconteça algo extraordinário, os apoios deviam expirar”, repetiu Ricardo Reis.

O especialista explica a sua opinião: “Quaisquer medidas de interferência no sistema de preços numa economia de mercado capitalista têm de ser temporários para alisar mudanças abruptas. Não podem ser permanentes para mudar o que deviam ser os preços do mercado”.

“Isso só vai levar a tensões no mercado, vai levar a problemas orçamentais, vai levar a enormes restrições no funcionamento da actividade produtiva. Como tal, e tendo em conta que os preços aumentaram muito, entretanto baixaram, e agora parece que vão subir um bocadinho, talvez desçam dependendo do que acontece na Arábia Saudita, não me parece que haja argumentos para prolongar esses apoios, mas antes para os deixar expirar”, completou.

ZAP //

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