Uma tragédia anunciada em Janeiro. Cinzas do vulcão de La Palma a caminho de Portugal

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Carlos de Saa / EPA

Vulcão, La Palma

Erupção do vulcão Cumbre Vieja em La Palma, nas Canárias.

A lava do vulcão Cumbre Vieja continua a cobrir La Palma, nas Canárias, e já destruiu mais de 300 casas. Enquanto as cinzas vulcânicas se estão a deslocar para a Península Ibérica, surge a notícia de que uma equipa de investigadores alertou, em Janeiro, para o risco de uma erupção.

Com mais de 6 mil pessoas evacuadas e mais de 300 edifícios destruídos, La Palma continua chocada com o avanço da lava do vulcão Cumbre Vieja. Mas a erupção não foi propriamente uma surpresa.

O jornal El País refere que, em Janeiro passado, um grupo de investigadores publicou um “trabalho científico” que alertava para a possibilidade de uma erupção no Cumbre Vieja. Um dado que não terá sido valorizado pelas autoridades da ilha.

Enquanto a lava segue o seu caminho rumo ao mar, destruindo tudo, a população começa a preocupar-se com eventuais chuvas ácidas e com os gases tóxicos. Mas, neste momento, não há razões de preocupação, segundo as autoridades espanholas.

O sub-tenente José Antonio Gamarra, da Unidade Militar de Emergências (UME) que foi destacada para a ilha, revela à agência EFE, conforme cita o El Mundo, que “a problemática é com o gás que está a sair agora, que é um gás virgem, ainda não se depurou, não teve contacto com a atmosfera, mas, em princípio, as análises estão a dar negativo”.

Portanto, “não há risco para a população”, salienta Gamarra.

O Instituto Geológico de Espanha prevê que as cinzas comecem a chegar à Península Ibérica nas próximas horas.

Na sexta-feira, devem chegar ao território de Portugal, mas as concentrações de dióxido de enxofre que carregarem, na altura, não serão um risco para a saúde, segundo alguns especialistas.

Engolir “vidro vulcânico”

O vulcanologista José Luis Barrera, que integra a associação de geólogos espanhóis, alerta que as cinzas em altas concentrações podem ser “um grave problema de saúde”, porque as pessoas acabam por as engolir “sem perceberem”, o que pode “causar problemas de garganta e toxicidade muito importante”, conforme declarações divulgadas pelo El Mundo.

“Essa cinza é feita de silicatos, ferro e magnésio, na verdade é magma do vulcão que se transforma, em contacto com o ar frio, no que se chama de vidro vulcânico, e não é como se comesse pão ralado, mas uma coisa bastante perigosa“, acrescenta.

A protecção contra as cinzas deve ser feita com o uso de máscara, “além de cobrir o máximo possível os olhos, que também podem sofrer com a entrada desses silicatos, que são muito tóxicos para o corpo humano“, conclui o vulcanologista.

Portuguesa teve que ser evacuada

A lava já cobre mais de 166 hectares de terreno e já destruiu 350 edifícios, muitos dos quais moradias, de acordo com dados da imprensa espanhola.

12 portugueses a residir na ilha, segundo apurou a RTP1 junto da Secretária de Estado das Comunidades Portuguesas, Berta Nunes.

A governante revela que “uma portuguesa que estava no trajecto da lava já teve que ser evacuada, ela própria saiu de casa e foi para casa de uma familiar”.

Todos os portugueses na ilha estão bem, segundo a mesma fonte.

Nesta altura, o vulcão entrou numa zona de “mini-estabilidade”, segundo os especialistas, mas continua a ser “bastante explosivo”. Mas a lava está agora a correr de forma mais lenta, a cerca de 4 quilómetros por hora.

Entretanto, há várias estradas encerradas e o aeroporto também pode vir a ser fechado, para evitar acidentes aéreos por causa da falta de visibilidade devido à nuvem de fumo que se alastra pelos céus.

Na zona de costa para onde a lava se encaminha, também foi restringida a circulação de barcos.

Lava está a destruir o “ouro” de La Palma

Os especialistas não conseguem prever quanto tempo vai durar a erupção. “Não somos adivinhos, é impossível saber“, refere o especialista em Geologia da Universidade de Salamanca, Pablo Gabriel Silva Barroso, em declarações ao El Mundo.

Pode continuar por “uns dias, umas semanas” ou mais, aponta ainda Barroso.

O Instituto Vulcanológico das Canárias já revelou que seria “aceitável” que durasse durante entre “24 e 84 dias”.

No meio da tragédia, já há quem vá fazendo contas à vida, nomeadamente no caso dos produtores de banana, que é o “ouro” de La Palma. O vulcão está a destruir a produção deste ano e a lava tornará os terrenos inférteis, o que complicará e muito a economia local.

Entretanto, há quem tenha visto “o trabalho de uma vida queimado”, conforme desabafos feitos aos media espanhóis por pessoas que perderam as suas casas.

Susana Valente, ZAP //

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6 Comments

  1. Caros Senhores ZAP,
    creio que, por plátano (penúltimo parágrafo) se refiram a bananas, certo?
    Ora, corrijam lá, por favor, se não for muito incómodo.

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