Nos sul do delta do rio Kikori, na Papua-Nova Guiné, um próspero comércio ilegal está a desenvolver-se sem ser detetado, atraindo o crime organizado e ameaçando a vida marinha.
O produto procurado? A bexiga natatória de certos peixes de grande porte, que se tornou um artigo de luxo nos mercados asiáticos, nomeadamente na China, onde é apreciada como iguaria culinária e medicina tradicional.
Conhecida como a “cocaína dos mares”, o elevado valor de mercado da víscera de peixe – que por vezes atinge os 14.250 euros por quilograma – atraiu a atenção de redes criminosas, transformando as zonas de pesca num centro de atividades ilegais e não regulamentadas.
Ao longo dos últimos 25 anos, o comércio global de bexiga natatória disparou, ultrapassando outros produtos marinhos de luxo como a barbatana de tubarão e o pepino do mar. Nalgumas partes do mundo, este comércio conduziu à quase extinção de espécies-chave.
Na Papua Nova Guiné, os pescadores locais são atraídos pela promessa de lucros que mudam as suas vidas. No delta do Kikori, muitos abandonaram os métodos de pesca tradicionais, optando por técnicas mais rápidas e destrutivas, como a utilização de redes de emalhar, fornecidas por empresas de marisco com ligações duvidosas.
Estas redes capturam indiscriminadamente tudo o que se encontra no seu caminho, incluindo espécies ameaçadas de extinção, como tubarões, raias e golfinhos. Como resultado, ecossistemas inteiros estão a ser postos em risco, observa a revista Nature.
O crescimento explosivo deste mercado não só prejudicou o ambiente como também criou uma atmosfera de “corrida ao ouro” na região. Com uma supervisão governamental limitada e uma aplicação deficiente dos regulamentos de pesca, os grupos criminosos entraram em ação, oferecendo quantias surpreendentes de dinheiro em troca destas vísceras de peixe, em especial da apreciada corvina.
A falta de regulamentação e conhecimento dos órgão de governação “está a criar uma espécie fronteira de cowboys”, alerta Yvonne Sadovy, especialista em pescas de Hong Kong.