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Colômbia lança agência para tentar vender casas com um “passado sangrento”

Na Colômbia, uma agência imobiliária com o apoio do Governo está a tentar alugar ou vender casas com um passado sangrento e dar-lhes assim uma nova vida.

Em fevereiro, o Governo da Colômbia lançou uma agência imobiliária online, a Bienes FRV, para tentar vender mais de 1600 casas, apartamentos, quintas e terrenos. Mas, segundo a BBC, não se tratam de propriedades ditas normais.

As casas ou os terrenos em questão já pertenceram a ex-paramilitares da extrema-direita e a guerrilheiros das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), que lutaram entre si durante várias décadas.

O dinheiro conseguido com as propriedades, que se estima que possa chegar a cerca de 120 milhões de euros, será usado para pagar indemnizações às mais de sete milhões de vítimas deste conflito armado.

Em declarações à emissora britânica, Miguel Avendaño, que gere o fundo de reparação monetária da “Unidad para las Víctimas”, explica que algumas das casas são “impossíveis” de vender ou alugar. Por isso, ter este serviço imobiliário “significa mais recursos para as vítimas”.

Desde que começou a pôr estas casas no mercado, no ano de 2018, esta entidade estatal só conseguiu vender 12 das milhares de propriedades à disposição, que foram confiscadas pelo Governo ou que foram sendo entregues pelos grupos armados, que se desmobilizaram nos últimos anos.

Avendaño acrescentou que esta agência imobiliária é uma tentativa de trazer mais transparência ao processo de venda, enquanto tenta também mudar a narrativa do passado sangrento destas propriedades.

É o caso da Mansão Montecasino, em Medellín, que possui, entre outras coisas, 12 quartos, 13 casas de banho, uma banheira pintada a ouro em forma de concha, uma adega, jardins extensos e várias piscinas e fontes.

Os seus antigos donos foram os fundadores daquele que foi o principal grupo paramilitar de extrema-direita da Colômbia – Autodefesas Unidas da Colômbia – e, portanto, serviu como ponto de encontro para planear algumas das piores atrocidades do conflito.

Felizmente, o engenheiro civil Sergio Ortiz conseguiu ver para além do seu passado sangrento e vai tentar fazer com que esta casa consiga finalmente ‘virar a página’.

O colombiano, de 52 anos, que lembra que a sua família também foi vítima deste conflito armado, espera alugar o imóvel e transformar o seu terreno num parque que será aberto ao público. Se a sua oferta for aceite, Ortiz quer também transformar a casa num centro de fisioterapia e um prédio adjacente num centro de música.

“Esta é a nossa forma de ajudar o nosso país, gerando um espaço de paz e tranquilidade”, afirmou à BBC.

No entanto, embora estas propriedades nas principais cidades sejam relativamente seguras, adquirir outras que ficam em áreas mais rurais e onde os grupos armados dissidentes continuam a operar, pode ser uma decisão arriscada.

Segundo a emissora britânica, houve casos em que as pessoas foram forçadas a deixar as suas novas casas e outras situações em que potenciais compradores foram ameaçados e acabaram mesmo por desistir.

Contudo, Avendaño espera que, à medida que o tempo passa e que mais propriedades sejam transformadas em casas ditas normais, esta questão seja cada vez menos um problema. E a verdade é que, desde o lançamento da imobiliária, há cerca de dois meses, já foram vendidos 10 imóveis.

Filipa Mesquita, ZAP //

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