Banda britânica estreou-se em Portugal há 23 anos. Na altura, actuou às 18h e nem era “cabeça de cartaz”. Como as coisas mudam…
Estávamos em Agosto de 2000. O Festival Paredes de Coura, um festival repleto de apostas e na altura ainda um “novato” no panorama musical, apresentava o seu cartaz.
Víamos nomes lusos como Clã, Jorge Palma ou Mão Morta, ao lado dos The The, Flaming Lips ou Mr Bungle.
Lá pelo meio apareciam os Coldplay, um grupo formado três anos antes e que ainda estavam a (começar a) atingir sucesso internacional naquele Verão, graças ao single Yellow e ao seu álbum Parachutes – lançado apenas um mês antes.
Coldplay não era o nome “cabeça de cartaz”. Nem de perto.
Actuaram a 13 de Agosto de 2000, ainda de dia; começaram às 18 horas e só pediram “fruta, água, algumas bebidas, sanduíches diversas… Nada de especial comparado com outras bandas”, recorda Vítor Paulo Pereira, na altura organizador do festival, hoje presidente da Câmara Municipal de Paredes de Coura.
Na rádio TSF, Vítor Paulo Pereira conta que, na altura, viu qualidade em Chris Martin e companhia, mas admitiu que ninguém fazia ideia de que aqueles eram os primeiros passos de uma das bandas com mais fãs do planeta.
“Quando eles vieram a Paredes de Coura em 2000 já se via que tinham qualidade. Agora chegar ao estatuto de uma banda que arrasta multidões, como é o caso de hoje em dia, isso ninguém vaticinava, penso eu”, comentou o autarca.
Nessa altura, eram “os novos U2” ou “os novos Radiohead” – os Radiohead pré-2000, diga-se.
No palco de Paredes de Coura (e nos outros de então) estiveram duas guitarras, um baixo e uma bateria. Além da voz, claro. Uma banda de garagem, quase. Num tom algo melancólico, até – basta ouvir o CD Parachutes.
No ano seguinte, 2001, voltaram a Portugal: Optimus Alive, Oeiras.
Em 2005 estiveram nos famosos MTV Europe Music Awards, realizados no Pavilhão Atlântico, Lisboa – já nessa altura o estatuto era outro e o grupo ganhou o prémio de melhor música do ano, com Speed of sound.
23 anos depois da sua estreia em Portugal… a loucura.
Os Coldplay actuam hoje, amanhã, sábado e domingo no Estádio Cidade de Coimbra. Serão quatro concertos em cinco dias, entre quarta-feira e domingo. Com folga na sexta-feira.
Em Agosto do ano passado, foi anunciado apenas um concerto (o de hoje, 17 de Maio). Mas nas três horas seguintes foram anunciados mais três concertos em Coimbra – estratégia de marketing, já se sabe.
Mas a estratégia só resulta se houver procura. E este foi o concerto com mais bilhetes vendidos em pouco tempo, em Portugal. Os ingressos mais baratos custam (custavam) 65 euros, enquanto os mais caros atingiam 500 euros.
A Ticketline admitiu nessa altura que este cenário foi inédito em Portugal, nunca houve tanta procura para um evento no país.
Porquê?
Para já, os Coldplay conseguiram algo invulgar na música: em cada um dos seus primeiros álbuns, deixaram vários singles na cabeça das pessoas. Excluindo o seu primeiro EP, Safety – lançado como grupo independente, ainda.
Estamos a falar de Yellow, Trouble, In my place, o já mencionado Speed of sound, Fix you ou Viva la vida, entre outras. Ou Paradise e Something just like this, mais tarde.
Agora chegamos à digressão mundial Music of the Spheres – o nome do nono álbum, lançado em 2021.
E um concerto dos Coldplay não é só música: há três palcos, é um espectáculo multimédia, com muita cor, com as pulseiras famosas. É “tudo em todo o lado ao mesmo tempo”, como se diz no filme, citou o especialista Tiago Pereira, na rádio Observador.
No fundo é um “circo” – sem chegar ao nível da Eurovisão, diríamos.
Além disso, “muita gente sabe as músicas deles de cor e nem sabe muito bem porquê. As canções passam com tanta intensidade que ficam na cabeça“, descreveu Tiago.
Agora chegam a Coimbra. Uma cidade no centro do país, com comboio, com um estádio e com acordo (polémico) com a Câmara Municipal local.
Os responsáveis de cafés, restaurantes e hotéis locais estão entre o entusiasmo e o desespero: Coimbra tem 135 mil habitantes e recebe mais de 200 mil pessoas nesta semana.
O caos no trânsito, nas ruas e na cidade no geral, agrava-se porque está a decorrer a Queima das Fitas em Coimbra e obras no metro.
Na vinda a Portugal o Brexit fez diferença. Diversos músicos do Reino Unido estão a ter problemas em sair do país porque, agora, atravessar a Europa é mais complicado a nível burocrático e os custos são outros (tal como acontece com estrangeiros que querem tocar no Reino Unido).
Por isso, os Coldplay preferem uma maior concentração de locais, com vários concertos no mesmo sítio em dias consecutivos.
Olá Coimbra! #ColdplayCoimbra pic.twitter.com/3PzcmvplEg
— Coldplay (@coldplay) May 17, 2023
Vítor Paulo Pereira, organizador do Festival Paredes de Coura em 2000, confessa que gostava mais dos Coldplay naquela altura.
Estou como o Vitor Paulo Pereira, também prefiro (de longe) os Coldplay dos primeiros anos. Vi-os no ex-Pavilhão Atlântico e valeu a pena. Mas desde o álbum Viva La Vida, tornaram-se em mais uma banda pop comercial, como tantos outros artistas populares mas de pouca originalidade e qualidade. Pelo menos os Radiohead seguiram outro caminho…
Festival Paredes de Coura “na altura ainda um “novato” no panorama musical” ???
Já nessa altura era dos mais antigos e consistente…. Existe desde 1993