Está sempre a adiar as suas tarefas? Ou não consegue concentrar-se totalmente no que precisa fazer, deixando a mente vaguear?
Nos EUA, Boston Attention and Learning Lab dedica-se a estudar e “curar” esse tipo de problema, tentando treinar e educar o cérebro a concentrar-se melhor.
As técnicas ali desenvolvidas ajudam pessoas que não conseguem concentrar-se devido a danos cerebrais, doenças ligadas a traumas (transtorno de stress pós-traumático) ou défice de atenção (Transtorno do Défice de Atenção com Hiperatividade, ou TDAH).
Será que uma pessoa fora dessas circunstâncias extremas também pode beneficiar das novas técnicas?
O neurocirurgião Joe DeGutis, que trabalha no laboratório, mostra-se cético com a proposta. “É difícil melhorar o funcionamento já comum para torná-lo algo acima da média ou de nível superior, apesar de algumas empresas de treino de cérebros tentarem vender isso.”
Mas talvez exista esperança para pessoas simplesmente distraídas, que costumam interromper constantemente o que estão a fazer para conferir o Facebook ou tomar um cafezinho a meio do trabalho. Estudos nos EUA apontam que isso acontece com 80% dos estudantes e 25% dos adultos.
Com o surgimento de novas distrações, como smartphones, tudo piora, e com prejuízo à saúde mental – com mais doenças, stress e conflitos nas relações. Para o psicólogo Tim Pychyl, procrastinação é um problema emocional. Diante do stress, as pessoas resolvem dar-se “um pequeno presente” imediato, que leva a adiar a concretização das tarefas, mesmo que isso os venha a prejudicar no futuro.
Áreas do cérebro
A mudança está toda no cérebro. Os investigadores do Boston Attention and Learning Lab trabalham para melhorar as ligações entre duas regiões do cérebro: o córtex pré-frontal (acima dos olhos, que nos ajuda a tomar decisões) e o córtex parietal (atrás dos ouvidos, e que coordena nossas sensações).
Juntos, eles formam a rede de atenção dorsal, que é a parte do cérebro que trabalha quando estamos concentrados numa tarefa. Para que essa rede funcione bem, é preciso “desligar” outra parte do cérebro conhecida como “rede de modo default” – responsável pela criatividade, pelo ócio ou por “viajar” com a mente.
Alguns testes mostram que as pessoas com problema de concentração estão a usar a parte esquerda do cérebro – que é a menos eficiente para este tipo de tarefas que requerem concentração.
Controlando as “viagens” da mente
Uma das experiências do Boston Attention and Learning Lab é usar um pulso magnético fraco para tentar desacelerar o “campo de olho frontal” – uma região na parte esquerda do cérebro. Com isso, a parte direita – responsável pela concentração – trabalharia mais.
A jornalista da BBC Caroline Williams fez a experiência e percebeu que começou a melhorar os resultados nos testes de concentração. Antes da aplicação do pulso magnético, a mente vagueava: como escreveria a reportagem, como estariam os filhos, ou se deveria beber cerveja ou vinho ao fim do dia.
Para o neurocirurgião DeGutis, isso é um grande avanço. Estar ciente do que se está a pensar é conhecido na psicologia como “metaconsciência” – e é uma ferramenta útil para quem está a tentar controlar uma mente que “viaja longe”.
“Todos os que passam por este treino descobrem que estão num estágio em que ficam um pouco mais metaconscientes. Estão a cumprir as suas tarefas e conseguem perceber que estão a pensar em outras coisas”, diz o neurocirurgião.
Sara Lazar, neurocientista em Harvard, descobriu algo semelhante nos seus estudos, ao identificar outra parte do córtex que facilita que a mente “viaje”, o córtex cingulado posterior. Quanto maior o controlo que exercemos sobre essa parte do cérebro, mais nos conseguimos concentrar.
Será possível, então, mudar a nossa mente em poucos dias para se concentrar melhor? “Não estruturalmente, mas sim funcionalmente – na forma como se conhece e trabalha com o próprio cérebro”, diz DeGutis.
ZAP / BBC